Nota do Editor: este artigo foi originalmente publicado em inglês no site Investing.com. O autor indica opções de investimentos que não estão disponíveis no mercado brasileiro. Apesar disso, optamos por publicar em português o texto na íntegra para os nossos leitores.
Introdução
No inverno de 2008, eu era professor na Universidade de Palermo (UP), em Buenos Aires. Nós estávamos num prédio alto observando o porto e notei uma grande quantidade de navios parados. Isso ocorria em todo o mundo porque as letras de crédito de bancos de carga não estavam sendo aceitas por outros bancos. Era o início do que se tornou a maior crise desde 1929.
No ano seguinte, pedi aos meus alunos da UP que escrevessem textos sobe como os maiores países da América do Sul estavam lidando com a crise. Naquele momento, os países poderiam ser separados em três grupos: Chile, México e Peru lidando bem, Brasil e Colômbia estavam OK, enquanto Argentina, Equador e Venezuela estavam com sérios problemas. Eu disse o seguinte sobre o Brasil.
O Brasil está no caminho de se tornar uma das economias mais fortes do mundo. Com uma densidade populacional baixa (22,5 pessoas por km²) comparado à China (141,7 pessoas/km²) e Índia (380,0 pessoas/km²) e recursos naturais abundantes, o futuro é brilhante.
Muito para a precisão de minhas previsões. Nos parágrafos a seguir, eu observo as projeções econômicas para esses países a partir de uma perspectiva de 2016.
Taxas de crescimento
A Tabela 1 mostra o crescimento real do PIB dos países da América Latina selecionados, listados pela projeção de crescimento para 2016. Três países – Brasil, Equador e Venezuela – estão com problemas por razões apresentadas abaixo. Como já abordei em artigo recente, há uma renovação da esperança na Argentina: enquanto o consenso das previsões do FocusEconomics é otimista para o país em 2017, eles acreditam que 2016 será de baixo crescimento em razão de “ajustes de alocação de recursos”.
Tabela 1 – Crescimento real do PIB para países selecionados da América Latina
Fonte: FocusEconomics
Nos parágrafos abaixo, examino as razões para essas projeções da taxa de crescimento.
Exportações
Considere a seguir a performance de exportação dos países da América Latina (Tabela 2). Existem diversos fatores em jogo aqui, entre os quais, possivelmente são chave, a desaceleração da China e a queda dos preços das commodities.
Tabela 2 – Percentual de mudança nas exportações, países da América Latina
Fonte: FocusEconomics
O senso comum é que os problemas recentes dos países da América Latina vêm da redução do crescimento na China e o declínio dos preços das commodities. A Tabela 3 apresenta as características das exportações dos países. Ela sugere que a explicação do senso comum está longe de ser completa. A primeira coluna à esquerda indica o quanto é importante as exportações para o país. Elas são bastante significativas para México e Chile. A coluna seguinte mostra a importância da exportação de commodities. Elas são bastante importantes para cinco países, menos para Argentina e Brasil. México aparenta ter a maior variedade de produtos de exportação. A coluna a seguir mostra a concentração de mercado das exportações – qual fatia de exportação vai para os TOP 5 países importadores. Equador, México e Venezuela vendem para um número muito limitado de países.
As duas colunas finais mostram a importância da China e dos Estados Unidos como importadores dos países da América Latina. China é muito importante para Brasil e Chile, mas menos para a Argentina. Obviamente, nem todos os problemas da Argentina podem ser culpa da redução do ritmo de demanda chinesa. Alguns podem dizer que os EUA deveriam estar melhores. Mas mantenha em mente, FocusEconomics estima que o crescimento da China será de 6,5% em 2016, contra apenas 2,1% nos EUA.
Tabela 3 – Características das Exportações da América Latina, 2014
Fonte: UNCTAD, State of Commodity Dependence, 2014
A contribuição da China paras as mudanças nas exportações da América Latina podem ser vistas na Tabela 4, na qual é apresentada a flutuação nas importações chinesas. Claramente, Argentina, Brasil e Venezuela são fortemente abalados com as reduções recentes, enquanto as exportações do Equador para a China tiveram grandes variações.
Tabela 4 – Variação nas exportações para a China, 2007-2014 em US$
Fonte: UNCTAD, State of Commodities Dependence, 2014
Commodities
O arrefecimento da demanda chinesa e outros fatores geraram um colapso dramático nos preços das commodities. A Tabela 5 indica como esse declínio foi relevante. A coluna da direita apresenta a participação do mercado global de exportação dos países cobertos nesta análise. Brasil representa um papel importante em diversas commodities e foi abalado pelos declínios. Obviamente, o outro lado desta moeda é que com o crescimento da população mundial, a maioria, senão todos, os preços vão se recuperar.
Tabela 5 – Variação nos preços das commodities, 2012 – 2016
Fonte: FocusEconomics
Enfrentamento
Um bom teste para a força dos países da América Latina é o quão bem os seus governos estão lidando com essas reduções nas exportações. A retração diminui a entrada de recursos no país e nas receitas governamentais. A Tabela 6 mostra o que está acontecendo com os déficits e as dívidas públicas. Em padrões internacionais, as dívidas desses países são bem baixas.
Olhando para os déficits, o Peru, Chile e México estão enfrentando bem. Na Argentina, o novo presidente melhorou as esperanças por uma mudança. Os problemas do Equador são exacerbados pelo fato de que eles utilizam o dólar como sua moeda. Isso significa que o governo pode literalmente ficar sem dinheiro. E toda reserva internacional do Equador caiu para apenas 1,5 mês de importação.
Brasil está lidando com severas crises políticas e econômicas. A Venezuela é uma tragédia. Sua reserva provada de óleo é a maior entre todos os países do mundo. Apesar disso, a má gestão governamental provocou grande dificuldade econômica para seus cidadãos, com taxa de inflação de mais de 200%.
Tabela 6 – Finanças públicas, países da América Latina
Fonte: FocusEconomics
Uma boa indicação de como o mundo vê esses países é o spread no mercado de títulos de dívida desses países – risco-país, que considera o quanto o governo tem de pagar a mais de spread em relação aos títulos do governo dos EUA – 100 pontos = 1%. Não é surpreendente que o risco do México é o menor, refletindo seu mercado de capital desenvolvido e a diversidade de suas exportações. Por razões já apresentadas, o risco-Brasil cresceu dramaticamente. E, assim como suas gigantescas reservas de petróleo, o risco-Venezuela é gigantesco, refletindo uma falta de confiança generalizada em seu governo.
Tabela 7 – Risco país
Fonte: FocusEconomics
Investimento
N.E: o autor indica investimentos que não estão disponíveis no mercado brasileiro.
É bem-conhecido que todos esses países têm sido abalados pela redução na demanda chinesa e a queda do preço das commodities. Teremos uma reversão no futuro. Então, é o momento de se considerar investir em algum desses países? A Tabela 8 apresenta alguns ETFs e fundos de investimento selecionados. O maior preço por lucro para a Argentina (Global X MSCI Argentina (NYSE:ARGT)) sugere que a possibilidade de recuperação já está precificada. Peru (pela iShares MSCI All Peru Capped (NYSE:EPU)), tende a ter um desempenho acima do mercado. Um investimento conservador seria em um fundo ou ETF de América Latina. A iShares Latin America 40 (NYSE:ILF)) tem o rendimento mais atraente.
Tabela 8 – Veículos de Investimento na América Latina
Fonte: Yahoo Finance
E tem o Brasil (iShares MSCI Brazil Capped (NYSE:EWZ)). Olhe novamente a Tabela 5 e a participação do Brasil nas exportações globais das seguintes commodities: minério de ferro – 18,4%, Milho – 8,4%, Etanol – 27,4%, Soja – 30,2%, Açúcar – 20,5%, Café – 35%, Algodão – 5,9%, Cacau – 5,5%. A demanda de todas essas commodities vão aumentar com o crescimento da população e renda do mundo. E sim, pelo menos por agora, o Brasil possui sérios problemas políticos.
O iShares Brazil ETF possui 3,23% de rendimento e um baixo preço por lucro. Como um investimento de longo prazo, deve ser considerado.