Não há fatores efetivos que possam induzir o real à apreciação como tendência, admitindo-se, tão somente, movimentos induzidos e pontuais de curtíssima duração e não sustentáveis, consequentes de ações de intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio, que tendem a motivar volatilidade e provocar oscilações perturbadoras nos preços da moeda americana.
O contexto adverso que o Brasil enfrenta no setor externo não é susceptível de correção de rumo no curtíssimo prazo, por isso o país deverá conviver com fluxos de recursos externos cadentes, além, naturalmente, de estar submetido ao risco de saída dos que aqui ainda estão investidos.
As incertezas sobre o comportamento da economia brasileira se fizeram maiores do que a atratividade que a taxa de juro elevada que o país possa proporcionar aos investidores estrangeiros, que assim buscam novos redirecionamentos para mercados tradicionais em fase de recuperação e/ou emergentes em melhor situação macroeconômica.
Portanto, dólar e juro em alta faz todo sentido, mas nada dá suporte a que também a BOVESPA evidencie tendência de alta, absolutamente incompatível com o momento, tanto é que não conseguiu sustentar a performance.
A perspectiva de nova redução mensal de US$ 10,0 Bi no programa de incentivo monetário do FED reduzindo-o para US$ 65,0 Bi mensais é um fator que deve ser absolutamente intranquilizador para os países emergentes, em especial para aqueles que estão entre os mais vulneráveis, como o Brasil.
A Presidenta Dilma já destacou ontem que é preciso ter atenção com os impactos do câmbio no IPCA. Esta tem sido uma estratégia de governo, em especial do Ministro Mantega, de destacar que o assunto está em foco e visa sempre causar alguma repercussão como se algo fosse ser feito, mas ocorre que no atual momento o BC já está fazendo o possível no mercado futuro e tem definida estratégia para intervenção no mercado a vista, que, contudo, salvo melhor juízo será pouco para inibir a alta da moeda estrangeira no momento de pressão maior.
Ao que tudo indica o Brasil, confirmando a sua perda de atratividade, não será agraciado com fluxos relevantes de capitais externos, e a nossa taxa de juro será estimulante para o desenvolvimento de operações especulativas em torno do real, que poderão ser realizadas no exterior, mas que de toda forma poderão causar reflexos distorcendo a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, até provocando volatilidade.
Como temos destacado as perspectivas negativas postas logo ao final de ano vem se confirmando até com rápido agravamento e tendência mais clara para o mercado dependerá ainda de dois eventos importantes, previstos para a quinta-feira: o IPCA-15 de janeiro e, principalmente, a ata do Copom. A partir deles, o mercado deve afinar suas apostas para o rumo da política monetária, que hoje estão divididas.
Certamente os esforços do governo precisarão ser muito maiores do que os que vinham sendo projetados, pois o quadro em erupção tende a se demonstrar carente de medidas fortes e contundentes, que, até evidência em contrário, não serão adotadas pelo governo em ano eleitoral, e, ademais não provocariam reversão das expectativas no curto prazo.
No câmbio, em especial, o BC dispõe de instrumentos de baixo calibre para enfrentar uma demanda mais acentuada impactando no mercado à vista, e, embora disponha de reservas cambiais em boa monta, não é crível que as “queime” num momento em que os fluxos favoráveis não evidenciam possibilidade de recuperação no curto/médio prazo.
A tendência do governo no atual momento será prioritariamente preservar reservas cambiais, e isto pode provocar que tenha que suportar uma alta do preço da moeda americana acima do desejável e com grande pressão inflacionária.
O esforço até agora tem sido na emissão de mensagens verbais procurando fortalecer que tudo está sendo objeto de extremo rigor, mas seriam mais valiosas atitudes do que palavras deixando incontestável o propósito de reconquista da credibilidade, fortemente atingida.
A tendência de alta do preço da moeda americana irá se consolidando, a despeito de alguma volatilidade, mas é sustentável e com fundamentos.