Renda fixa ou já é hora da renda variável?

Publicado 17.07.2025, 06:05

Uma pergunta bastante frequente que tenho recebido ultimamente, tendo em vista que há chance das taxas de juros começarem a cair já na próxima reunião de COPOM (29 e 30 deste mês), é:

“E agora, o que devo fazer com meus investimentos?”

E outra pergunta, variante desta principal, também bastante frequente é:

“Você acha que já posso voltar para a renda variável, com a tendência de início de queda das taxas de juros?”

Neste texto, irei responder a esses questionamentos, sempre de acordo com a teoria de investimentos e com o conhecimento acadêmico e de mercado que adquiri ao longo de mais de duas décadas de estudos e atuação. Ah, e já sei de antemão que irei FRUSTRAR alguns leitores, que esperavam de mim a fórmula mágica e não conseguirão interpretar esse texto corretamente. Vamos lá: infelizmente, não direi quais papéis irão bombar amanhã porque simplesmente não sei. Da mesma forma, você não lerá aqui algo como “mantenha agora 40% dos seus investimentos em renda fixa, com o restante em ações”, porque não existe uma divisão que atenda a todos os perfis de risco, a todos os prazos de investimento e a todos os objetivos que temos com o dinheiro que poupamos e investimos. Se você não gostou do que acabou de ler, recomendo fortemente abrir seu coração e mente para enxergar o que você não consegue ver (e se isso for impossível, pode parar a leitura por aqui, pois será ineficaz para você).

Há coisas que eu não sei e não consigo fazer porque a teoria e o conhecimento não me permitem saber ou fazer – simples assim. Não jogo no time daqueles que dizem fazer você dobrar seus investimentos em poucas semanas, pois não sei mentir muito menos iludir as pessoas. Mas, por outro lado, a boa teoria de gestão patrimonial e o conhecimento que tenho do mercado de investimentos me permitem te ajudar com as melhores respostas possíveis para as perguntas acima. Além disso, a estatística e a matemática também me servem como bases técnicas para ajudar. E, nessas horas, sempre lembro algo que aprendi:

O conhecimento científico não tem por objetivo saber todas as respostas para todas as perguntas, mas distinguir as perguntas para as quais temos respostas das perguntas para as quais não temos respostas. Essa distinção, aparentemente inocente, é fundamental para a melhor tomada possível de decisão. Não saber as respostas para perguntas do primeiro tipo é arriscado. Mas pensar saber as respostas às perguntas do segundo tipo é, de longe, bem mais perigoso!

É importante entender que no “jogo” de investimentos não há como ganhar sempre, mas sabemos como perder sempre: basta agirmos intuitivamente, movidos por diversos aspectos psicológicos e comportamentais que nos são intrínsecos e, principalmente, sem dar ouvidos ao que a teoria de investimentos tem a nos ensinar. Sem conhecimento, a derrota é praticamente certa. Com conhecimento, não é que você vai ganhar sempre, mas ao menos você aumentará bastante suas chances e tenderá, sim, a ganhar no longo prazo.

Focarei em investidores que tenham o longo prazo como objetivo. Gosto muito de uma frase clássica atribuída a Warren Buffet:

“O grande problema é que a maioria das pessoas quer enriquecer rapidamente. E aí as chances são mínimas. Eu prefiro enriquecer sem pressa.”

É importantíssimo começar dizendo que ninguém consegue prever com precisão absoluta quais ações vão subir e quais vão descer, muito menos que “é hora de migrar com força para renda variável”. Ações que estão em alta atualmente podem continuar subindo, mas podem reverter a mão da mesma forma. Ações que estão muito mal em 2020 podem seguir ladeira abaixo, mas também podem iniciar uma escalada espetacular. Aliás, se compararmos alguns meses atrás e agora, eu poderia facilmente citar diferentes papéis que ilustram cada um dos quatro caminhos citados!

Dessa forma, não procure “descobrir” quais serão as duas ou três empresas que você deve apostar no curto espaço de tempo. Também não procure acertar o timing do mercado e ficar trocando toda hora de ações ou mesmo ficar pulando da renda variável para a renda fixa ou vice-versa. O que você realmente precisa é de uma estratégia consistente com seus objetivos, com seu perfil de risco e com seu prazo de investimento. Você precisa estudar as empresas nas quais investe para entender profundamente os seus riscos e o seu potencial de retorno: e então decidir se a empresa estudada se adequa a você.

Não quero aqui (nem de perto!) passar a ideia de que o “jogo” de investimentos na bolsa é um cassino. Não é, definitivamente. Existem fundamentos por detrás de cada empresa. Podemos, sim, analisar determinada empresa e ter convicção de que seus fundamentos são bons e que o preço da sua ação irá, no futuro, refletir aqueles bons fundamentos. Mas aí estão dois pontos importantes. Primeiro: isso pode levar um bom tempo para acontecer. Riscos alheios à empresa (como a pandemia de 2020) e situações conjunturais (como o déficit fiscal ou a possibilidade de desrespeito ao teto de gastos pelo Governo) podem retardar bastante isso e, o que é pior, causar enorme volatilidade no curto prazo. Segundo: procure sempre diversificar com várias empresas com bons fundamentos, pois toda e qualquer empresa sempre correrá riscos exógenos aos seus fundamentos, ou seja, sobre os quais ela nem ninguém tem controle. A diversificação ao investir em várias empresas mitiga exatamente esse tipo de risco.

Por esse motivo e para aqueles com foco no longo prazo, não estimulo estratégias de curto prazo que tentam acertar o momento de comprar ou vender determinada ação ou o momento de sair “por um tempo” da renda variável (exceção aqui feita aos profissionais de investimentos que estudam muito e têm estratégias muito bem analisadas e definidas para fazer isso). A própria literatura acadêmica já indicou que essa tentativa acaba elevando os custos e a própria ansiedade do investidor, além de ser ineficaz na maioria absoluta das vezes. Isto se explica porque você corre o sério risco de perder uma retomada ou trocar de mão na hora errada. Aliás, é como em um engarrafamento: a pior estratégia é ficar trocando de pista por achar que a outra anda mais (isso é comprovadamente uma estratégia equivocada para engarrafamentos, pois perde-se o tempo para realizar a mudança de pista e a expectativa, em média, é que todas elas trafeguem na mesma velocidade!).

Tenho a história real de um grande amigo que na pandemia havia comprado pesadamente futuros de Ibovespa a 90 mil pontos, logo no início da crise (achando que esta passaria rapidamente). Sua expectativa era bem alta e lembro-me do dia em que ele me ligou para dizer que, em breve, ganharia uma bolada na bolsa. Quando o Ibovespa chegou à casa dos 60 mil pontos, ele mal conseguia dormir: passou um bom tempo angustiado com sua posição em prejuízo substancial e passara a sonhar com uma leve alta para poder desfazer sua posição (à época, ele não mais pensava em “ganhar uma bolada”). Depois de algum tempo de muita ansiedade, logo na primeira oportunidade, ele vendeu a pouco mais de 80 mil pontos, realizando uma boa perda, embora menor que a posição de outrora.

Esse caso nos ensina muito! Se a estratégia do meu grande amigo fosse sustentável e paciente, poucos meses depois ele poderia ter comprado um belo apartamento (segundo suas próprias palavras!) com o lucro da posição, tendo em vista que o Ibovespa havia batido, nesse período, a casa dos 110 mil pontos. Com isso, reafirmo: cada investidor deve ter sua estratégia de investimentos muito bem definida e pensada, de acordo com os seus objetivos, sua tolerância a risco e seu prazo de investimento. No caso desse meu amigo, sua estratégia estava bem definida em relação ao seu objetivo (fazer pequena fortuna na retomada do Ibovespa), mas pecava feio quanto aos dois outros aspectos: estava totalmente desalinhada com sua tolerância a risco (ele realmente ficou mal com a possibilidade de perder muito dinheiro) e com seu prazo de investimento (ele não pôde esperar que o Ibovespa chegasse aos 110 mil pontos).

Muitas vezes, um momento de alta volatilidade pode revelar indícios de que sua estratégia não esteja adequada para sua tolerância a risco e que, portanto, precisa ser repensada, mas sempre considerando seus objetivos e seu prazo de investimento. Desaconselho, uma vez mais, que você fique tentando acertar o momento de mudanças bruscas e com foco no curto prazo: é mais provável que mantendo a estratégia original, você se saia melhor. Não deixe que o psicológico afete seu comportamento ao ponto de fazê-lo acreditar que você consegue vencer o mercado no dia a dia. O foco precisa estar na estratégia e no longo prazo.

Sei que essa verdade é dura e corro o sério risco de muitos não gostarem, mas ela está baseada em evidências. Sempre haverá aqueles que contarão suas histórias felizes e essas são as que gostamos de ouvir e de tentar replicar. Infelizmente, as histórias tristes não têm o mesmo apelo, pelo menos nesse contexto de gestão de investimentos. Você já procurou saber quantos “Messis” desconhecidos (e que não conseguiram seguir carreira) existem para cada “Messi” que conhecemos? Milhares!

Manter uma estratégia adequada e persistente não dá ibope, pois os ganhos se darão paulatinamente e quase ninguém quer enriquecer devagar. Se eu disser que escreverei na semana que vem sobre como fazer R$ 1 milhão na bolsa em uma semana, certamente atrairei muitas atenções. Mas, como falei acima, quero dividir o que sei e o que vejo no mercado para você aprender o que é certo, jamais criar ilusões. Até porque eu prefiro investir na sua atenção para um longo prazo, de forma verdadeira e consistente.

Por isso, se você quer saber se é hora de migrar para a renda variável, respondo: não faço ideia porque simplesmente desconheço totalmente o seu perfil enquanto investidor (nível de aversão e sensibilidade a risco, objetivos, horizonte de investimento etc.). Seria preciso uma anamnese financeira para determinar uma carteira adequada e eficiente para cada um de vocês. Por isso, estudem, aprendam e, caso necessário, recorram a profissionais sérios e competentes para que vocês possam encontrar a melhor estratégia para si. Ah, e não tenham medo de enriquecer devagar: é muito mais fácil e seguro do que ganhar na mega-sena.

Fiquem à vontade para comentar abaixo ou em minhas redes sociais (@carlosheitorcampani)! Seu feedback, sempre com respeito, é importante demais! Forte abraço a todos vocês.

* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Certificado pelo CNPI e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Além disso, ele é Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças e Sócio-Fundador da CHC Finance e da Four Capital. Campani pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na quinta-feira.

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