Por Olena Harmash e Tom Balmforth
KIEV (Reuters) - O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse nesta terça-feira que a guerra com a Rússia acabaria em diálogo, mas que Kiev tem que estar em uma posição forte e que apresentará um plano ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a seus dois possíveis sucessores.
O líder ucraniano disse em uma entrevista coletiva que a incursão de três semanas de Kiev na região russa de Kursk faz parte desse plano, mas que ele também incluía outras medidas nas frentes econômica e diplomática.
"O ponto principal desse plano é forçar a Rússia a encerrar a guerra. E eu quero muito isso -- (que seja) justo para a Ucrânia", disse, a repórteres em Kiev, sobre a guerra iniciada pela invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
Ele não deu mais detalhes sobre as próximas etapas, mas disse que também discutiria o plano com a vice-presidente dos EUA e candidata democrata à Presidência, Kamala Harris, e provavelmente também com o postulante republicano, Donald Trump.
Zelenskiy disse que espera ir aos Estados Unidos em setembro para participar da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, e que está se preparando para se encontrar com Biden.
Seus comentários indicaram que ele vê uma cúpula internacional de acompanhamento sobre a paz como o possível principal fórum para conversas, na qual a Ucrânia afirmou que quer que a Rússia tenha representantes.
A primeira cúpula para promover a visão de paz de Kiev, realizada na Suíça em junho, excluiu a Rússia e atraiu dezenas de delegações, mas nenhuma da China, a segunda maior economia do mundo, apesar do esforço de Kiev para convencer o Sul Global.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse em 19 de agosto que negociações estão fora de questão após a Ucrânia lançar uma grande incursão entre fronteiras na região russa de Kursk em 6 de agosto.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que esteve em Kiev na semana passada, conversou por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nesta terça-feira e lhe disse que apoiava uma solução rápida e pacífica para o conflito na Ucrânia.
"NENHUMA CONCESSÃO A PUTIN"
Zelenskiy tem sido irredutível ao afirmar que a Rússia quer ditar os termos para a Ucrânia em qualquer solução para a guerra, o que Kiev considera inaceitável.
Putin disse que qualquer acordo precisa começar com a aceitação, por parte da Ucrânia, das "realidades no terreno", o que deixaria a Rússia com a posse de partes substanciais de quatro regiões ucranianas, além da Crimeia. Atualmente, a Ucrânia diz que controla mais de 1.200 quilômetros quadrados da região russa de Kursk.
"Não pode haver concessões com Putin, o diálogo hoje é, em princípio, vazio e sem sentido, porque ele não quer acabar com a guerra diplomaticamente", disse Zelenskiy na entrevista coletiva.
Ele disse que a ofensiva na região de Kursk reduziu o número de governos ao redor do mundo pedindo que a Ucrânia faça concessões à Rússia para encerrar a guerra e abrir mão de grandes extensões de território.
No campo de batalha, Zelenskiy zombou de Putin, que, segundo ele, está priorizando a captura de terras ucranianas em detrimento da defesa do próprio território russo.
Ele apontou para a região de Kursk, onde a Ucrânia reivindicou a captura de 100 vilarejos, enquanto forças russas continuam avançando na região de Donetsk, no leste da Ucrânia.
O líder ucraniano também disse que Kiev continua a progredir em sua produção doméstica de armas e que realizou seu primeiro teste de um míssil balístico produzido internamente.
(Reportagem de Olena Harmash, Yuliia Dysa e Pavel Polityuk)