Começou
Esta terça-feira é emblemática para os mercados, um potencial marco do iminente estouro da próxima bolha de ativos. Explico...
Os yields de 10 anos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) acabam de atingir o patamar mais elevado dos últimos cinco meses.
Os yields dos títulos alemães de 10 anos, por sua vez, acumulam a décima alta nas últimas onze seções.
O mesmo ocorre com os títulos japoneses de 10 anos: no patamar atual de 0,45%, seu movimento mais recente foi de alta de 6 pontos-base.
Resumindo: os juros pagos pelos principais títulos em esfera global sobem destacadamente, e isso tem causas e consequências bastante sérias.
Via de mão única
Preços e rendimentos (yields) dos títulos de dívida soberana movem-se em direções opostas. Se o mercado aumenta sua demanda pelos chamados bonds, elevando o seu preço, naturalmente o rendimento do título cai, posto que se está pagando mais caro por ele.
Exemplo: se um título é vendido por $100, com um cupom de 10%, ele oferece um rendimento (yield) de 10%. Agora, caso o mesmo título seja vendido por por 80, o seu rendimento (yield) seria de 12,5%.
Tão simples quanto a mecânica de preços/rendimento dos bonds é a situação atual do mercado de títulos soberanos:
Se os rendimentos dos títulos de dívida estão zerados, ou grosso modo os governos estão emprestando dinheiro por anos sem cobrar juros, basta posicionar-se na ponta vendedora (short) dos títulos, e esperar os yields subirem (preços caírem).
Afinal, tornou-se uma via de mão única.
A causa (e a corrida pela segurança)
O que pode explicar o rali dos yields dos títulos?
- Expectativa de retomada do crescimento nas economias
Expectativa de inflação maior à frente
Aversão a risco, com mais gente procurando a segurança dos títulos soberanos de melhores ratings, referência para taxa livre de risco, o que pressiona o seu preço.
Ou simplesmente uma correção de rota?
Por um instante, os mercados acreditaram que o cenário de governos emprestando dinheiro por 10 anos a juros zero duraria para sempre...
Os programas adicionais de estímulo na Europa, de afrouxamento quantitativo, alimentaram ainda mais essa visão deturpada de que os preços dos títulos subiria infinitamente, sustentando para sempre os juros (yields) do títulos em zero ou mesmo em terreno negativo.
A via de mão dupla
Temos um caso interessante, e um tanto desconfortável: aversão ao risco que gera mais aversão ao risco, em um movimento que se retroalimenta.
Ora, se a aplicação segura está pagando mais, vou exigir maior prêmio ou maior retorno potencial para ir para uma mais arriscada...
E o aumento de nível de yield oferecido pelos títulos pressiona os ativos de risco não apenas por reduzir a sua atratividade relativa, mas, também, pois força os seus valuations para cima, torna os ativos de risco mais caros, uma vez que aumenta o custo de capital das empresas, no caso dos modelos tradicionais de fluxo de caixa descontado, por exemplo, impactando o cálculo do WACC (custo médio ponderado de capital).
Ou seja, o rali dos yields força um reapreçamento generalizado dos ativos.
A armadilha
Não bastasse, a interferência dos Bancos Centrais na tentativa de prover liquidez e suavizar os movimentos dos mercados acaba criando uma outra armadilha...
Lembrem, por exemplo, do comportamento do VIX, o “indicador do medo” ou índice de volatilidade dos mercados, uma quietude desconfortante, que recentemente havia chamado atenção aqui no M5M...
Enquanto todos esperam o próximo cisne negro, essa acomodação da volatilidade acaba, de certa forma, enganando os modelos de VaR (Value at Risk), que, por sua vez, dão “permissão” para os gestores tomar mais risco.
A marca
O evento desta terça-feira se encaixa rigorosamente na tese mais recente da série Palavra do Estrategista, da bolha alimentada pelos Bancos Centrais globais, com alerta justamente para os níveis descabidos assumidos pelos juros de mercado em nível global, antevendo um rali dos yields que forçaria reapreçamento geral dos ativos.
Trata-se de mais um alerta importante do Palavra do Estrategista, que, prestes a completar um ano desde o seu lançamento, soma-se a outros ainda mais relevantes: a comprovação de rigorosamente TODOS os dez pontos da tese original de "O Fim do Brasil", a recomendação de dólar desde R$ 2,20, o alerta para a "destruição da Petrobras" antes do estouro do Petrolão (com as ações negociadas acima de R$ 23), e a recomendação de posicionamento em juros pós-fixados mesmo quando parte do mercado migrava para juros pré (movimento posteriormente frustrado).
Hoje o Felipe Miranda, (ir)responsável pelo Palavra do Estrategista escreveu um editorial em tom de desabafo, com uma nota de agradecimento, e uma convocação aos leitores.