- A previsão de resultados da Apple para o 2º tri de 2022 mostra um declínio na receita e no lucro por ação, indicando uma vulnerabilidade a um ambiente macroeconômico desafiador.
- Ainda assim, o grande volume de caixa da companhia e a baixa expectativa de lucro por ação (LPA) podem eventualmente promover uma alta em suas ações no curto prazo.
- Vamos analisar a fundo os números financeiros da companhia usando o InvestingPro.
Após uma onda de resultados financeiros acima das expectativas das empresas de tecnologia, fazendo com que o S&P 500 registrasse seu melhor mês desde janeiro, a maior empresa do setor no mundo, a Apple (NASDAQ:AAPL), pode ser responsável pelo momento “tudo ou nada” para o qual o mercado vem se preparando já faz algum tempo.
A gigante da tecnologia divulgará seus resultados para o 2º tri fiscal de 2022 amanhã, após o fechamento do mercado, e os analistas preveem um recuo de 4,6% anual (a/a) na receita e de 6% a/a no LPA.
Esses números mostram que nem mesmo a Apple (BVMF:AAPL34) está imune aos ventos contrários gerados pelo atual ambiente macroeconômico. O anúncio ocorre no momento em que a companhia se prepara para lançar os novos modelos do iPhone, que devem vir com preços “premium".
À medida que o ciclo de aperto do Federal Reserve chega ao final, sem qualquer indicação de mudança de postura do banco central americano no curto prazo, é essencial avaliar os impactos dos custos de capital mais elevados na saúde financeira das principais multinacionais, a fim de tentar antecipar a próxima direção do mercado.
Utilizando a plataforma InvestingPro, vamos analisar de forma mais profunda os números financeiros da Apple, no intuito de compreender melhor qual é a sua situação neste momento. Os leitores podem fazer o mesmo para praticamente qualquer empresa do mercado, basta acessar este link.
Dados financeiros da Apple
Os usuários do InvestingPro já sabem que a Apple sofreu dezenove revisões negativas para a expectativa de LPA nos últimos 90 dias, contra apenas dez positivas, o que significa que os analistas estão precificando uma possibilidade maior de uma surpresa negativa nesta quinta-feira.
Fonte: InvestingPro
Uma das principais razões para essas revisões é o impacto negativo da redução dos gastos dos consumidores sobre a receita da Apple. Apesar do sólido desempenho financeiro da companhia nos últimos anos, crescem as preocupações de que os preços mais elevados dos seus produtos possam se tornar menos atraentes aos consumidores em um cenário econômico mais adverso.
Fonte: InvestingPro
Além disso, o fraco desempenho em serviços para os consumidores, como o Apple Music e o TV+, pode restringir sua capacidade de melhorar as taxas de crescimento no segmento.
Essa é a razão pela qual o avalia que a empresa está sendo negociada com um prêmio, já que a média das estimativas de preço justo dos analistas mostra um potencial de queda de 11,4% para os próximos 12 meses.
Fonte: InvestingPro
Por outro lado, a gigante da tecnologia conseguiu manter o crescimento das suas margens, beneficiando-se de uma combinação de inflação mais alta com uma atividade econômica mais resiliente.
Fonte: InvestingPro
O gráfico acima é uma das métricas que os investidores devem ficar de olho quando a empresa divulgar nesta quinta-feira seu desempenho no último trimestre. Uma compressão das margens da Apple poderia indicar que a economia dos EUA está cada vez mais próxima de um cenário de estagflação.
Outro ponto importante é a nota de saúde financeira da Apple. Embora a métrica permaneça positiva em relação à saúde do lucro, momento do preço e fluxo de caixa, o valor relativo mostra uma significativa compressão, o que significa que a companhia pode estar muito cara no momento.
A razão para isso é o valor mais alto para EV/EBITDA (valor empresarial sobre resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e PB/ROE (preço/valor patrimonial pelo retorno sobre o patrimônio líquido).
Fonte: InvestingPro
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É preciso ressaltar que os fluxos de caixa da companhia registram tendência de baixa desde o fim de 2021, devido aos juros mais elevados.
Fonte: InvestingPro
Por outro lado, a Apple continua sendo a empresa com o maior nível de reservas em caixa, com cerca de US$ 54 bilhões em caixa líquido. Embora o volume de caixa venha caindo, a expectativa dos investidores é que o próximo balanço da Apple revele um aumento tanto na autorização para recompra de ações como em distribuição de dividendos, o que pode fazer com que suas ações subam no curto prazo.
A Apple também tomou medidas para se beneficiar do atual ambiente de juros mais altos. A nova conta de poupança de alto rendimento da empresa teria atraído US$ 1 bilhão nos primeiros quatro dias de operação.
Além disso, o Ebitda da empresa registra tendência de alta desde que tocou o topo em setembro do ano passado.
Por fim, embora os esforços da empresa em expandir seus negócios na Índia ainda possam levar algum tempo para gerar resultados, representa uma avenida de crescimento que pode ajudar a sustentar sua relação P/L de 28x por mais tempo.
Fonte: InvestingPro
Conclusão
Embora a Apple ainda possa ser considerada uma empresa segura para se investir, não acredito que seja um bom momento para avaliar uma compra das suas ações antes da apresentação dos resultados, devido ao seu atual prêmio elevado e também ao encolhimento das suas margens. Salvo em caso de uma mudança de postura do Fed, é bem possível que as finanças da companhia caiam junto com a economia geral, o que pode permitir que os investidores consigam garantir um melhor ponto de entrada no futuro.
Ainda assim, em termos de composição de portfólio, acredito que a Apple é uma empresa importante, graças à sua estabilidade, base de clientes fiéis e enorme volume de caixa. Além disso, caso a economia dos EUA, de fato, entre em recessão, a Apple novamente se tornará uma das melhores empresas para quem busca um investimento seguro para o longo prazo.
Aviso: O autor tem investimentos de longo prazo nas ações da Apple.