Lula tem melhora na aprovação após confronto com Trump por tarifaço, diz Quaest
O Presidente Donald Trump iniciou uma ofensiva comercial contra países que discutem substituir o dólar como moeda de referência global. Para muitos, isso parece exagero. Mas a tentativa de desafiar a hegemonia do dólar não é nova — o euro está aí para provar isso.
Desde o Relatório Werner, publicado em 1970 e que propunha a criação de uma união monetária europeia, até a circulação efetiva do euro em 2002, passaram-se 32 anos de debates, ajustes fiscais e integração institucional. A principal motivação era aprofundar a união econômica entre os países europeus, facilitando o comércio, a mobilidade de capitais e a estabilidade financeira.
Ao criar uma moeda forte e estável, usada por economias como Alemanha, França e Itália, a Europa naturalmente passou a disputar espaço com o dólar como reserva internacional. Mas, coincidentemente, o euro passou a circular num momento em que a Zona do Euro começou a dar sinais de desaquecimento econômico.
Logo vieram os desafios: a crise do subprime em 2008, a crise da dívida grega, o Brexit, e a perda de dinamismo dos países líderes do bloco. Hoje, mesmo com sólida estrutura institucional, Alemanha, França e Itália crescem menos a cada ano.
Enquanto isso, no hemisfério Sul, surgia o BRICS — formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A proposta era aumentar a cooperação entre países emergentes e fazer contraponto à dominância de Estados Unidos e Europa nas decisões globais.
Quando o BRICS surgiu, a China era a 6ª maior economia do mundo, o Brasil era a 11ª. Hoje, a China é a 2ª, a Índia a 5ª e o Brasil ocupa a 10ª posição, segundo o FMI (2024). Em conjunto, o BRICS já representa cerca de 40% do PIB mundial e mais de 40% da população global.
Mas é nesse ponto que mora a armadilha: volume não significa coesão.
A criação de uma moeda comum exige muito mais do que vontade política ou ideológica. Requer convergência macroeconômica, estabilidade fiscal, harmonia monetária e confiança institucional. E aqui entra o problema: mesmo a Zona do Euro, com PIBs per capita elevados (Alemanha: US$ 57.914) e nível de desenvolvimento homogêneo, enfrentou sérias dificuldades.
Já o BRICS é extremamente heterogêneo. A China tem PIB per capita de US$ 12.687, a Índia cerca de US$ 2.400 e o IDH médio do bloco é de 0,756, abaixo da média da OCDE. Além disso, países como a Etiópia (recém-integrada ao grupo) enfrentam inflação elevada, conflitos internos e fragilidade institucional. Como criar uma moeda comum entre economias tão assimétricas, com agendas geopolíticas e interesses tão divergentes?
Outro ponto: China e Índia juntas respondem por cerca de 75% do PIB do BRICS. A China, sozinha, dita o ritmo do bloco. E, curiosamente, a Índia — segunda maior economia do grupo — tem estreitado laços econômicos com os Estados Unidos. Enquanto o Brasil é taxado em 50%, os dois países começaram a negociar a redução de tarifas de importação abaixo de 20%, o que pode sinalizar um reposicionamento estratégico indiano no comércio global. Estaria a Índia adotando o lema: India First! Teremos um "Indiexit"?
Portanto, antes de criar uma nova moeda, o BRICS deveria buscar maior convergência interna: fortalecer suas instituições, melhorar a governança macroeconômica e reduzir as desigualdades estruturais.
Por fim, há um dado que não pode ser ignorado: não adianta representar 40% da população mundial se a maior parte vive na pobreza ou na informalidade. Sem elevação de renda e fortalecimento do mercado interno, não há moeda que se sustente.
Talvez o melhor caminho seja evitar uma nova guerra cambial — e investir na homogeneização econômica do bloco, para, quem sabe, no futuro, discutir seriamente uma moeda.