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100 Dias de Governo: Um Balanço

Publicado 13.04.2015, 11:48

Completamos 100 dias de governo. Geralmente este é um período no qual o Congresso e a sociedade dão um prazo, um “voto de confiança”, para que o governo organize suas bases, “azeite a máquina” e comece a governar de fato. É uma espécie de “lua de mel”, em que o governo mostra “a que veio”, anunciando seus objetivos para os quatro anos de mandato. Este, aliás, é um ponto a ser salientado. Geralmente, em início de mandato, as políticas econômicas, com destaque para fiscal e monetária, são mais austeras, o contrário acontecendo ao final do mandato quando, em função do ciclo político, se tornam mais frouxas, até para garantir a (re) eleição do candidato do governo.

Neste segundo mandato da presidente Dilma, no entanto, esta tal “lua de mel” não foi possível. Desde o início de janeiro, quando a presidente assumiu, vivemos um turbilhão de emoções, crises localizadas, embates com o PMDB, dificuldades do ministro da Fazenda em levar adiante suas medidas, além da piora contínua dos fundamentos econômicos. Na falta de uma melhor articulação política da equipe da presidente, o ministro Levy se tornou o “fiador” do governo junto ao mercado, indo ao Congresso negociar com os presidentes do PMDB no Senado e na Câmara algumas das medidas anunciadas. Isto, aliás, é algo inédito. Ao que parece, o ministro Levy acabou tendo que assumir as negociações já que a presidente e sua equipe ou não mostraram competência para tal, ou mantiveram “certo distanciamento crítico”, dados os efeitos recessivos destas medidas. Eximiram-se, portanto, por completo do desgaste político, deixando-o com o ministro.

Sobre as medidas, foram variadas, anunciadas antes do início do mandato e ao longo do primeiro trimestre. Antes, buscou-se mudanças nos benefícios previdenciários (economia de R$ 18 bilhões), corte de aportes do Tesouro aos bancos públicos (redução dos subsídios ao crédito), aumento da TJLP (a 6%), dentre outras. Depois, ao longo do primeiro trimestre, foram anunciados o fim dos aportes à Conta de Desenvolvimento Energético (R$ 9 bilhões), adotadas medidas de elevação de impostos e alíquotas (em torno de R$ 22,6 bilhões), contingenciamento de despesas de custeio e investimentos nos ministérios (em torno de R$ 57 bilhões), corte de investimentos do PAC e redução das desonerações sobre folha de pagamentos.

Em paralelo, foi adotado um forte realinhamento de preços relativos, com correções nos preços administrados (energia elétrica, na média, reajustada em 36% neste ano) e câmbio depreciado (em torno de 15%). De certa forma, estas mudanças acabaram representando um resgate do desgastado tripé de política econômica – câmbio flutuante, metas de inflação e esforço fiscal – tão abandonado no primeiro mandato.

Sobre o desdobramento das medidas, algumas ainda estão em negociação no Congresso, outras já em vigor. Nas primeiras: (1) “readequação” dos benefícios previdenciários em negociação, dificilmente gerando a economia prevista, de R$ 18 bilhões, e (2) elevação das alíquotas de contribuição previdenciária sobre o faturamento (1% para 2,5% e 2% para 4,5%) também havendo “correções”. Sobre às já em vigor, destaque para as elevações de impostos, como IPI para cosméticos e bebidas frias, IOF para mercado de crédito, PIS Cofins para combustíveis, importados, etc. Previsões são de geração de caixa em torno de R$ 25 bilhões.

Em relação ao ajuste fiscal como um todo estimativas variam entre R$ 100 bilhões e R$ 110 bilhões neste ano, algo previsível diante do déficit de 0,6% do PIB fechado em 2014 e a meta de superávit primário para este ano, em torno de 1,2%. Dadas as dificuldades políticas, ao que parece, este ajuste deve ser o “possível dentro das atuais circunstâncias”. Esta Consultoria prevê algo entre 0,7% e 0,8% do PIB.

Neste período, lembremos também que os ativos se volatilizaram em alguns momentos, com o dólar chegando a R$ 3,29, o risco país próximo a 324 pontos básicos (27/3), o juro futuro “curto” próximo a 13% e a bolsa de valores oscilando entre 48 mil e 52 mil pontos. Mais recentemente, no entanto, diante dos avanços obtidos por Levy nas negociações em torno das medidas e o apoio “velado” da presidente, o mercado deu uma acalmada, com o dólar recuando a R$ 3,05 e a bolsa “testando” 54 mil pontos.

Este melhor ânimo, inclusive, se manteve mesmo depois do comunicado da Fitch na quinta-feira passada (dia 9), quando a agência manteve o rating do País em BBB e nos colocou em perspectiva negativa. A justificar isto, “o contínuo e fraco desempenho da economia, o aumento do desequilíbrio macro, a deterioração fiscal e o aumento do endividamento”. Há algumas semanas, a Standard & Poor’s já havia anunciado a manutenção do rating do País, depois de tê-lo rebaixado em março de 2014. Resolveu, portanto, dar um voto de confiança ao ajuste em curso do ministro Levy.

O fato é que há uma expectativa no ar, com os investidores no aguardo dos efeitos das medidas fiscais e a reversão de expectativas com o retorno do animal spirits dos empresários. Caso o ministro Levy não consiga avançar nestes ajustes, inevitável será o rebaixamento do rating soberano. Muitos acham que este voto de confiança das agências vai até o final do ano.

Por outro lado, caso o ajuste fiscal seja eficaz, deve provocar, num primeiro momento, um aprofundamento da piora na economia, para depois ensejar numa melhora da confiança dos agentes e a recuperação dos principais indicadores. Muitos, inclusive, acham complicado um ajuste fiscal realizado com a economia em recessão. Sobre a evolução dos indicadores econômicos nestes 100 dias, chama atenção a piora da maioria (ver tabela ao fim).

Enfim, a virada de ânimo dos agentes, neste cenário de “terra arrasada”, não será uma tarefa nada fácil, nem rápida ou indolor. Teremos uma dura fase de provações ao longo deste ano.

Indicadores Econômicos Brasileiros

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