Em dia de feriado americano, a bolsa brasileira ficou à deriva de notícias pequenas e baixa liquidez.
O que dominou o mercado internacional foi o prosseguimento da novela entre EUA e China, na qual ambos decidiram subir tarifas e falar grosso.
Para mim é um pouco óbvio que essa briga não vai levar ninguém a lugar nenhum. Acredito que para eles também seja. Olhando daqui, parece muito mais falta do que fazer...
Mas o fato é que a briga comercial já impacta os dados de atividade de ambas as economias, deixando os governantes ainda mais ressabiados.
Para nós, brasileiros, o maior impacto que essa guerra pode gerar é a desvalorização cambial.
Ao contrário da maioria dos países do mundo, o Brasil está em fase de retomada de crescimento. Ainda temos dúvida se o estímulo monetário que estamos dando é o suficiente para garantir maior crescimento.
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É importante para o Banco Central, neste momento, ter liberdade para reduzir a Selic, caso julgue necessário.
Porém, uma desvalorização cambial mais intensa, fruto de uma piora na crise comercial externa, pode tirar os graus de liberdade da política monetária.
Como isso funciona?
O Banco Central utiliza um modelo macroeconômico que é alimentado com algumas variáveis econômicas, como dados de atividade, expectativa de inflação do mercado, expectativa de Selic do mercado e câmbio.
Colocando esses dados no modelo, o BC faz a sua previsão de inflação.
O gráfico abaixo mostra a previsão do último relatório de inflação de junho de 2019.
Após rodar suas previsões, o Banco Central olha se a inflação do modelo está caminhando para as metas de inflação estabelecidas pelo CMN.
Caso a inflação projetada esteja desviando para cima, o BC tem que ajustar a Selic para cima, para que a inflação futura volte para a trajetória de metas.
Caso a inflação projetada esteja desviando para baixo, o BC pode reduzir um pouco mais a Selic, dando uma folga maior para toda a economia.
E o dólar?
Como a cotação do real/dólar é um dos inputs para o modelo, a alta do dólar prejudica as projeções de inflação.
As últimas projeções foram feitas com um câmbio de 3,85 reais por dólar.
Hoje, isso é o que temos:
O dólar se encontra no patamar de 4,18. Isso é 8,7 por cento maior do que o dólar do modelo.
Apesar do repasse cambial (impacto do dólar nas projeções de inflação) ser bem menor em épocas de atividade fraca, ele é não linear, ou seja, ele é baixo até uma certa desvalorização. Depois disso, ele cresce rapidamente.
Por conta disso, o mercado está bem de olho no comportamento do real.
Novas desvalorizações podem colocar água no chope do BC.
O BC vem fazendo intervenções no câmbio à vista, vendendo reservas para controlar as distorções do mercado que a fuga de capitais causa.
Já vendemos cerca de 1,3 bilhão de reservas. O que não é nada perto dos 386 bilhões de dólares que temos.
O mercado de juros chegou a precificar Selic indo até 5 por cento no final do ano, mas agora revisou para uma queda até 5,4 por cento.
Novas altas do dólar podem levar esses juros ainda mais para cima. E temos que ficar extremamente atentos a isso.
A guerra comercial parece ser o motivo mais influente, mas a crise do calote na Argentina também não ajuda em nada.
O Banco Central está tentando amenizar com suas intervenções, mas não sabemos até onde ele consegue manter a cotação abaixo dos 4,20.
Essa é a variável chave para quem opera juros hoje.
Daqui a 2 semanas teremos Copom, e até lá, muita água pode rolar.
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