Eles ainda têm voz
Notícia do dia: a agência Standard & Poor’s manteve o rating brasileiro em BBB-, último nível dentro do grau de investimento.
Trata-se obviamente de uma boa notícia. Neste ponto, todos já sabem das implicações de uma perda de rating:
Encarecimento do custo da dívida, maior dificuldade de financiar, retirada de capitais por fundos que têm por estatuto investir apenas em países com determinada classificação de risco…
Portanto, as agências de rating podem ter errado muito durante a crise de 2008, e por vezes são mais reativas do que pro-ativas, mas ainda são, sim, extremamente importantes.
Aprecie com moderação
Agora, curioso, a manutenção do rating é uma boa notícia sem ser sequer uma notícia.
Cuma?
Há uma série de fatores que amenizam o caráter positivo do evento:
- A S&P mantinha a nota brasileira em perspectiva estável. Portanto, era de se esperar, que, antes, ela colocasse o rating brasileiro em observação negativa.
- A S&P já havia rebaixado o rating do Brasil no final do ano passado. São as outras agências (Fitch e Moody’s) que estão defasadas em relação a ela. A quem se atribui probabilidade de rebaixamento na próxima revisão.
Lembrando que a Fitch, que há um ano não se manifesta a respeito do rating brasileiro e mantém a nota um degrau acima da S&P, está no Brasil para reavaliar a sua posição. E a Moody’s, no final de março, colocou a nota brasileira em observação negativa.
Portanto, apreciemos o evento com moderação. Nossa expectativa é por uma redução, em um degrau, por Moody's e Fitch, colocando a nota no mesmo degrau daquele atribuído pela S&P.
Uma vela para Deus, outra para o diabo
Quem ler o comunicado da agência Standard & Poor’s verá que a manutenção da nota se deu por acreditar que o ajuste fiscal “vai continuar recebendo apoio da presidente Dilma Rousseff e do Congresso, restaurando gradualmente a credibilidade política perdida e abrindo caminho para uma perspectiva de crescimento mais forte no próximo ano”.
Trocando em miúdos, Dilma está completamente refém de Joaquin Levy, a fonte de credibilidade de seu governo.
No entanto, é justamente Levy quem sofre pressão do partido e da base aliada da presidente. Quem sustenta o governo é justamente um estranho no ninho.
Mantida a nota, um dia depois (hoje)…
O risco de calote na prática
Qual a classificação de risco soberano na prática? Ou, a probabilidade de um calote brasileiro? Uma boa proxy para avaliar isso são os Credit Default Swaps (CDS), ou, quanto os investidores estão pagando para se proteger de um calote brasileiro:
Nota-se, pelo gráfico, que de setembro para cá a probabilidade de calote brasileiro mais do que dobrou, um atestado, na prática, da rápida deterioração dos fundamentos e desconforto em relação à situação das contas públicas brasileiras.
Dentre os CDS negociáveis, abaixo do Brasil (com risco maior) há um grupo seletíssimo, composto por apenas seis membros: Casaquistão, Egito, Rússia, Argentina, Ucrânia e Venezuela.
Acima (com menor risco), a turma conta com 43 países. Dentre eles os ilustres Panamá, Bulgária, Indonésia, Colômbia, Tailândia…
O risco do seu título do Tesouro
A posição não é confortável, certamente, mas também não é alarmante: ainda temos um sistema financeiro sólido, reservas, e historicamente nunca demos default, nem mesmo antes do real e da estabilização da economia.
Portanto, ainda temos os títulos do Tesouro como uma aplicação conservadora e, no momento, extremamente rentável (incorpora esse aumento do risco-Brasil no prêmio de risco pago).
Xiii… 0,1% de retorno ao ano
Temos visto diariamente que as Bolsas internacionais estão em patamares recordes.
O índice Nasdaq das ações tecnologia americanas, por exemplo, atingiu essa semana os níveis da bolha pontocom, de 15 anos atrás.
Em que ponto estamos? Há espaço para novas altas? Ou a correção está batendo à porta?
Recorrendo ao indicador de valor de mercado total sobre PIB, o indicador do Buffett, segundo ele “a melhor medida de ontem os valuations estão em determinado momento”…
Estamos atualmente em 126% valor de mercado/PIB nos EUA, o que indica mercados “significativamente sobrevalorizados” e um retorno esperado da ordem de 0,1% ao ano incluindo dividendos, tomando o histórico como guia.
OBS 1: no caso de uma correção por lá, a tendência natural é de desmonte de posições em mercados de risco elevado como emergentes (beta alto) para cobertura de perdas em mercados maduras, e fuga para a qualidade (ouro, dólar, títulos do Tesouro dos EUA), e não o contrário.
OBS 2: a queda de mercados na média não necessariamente é a queda de todas as ações. Mas, ainda assim, é uma reforço à necessidade de grande seletividade nas ações e fugir de posições excessivamente alavancadas, com problemas de governança e dificuldade de geração de caixa.
OBS 3: a média de retorno anual via dividendos por lá é de 2%, portanto, a expectativa é de queda no valor das ações.