Nos últimos dias, vimos uma alta espetacular de alguns cases ligados ao varejo e ao mercado doméstico. Eu chamei este fenômeno de “os humilhados serão exaltados”.
Ontem por exemplo, todas as maiores altas das ações foram justamente de ativos que tiveram quedas tremendas nos últimos meses.
Alguns exemplos:
Locaweb (BVMF:LWSA3) subiu nada menos que 16%, mas com uma queda de 81% desde o topo, tem que subir 322% para atingir a alta de 52 semanas. Magalu (BVMF:MGLU3)) subiu 10%, mas com queda de 89% do pico, tem que subir quase mais de 600% para voltar ao topo. Fora do Ibovespa, Espaço Laser subiu 25%, mas com queda de 84% em 12 meses, ainda faltaria subir mais 569% para voltar para a cotação máxima de 52 semanas.
Este fenômeno, como eu disse, não ocorreu apenas no pregão de ontem. Quando olhamos o último mês temos um fenômeno claro aos meus olhos atentos de analista de investimentos:
Vivenciamos uma rotação entre setores. Os investidores estão saindo de empresas de commodities, que haviam segurado uma queda do Ibovespa maior no início do ano, para investir em “barganhas” cujos preços foram dizimados com quedas maiores que 70% nos últimos doze meses. Este fenômeno tem motivos bastante plausíveis, para além dos Valuations mais baratos após tais quedas:
O primeiro e mais óbvio é a queda das commodities. O minério de ferro, por exemplo, que chegou a 200 dólares no seu pico recente, agora está em 104 dólares.
O petróleo, que superou 130 dólares nos dias de maior tensão após a invasão da Ucrânia no início deste ano, agora já chegou a cair abaixo de 100 dólares.
A queda das commodities não apenas faz ações de empresas deste setor sofrerem na bolsa, mas também ajuda a aliviar a inflação futura, o que por consequência aliviaria os juros.
O setor de varejo e outros relacionados com a nossa atividade interna, é o mais sensível a uma queda nos juros e, naturalmente, qualquer perspectiva melhor para os juros futuros tende a impulsionar estas ações.
Você pode argumentar que, ao passo que as commodities caíram, vimos uma alta do dólar frente ao real compensando parcialmente o efeito benéfico na nossa inflação, e isto é verdade, mas não foi só isso que ajudou a inflação e os cases de varejo a performarem bem nos últimos dias:
Uma série de eventos internos também ajuda a reduzir a inflação (pelo menos no curtíssimo prazo).
Cito alguns exemplos:
O repasse de créditos fiscais pelas distribuidoras de energia elétrica para os consumidores, que vai reduzir a conta de energia. A redução de preço da gasolina com a aprovação da PEC dos combustíveis e a trava no ICMS de 17%. Temos ainda outras coisinhas mais que andam falando por aí (como uma redução de IPI desejada pelo governo após a volta do recesso, nada confirmado)...
Eu sei, eu sei que estas desonerações todas tem um custo fiscal grande e tudo o que fazem é jogar a inflação para frente e piorar nosso fiscal, o que pressiona os juros futuros.
As expectativas dos economistas no relatório Focus já mostraram isso.
O varejo vai ter uma “mãozinha” por conta do auxilio emergencial “turbinado” e a Magalu já saiu na frente chamando o pessoal para as lojas.
Além de tudo, temos a Copa do mundo e o brasileiro vai sim comprar uma TV maior e muita cerveja para compensar as agruras do dia a dia sofrido.
Dito tudo isso, sim, eu estou recomendando aos clientes considerar adicionar algumas barganhas nos setores de varejo e doméstico no seu portfólio e acho que você deveria fazer o mesmo.