Olá, investidores.
Em todo cenário de tensões geopolíticas acentuadas, os investidores tendem a buscar setores considerados defensivos e que apresentam uma baixa volatilidade quando comparados ao Índice Ibovespa, como o setor de elétricas.
Em um movimento de aversão a risco, trouxemos uma análise completa para você diversificar a exposição setorial da carteira e ainda ganhar com dividendos em 2022.
No Brasil, o setor elétrico está dividido em 3 segmentos: geração, transmissão e distribuição.
De forma geral, as transmissoras apresentam uma geração de caixa mais estável e previsível, além de serem menos dependentes do cenário macroeconômico por serem remuneradas pela disponibilidade de suas linhas, e não pelo volume de energia que passa por elas.
Por outro lado, as geradoras e distribuidoras apresentam uma maior correlação de seus resultados com o cenário macroeconômico. Em ambos os casos, é importante acompanhar os volumes de vendas, mas quando falamos de distribuidoras, é crucial ficar de olho na inadimplência.
Já no universo de empresas integradas (com exposição a todos os elos do setor elétrico), isso pode ajudar a mitigar os riscos, mas é importante ter uma ideia da representatividade de cada linha para os resultados finais da companhia. Quer um exemplo prático? Neoenergia (SA:NEOE3), por exemplo, tem cerca de ⅔ dos EBITDA vindos do segmento de distribuição, enquanto a EDP Brasil (ENBR3 (SA:ENBR3)) é mais diversificada, sendo que a distribuição, parte mais relevante do portfólio, trouxe 42 por cento do EBITDA em 2021.
O que analisar ao investir no setor elétrico?
É importante analisar se a empresa é muito dependente de uma matriz hidrelétrica, por exemplo, pois isso sempre será um fator de risco que pode impactar seriamente os resultados em um cenário hídrico mais desafiador, como o que ocorreu em 2021.
Existem medidas de curto prazo que a companhia pode utilizar para mitigar os danos, mas a melhor proteção, no longo prazo, são bons projetos que, além de trazerem crescimento para a companhia, aumentam a exposição a outras matrizes (diversificação).
As companhias elétricas, de modo geral, costumam ser mais alavancadas do que a média das empresas do Ibovespa. Nesse sentido, recomendamos ficar de olho no nível de endividamento e no perfil da dívida de empresas mais endividadas para entender bem a saúde financeira — que, inclusive, pode impactar a distribuição de dividendos.
Elétricas vs. aumento da inflação
Olhando mais a fundo o setor, o aumento de juros pode impactar o custo financeiro, mas é claro que é sempre importante fazer uma análise caso a caso. Além disso, também pode afetar algumas cotações, em especial transmissoras, sofrendo um efeito de "marcação a mercado".
O impacto é basicamente uma continuação do que vimos no 4T21. O setor elétrico é altamente indexado à inflação, as companhias costumam ter contratos que garantem o repasse do IGP-M ou do IPCA ao longo do tempo, o que acaba protegendo os acionistas no longo prazo.
Taesa perdeu o brilho?
Recentemente, observamos um movimento de rotação de carteiras por parte de investidores com foco em dividendos.
A Taesa (SA:TAEE11), que até então era a preferida de várias casas, acabou saindo de muitas carteiras recomendadas. Alguns apontavam que a ação estava cara, outros que os dividendos secariam neste ano.
Taesa provavelmente sempre será uma boa pagadora de dividendos. A questão é que, nos preços atuais, o yield entregue no passado não se repetirá, pois o crescimento de resultados será mais tímido.
Inclusive, a Nord Research foi uma das casas que substituiu a Taesa por outra elétrica, no caso, a Energias do Brasil (ENBR3).
Recomendamos a venda da posição em TAEE11 tendo como principal justificativa o valuation (que segue trazendo menor margem de segurança para aportes) e a menor perspectiva de crescimento de resultados daqui em diante que, basicamente, é justificada por dois motivos:
i) O arrefecimento do índice IGP-M (que corrige aproximadamente ⅔ dos contratos da Companhia) traz consigo uma escalada menor de resultado em comparação ao que observamos nos últimos 12 meses.
O salto atípico no IGP-M nesse período, que proporcionou um incremento bastante considerável nos resultados da companhia, foi um fator atípico e atrelado ao aumento dos preços das commodities metálicas e ao desbalanceamento de produção, levando em conta todo o contexto da pandemia.
Para 2022, vemos uma perspectiva mais suave, caminhando para uma normalidade. Assim, todo o aumento de resultado apresentado não deve se repetir na mesma intensidade.
ii) Arremate abaixo do esperado no leilão de transmissão que ocorreu no dia 17 de dezembro do ano passado, o que contribui para menor entrada de RAP – reforçando que a expectativa da companhia era de arrematar todos os lotes.
Mais uma vez, foi um leilão marcado por forte deságio e alta competição, o que limitou as oportunidades de ganho e trouxe apenas +4,7 por cento de ganho de RAP.
Entendemos que existem oportunidades futuras para Taesa, além de oportunidades para crescimento, como novos leilões e aquisições de ativos, e aprovamos a gestão da empresa, disciplina financeira, boa alocação de capital e do menor risco do seu modelo de negócio, porém seguimos acreditando que a ação se encontra precificada nos níveis atuais – tanto por menor perspectiva de resultado à frente quanto pelo prêmio embutido por meio do eventual desinvestimento da sua controladora Cemig (SA:CMIG4) – algo que não é de hoje e não agregaria em mudança efetiva no operacional da empresa, visto que a Taesa opera de forma independente e é bastante eficiente.
3 ações de elétricas para ganhar com dividendos
Troxemos as empresas para quem busca menor volatilidade e ainda quer receber fluxo de renda recorrente em 2022. Confira na íntegra.
EGIE3
A ENGIE Brasil (SA:EGIE3), antiga Tractebel Energia, é a maior produtora privada de energia elétrica do Brasil. Mais recentemente, a Companhia vem buscando diversificação energética para além da geração de energia elétrica, apresentando exposição também nos segmentos de transmissão, que dará uma maior previsibilidade de geração de caixa para a empresa, e transporte de gás natural – este se deu por meio da TAG (Transportadora Associada de Gás), uma ex-subsidiária da Petrobrás –, o que contribui para ainda mais robustez ao seu portfólio.
Expectativa de dividend yield 2022: 8,1 por cento
Expectativa de dividend yield 2023: 10,4 por cento
ENBR3
A Edp Energias do Brasil SA (SA:ENBR3) uma companhia integrada do setor elétrico (Transmissão, Distribuição e Geração). Aproximadamente 35 por cento do EBITDA vem de distribuição de energia, que também conta com reajustes pela inflação, e nessa frente o principal driver de crescimento é o investimento orgânico em distribuição.
Os resultados da EDP Brasil têm crescido consistentemente ao longo dos anos, e a companhia apresenta crescimento médio de EBITDA de 8 por cento a 10 por cento contratado até 2025, mas podendo também ter outras opcionalidades de crescimento.
A empresa estabeleceu uma nova política de dividendos, em que se compromete a distribuir um dividendo mínimo de 1 real por um payout superior a 50 por cento do Lucro Líquido Ajustado, o que for maior.
Expectativa de dividend yield 2022: 7,3 por cento
Expectativa de dividend yield 2023: 7,7 por cento
AESB3
A AES Brasil (SA:AESB3) é uma geradora renovável pura, com o portfólio atual muito concentrado em hidrelétricas, que hoje representam 72 por cento do total, o que fez com que seus resultados fossem severamente impactados pela crise hídrica do ano passado.
Além de melhores perspectivas para a hidrologia no ano de 2022, a AES Brasil está desenvolvendo projetos interessantes em geração solar e eólica que, além de trazer um bom crescimento operacional significativo para a companhia, ela ficará muito mais diversificada, o que mitiga os efeitos de futuras crises hídricas.
O plano de expansão da companhia fará com que o portfólio seja distribuído da seguinte forma: 44 por cento geração hídrica, 44 por cento geração eólica e 11 por cento geração solar.
Expectativa de dividend yield 2022: 3,1 por cento
Expectativa de dividend yield 2023: 6,7 por cento