Venezuela enfrenta incêndios florestais recordes durante seca na Amazônia

Publicado 01.04.2024, 16:14
Atualizado 01.04.2024, 16:15
© Reuters. Árvores queimadas no Parque Nacional Henri Pittier, em Maracay, na Venezuela
30/03/2024
REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

Por Jake Spring e Mircely Guanipa e Maria Ramirez

SÃO PAULO/MARACAY, Venezuela (Reuters) - A Venezuela está combatendo uma quantidade recorde de incêndios florestais, segundo dados divulgados nesta segunda-feira, com uma seca provocada pelas mudanças climáticas afetando a região da floresta amazônica.

Satélites registraram mais de 30.200 pontos de incêndio na Venezuela entre janeiro e março, o maior patamar para esse período desde que os registros começaram em 1999, segundo a agência de pesquisas brasileira Inpe, que monitora toda a América do Sul.

Isso inclui incêndios na Amazônia e também em outras florestas e pradarias do país.

Incêndios causados pelo homem, geralmente criados para limpar a terra para agricultura, estão saindo do controle por causa das altas temperaturas e baixos níveis de chuva na região norte da América do Sul, e também por uma falta de planejamento de prevenção, dizem os pesquisadores. Cientistas culpam as mudanças climáticas e o El Niño, um aquecimento natural no leste do Pacífico que altera padrões climáticos globais, pela seca.

Embora a temporada chuvosa tenha gerado alívio nos últimos meses na Amazônia brasileira, mais ao sul, os incêndios na Venezuela podem ser um sinal preocupante do que está por vir quando a temporada de seca chegar, disse Manoela Machado, pesquisadora de incêndios da Universidade de Oxford.

“Tudo indica que veremos outros incêndios catastróficos: megaincêndios enormes em tamanho e altura”, disse Machado.

Os incêndios mais intensos da região geralmente ocorrem no Brasil em agosto e setembro, ao longo do extremo sudeste da Amazônia, onde o desmatamento para agricultura é mais agressivo.

O clima mais quente e seco que tem alimentado incêndios na Venezuela também está impulsionando incêndios em Roraima, no outro lado da fronteira, ameaçando as reservas indígenas do Estado brasileiro.

Venezuela e Roraima tiveram apenas 10% e 25% dos seus níveis normais de precipitação nos últimos 30 a 90 dias, disse Michael Coe, diretor do programa dos trópicos do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, sediado nos Estados Unidos.

A região está em um ciclo vicioso em que as mudanças climáticas contribuem para condições secas e quentes que agravam os incêndios, e esses incêndios emitem gases de efeito estufa que impulsionam as mudanças climáticas, disse José Rafael Lozada, engenheiro florestal e professor aposentado da Universidade de Los Andes, em Mérida, na Venezuela.

Apesar de uma abundância de informações rastreando incêndios e sinalizando os riscos climáticos que estão por vir, os governos da região não estão conseguindo compor uma resposta robusta para prevenir e combater os incêndios, disse Machado, da Universidade de Oxford.

Os governos deveriam proibir que incêndios sejam provocados durante períodos secos, organizar respostas mais rápidas e direcionada para interromper os incêndios antes que eles saiam do controle e contratar bombeiros durante todo ano e não apenas temporariamente, disse.

© Reuters. Árvores queimadas no Parque Nacional Henri Pittier, em Maracay, na Venezuela
30/03/2024
REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

Na Venezuela, bombeiros e ambientalistas disseram que a resposta do governo é insuficiente.

O Ministério da Informação e o serviço de parques da Venezuela não responderam a pedidos por comentários.

(Reportagem de Jake Spring, em São Paulo; Mircely Guanipa, em Maracay, Venezuela; Maria Ramirez, em Puerto Ordaz, Venezuela; Tibisay Romero, em Valencia, Venezuela; Reportagem adicional de Vivian Sequera e Mayela Armas, em Caracas)

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