O perfil do investidor brasileiro em renda variável é um tanto quanto curioso. Segundo o portal Investing.com, em 2021, o ETF HASH11 – primeiro fundo de criptomoedas do Brasil - atingiu o número de 130 mil cotistas. 4 mil a mais que o BOVA11 – ETF que replica nosso maior benchmark, o Ibovespa.
Essa notícia me fez lembrar uma conversa sobre investimentos que tive no último Natal, com primos de idade entre 20 e 30 anos. Todos com criptoativos em carteira, falavam sobre sua certa e iminente valorização, além das NFTs: segundo eles, o futuro mecanismo de criação de milionários no mercado financeiro.
Tentei entrar em conceitos como lastro, fluxo, volatilidade, diversificação e LONGO PRAZO sem muito sucesso. Até porque não queria ser o primo chato abordando conceitos de valuation a menos de uma hora do Papai Noel chegar.
Mas, recordando sobre como chegamos nesse assunto, algo me chamou a atenção. O tópico anterior era: qual é a melhor plataforma de apostas esportivas. Não por acaso, o Brasil possui dezenas delas. E se existem tantos sites de apostas investindo um mar de dinheiro em publicidade, é porque o negócio aqui é bem rentável.
Com essa informações, podemos percebemos como o investidor brasileiro é desprovido de recursos e influenciado por informações que mais se assemelham a ruídos na tomada de decisão. Como sempre repeti, pior que não ter um mapa é ter um mapa errado.
Sempre houve e sempre haverá pessoas que se consideram especiais por possuírem informações privilegiadas. “Um amigo disse que tal ação vai subir nos próximos meses pelo fator X, Y e Z”. Infelizmente (pra elas), o mercado e seus mecanismos de incentivo são implacáveis. Não por acaso, um dos seus axiomas é: todo dia saem na rua um trouxa e um esperto. Se eles se encontrarem, dá negócio.
Veja, a critica per se não está no ato de aportar recursos nessa classe de ativos. Não vejo mal algum ter uma pequena parcela de seu portfólio em ativos extremamente arriscados, desde que seja com o dinheiro da pinga, não com o do pão.
O problema está na ganância dos entusiastas que investem 100% do seu capital em ativos extremamente arriscados, sem tese ou racional algum. E pior, dada a volatilidade dos mesmos, seus estômagos não estão prontos para uma grande queda, fazendo com que se vendam da mesma forma que encerram uma aposta quando o time adversário faz um gol.
A curva de aprendizagem de um investidor é longa. Passa por estudo, erros, dores de barriga, depressão, euforia. Tomar cuidado com sinais pouco confiáveis é uma das conquistas que se adquire com o tempo.
Parafraseando Paul Samuelson, se você quer emoção, jogue na loteria federal. Investir tem muito mais relação com a percepção do que não sabemos do que com a certeza que achamos ter.