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A história do homem por trás da TSMC

Publicado 23.03.2023, 18:39
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Recentemente, o mundo se viu envolvido em dois grandes dramas: a escassez global de semicondutores e a crescente competição estratégica entre a China e os Estados Unidos. Uma das principais empresas em ambos os dramas é a TSMC (TSMC34 (BVMF:TSMC34)), amplamente conhecida por investidores no mundo todo, já que se trata da principal fabricante de semicondutores do planeta. 

Agora, eu aposto que você não conhece a história do seu fundador: Morris Chang. 

A indústria de semicondutores, da qual tanto China e EUA são dependentes (e o resto do mundo também), é interconectada. O design acontece nos Estados Unidos, a fabricação é feita em Taiwan ou na Coreia do Sul, a partir de produtos importados do Japão, da Alemanha, uma parte até da Ucrânia, e a montagem final do produto ocorre na China. 

A cadeia de suprimentos é longa e delicada, mas o principal componente dela são os semicondutores feitos pela TSMC, que detém 90% do mercado de chips de 5 nanômetros ou menos. E ela foi criada por esse simpático senhor da foto:

Morris nasceu em julho de 1931, no sudeste da China. Sua infância foi marcada por três guerras: a Guerra Sino-Japonesa, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Civil Chinesa. Apesar da sua família ser de classe média, eles não eram bem de vida. 

Isso motivou Morris a estudar e a trabalhar muito. Aos  18 anos ele foi aceito em Harvard. Quando recebeu a notícia, a sua reação, de acordo com as suas próprias palavras, foi de "pura euforia e quase incredulidade". 

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O problema é que Harvard era ótima para produzir elites sociais e acadêmicas, como advogados, contadores e políticos, mas não era tão boa para engenheiros e Chang já sabia que queria ser engenheiro. Por isso, depois do seu primeiro ano lá, ele pediu transferência para o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e concluiu, rapidamente, o seu bacharelado e mestrado em Engenharia Mecânica. 

Ele até tentou fazer um doutorado, mas falhou em seus exames de qualificação duas vezes. Sem doutorado para fazer, Morris começou a trabalhar na Sylvania Electric Products.  Logo se tornou um dos principais engenheiros da empresa e, em 1958, recebeu uma oferta para se juntar à Texas Instruments como supervisor de engenharia, com responsabilidades sobre uma linha de produção. 

Na época, a IBM (NYSE:IBM) estava trabalhando em um produto que, eles acreditavam,  representaria uma grande inovação: seu primeiro computador mainframe, que usava transistores em vez de tubos de vácuo. Pra dar conta da demanda, a IBM fez uma terceirização da sua produção de chips para a Texas Instruments. Esse foi o embrião do que definiria a carreira de Chang. 

Quando Morris começou a trabalhar na Texas Instruments, a planta da IBM estava produzindo chips com um rendimento de cerca de 10%: no jargão da indústria, o yield da produção era de 10%. Num  processo tão delicado e complexo quanto a fabricação de semicondutores, pequenos defeitos se acumulavam com altas taxas de erro. Ou seja, nove entre dez chips produzidos pela IBM falhavam, daí o yield de 10%.  

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Depois de um tempo batendo cabeça e experimentando “receitas”, Morris conseguiu melhorar o yield da sua linha de produção para cerca de 20%. Isso parece pouco se comparado aos números de hoje, mas na época foi um marco. Tanto que, em 1961, Morris foi promovido a gerenciar uma grande seção de engenharia que desenvolvia transistores de germânio. 

Com o objetivo de apoiar o seu jovem e promissor funcionário, a Texas Instruments se ofereceu para pagar o doutorado de Morris. Dessa vez ele passou com louvor no exame de qualificação e, poucos meses depois do seu retorno, o vice-presidente da divisão de semicondutores o convidou para assumir o comando de um departamento de produtos. De repente Morris virou  gerente geral, responsável por mais de 2.000 pessoas.

A Texas Instruments começou a fabricar transistores em escala e Morris fez outra contribuição altamente lucrativa para a empresa. Em vez de cobrar caro dos seus clientes pelos produtos, Morris percebeu que o melhor a se fazer era otimizar a produção. E qual era a melhor forma de otimizar a produção? Produzindo mais. 

Ele contratou a Boston Consulting Group para formalizar o seu pensamento. O resultado foi a Curva de Aprendizagem de Preços, um modelo que estabelece preços baixos no início do contrato, para impulsionar o volume de fabricação e aumentar a produtividade, rapidamente. Além disso, como consequência positiva, ao reduzir o preço, a Texas Instruments também foi capaz de reconquistar o market share que havia perdido na década. 

Isso tornou o departamento de circuitos integrados da Texas Instruments o maior e mais rentável departamento de circuitos integrados do mundo. E Morris foi promovido de novo, dessa vez a vice-presidente. Agora ele era responsável pelo negócio de semicondutores da Texas Instruments inteira. Para quem tinha saído da China para os Estados Unidos quando tinha apenas 18 anos, era uma posição e tanto. 

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Morris ficou nesse cargo por seis anos, até ser transferido para a divisão de produtos para o consumidor. A Texas Instruments é muito conhecida pelas calculadoras que produziu e isso não é à toa. A gestão da empresa apostou nesse mercado e mandou Morris para dirigir o setor. 

Foi um erro. Os produtos eram diferentes, os clientes eram diferentes, o mercado era diferente e Morris não conseguiu fazer o setor vingar. Então, cinco anos depois de ser transferido para lá, transferiram ele de novo para ser VP de qualidade e eficácia de pessoas (quase um diretor de RH). Esse movimento desmotivou Chang, que acabou não durando muito mais tempo na empresa, até que, em 1983, ele resolveu sair da empresa, renunciando a 30 anos de serviço. 

Claro que isso não passou despercebido por outras empresas. Um dos melhores engenheiros de semicondutores do mundo estava repentinamente desempregado. O telefone de Morris começou a tocar. Uma das chamadas veio do governo de Tawain, oferecendo o cargo de presidente da Instituição de Pesquisa de Tecnologia Industrial (ITRI). 

A ITRI era um esforço do governo taiwanês para responder a uma das questões mais importantes enfrentadas por qualquer país em desenvolvimento: como manter de forma sustentável o padrão de vida de sua população. 

Naquela época, Taiwan não tinha a economia de primeira linha que tem hoje. Suas forças eram produtos agrícolas e bens manufaturados de baixo valor. O governo da época estava comprometido com a mudança para uma cadeia de valor mais alta e sabia que, para alcançar esse objetivo, precisaria desenvolver capacidades de ponta e tecnologias de maior valor. A ITRI foi criada com a missão de conduzir pesquisas científicas aplicadas para fins industriais e, em seguida, fazer o spin-off dos produtos bem-sucedidos como empresas privadas. 

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Chang encarou aquilo como um desafio. E em um ambiente completamente novo, ele se tornou o presidente da ITRI. No início não foi fácil. Ele era um estrangeiro, nascido na China continental, e tinha aprendido tudo o que sabia sobre semicondutores nos Estados Unidos. Mas estava fazendo progresso, compartilhando seus conhecimentos e transformando a ITRI em uma organização de alto desempenho, quando foi abordado por Li Kwoh-ting. 

O Li era uma figura extremamente importante no desenvolvimento econômico de Taiwan. Depois de mais de uma década como ministro da Economia e da Fazenda, estava encarregado de promover a ciência e a tecnologia em Taiwan. E foi aí que ele apresentou um plano para Chang. 

O governo taiwanês queria desenvolver expertise em semicondutores. Eles tinham a tecnologia de fabricação, que haviam licenciado da RCA, além de estarem dispostos a investir mais. O que significava, basicamente, um cheque em branco. 

Chang teve quatro dias para desenvolver um plano de negócios. Sua conclusão foi muito direta: eles tinham muito pouca força na indústria, nenhuma em design de circuitos integrados, pouco em vendas e marketing e muito pouco em propriedade intelectual. O que Taiwan tinha era uma vantagem competitiva na fabricação do wafer de semicondutor. 

Com base nisso, Chang decidiu criar uma empresa B2B, coisa completamente nova até então, que só fizesse chips e não tivesse mercado no consumidor final.

Você se lembra da época em que ele trabalhou na Texas Instruments, fazendo chips para a IBM? A nova empresa era tipo isso, mas focada nos semicondutores, sem chips e produtos prontos.

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Chang viu que a indústria de semicondutores estava evoluindo e se concentrando,  de forma progressiva,  em processos de fabricação cada vez mais sofisticados. Isso iria demandar  especialização. Por isso uma fábrica puro-sangue poderia ser a solução, removendo a necessidade de cada startup de semicondutores construir sua própria fábrica. 

A princípio pareceu um tiro no escuro, mas ele confiava em seus 30 anos de experiência na indústria de semicondutores. 

Lembra do dinheiro do governo? Ele veio, mas só a metade. O resto Chang teve que levantar. Ele até tentou a Texas Instruments e a Intel (NASDAQ:INTC), mas eles não conseguiram enxergar o que ele enxergava. Então, após ter  esgotado praticamente todas as outras opções, ele se reuniu com uma fabricante holandesa de eletrônicos, a Philips.

A Philips acabou investindo 28% do capital. Eles também compartilharam algumas informações-chave sobre o processo de litografia que era usado pelas principais empresas de semicondutores, em meados  dos anos 80. Litografia, se você não sabe, é o processo de criação dos circuitos nos semicondutores.

Alguns empresários locais também foram fortemente incentivados a investir, pelo governo de Taiwan. No final, Morris conseguiu levantar a outra metade do capital. A TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) começou as suas operações em 1987, com Chang como seu fundador e CEO, e um capital de quase US$ 200 milhões. 

De lá pra cá a empresa cresceu. Não foi exatamente fácil, já que, em 1991, as empresas de semicondutores estavam acostumadas a serem verticalizadas. Em inglês o nome era integrated devices manufacturers, ou empresas que faziam o design e a produção dos próprios chips, inclusive dos produtos para os consumidores finais. Como a própria Texas Instruments fez com as calculadoras. 

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A ideia de Chang era que essas indústrias deixassem a verticalização e terceirizassem a produção dos componentes. Os equipamentos seriam modulares. Ou seja, era só combinar os módulos para atender a necessidade dos seus consumidores. 

Eventualmente essa moda pegou e as interfaces modulares se tornaram padrões. Aí, startups começaram a surgir sem a necessidade de criar uma fábrica. Era só contratar a TSMC para produzir os chips. De repente, uma indústria que era definida pela integração vertical, devido aos seus altos custos de capital e de propriedade intelectual, passou a ser definida pela integração horizontal. 

Em 1994, um ano após a abertura da sua terceira fábrica, a TSMC realizou sua oferta pública inicial (IPO) em Taiwan, com um valor de mercado de US$ 4 bilhões. Nos primeiros anos do século XXI, impulsionada pelo crescente mercado de chips dedicados a gráficos, a TSMC alcançou e ultrapassou os seus concorrentes e se colocou em uma posição quase imbatível. Hoje a TSMC tem um dos portfólios de patentes mais valiosos do mundo.

Depois de 24 anos, em meados de 2018, Morris Chang se aposentou pra valer, com 86 anos na época. Apenas 2 anos depois, a TSMC anunciou um lucro operacional de 20 bilhões de dólares, com 48 bilhões de dólares de receita. 

Mesmo com números tão superlativos, agora em 2023, com o mercado de chips de 5 nanômetros dominado, a empresa quer expandir. O plano é gastar cerca de 40 bilhões de dólares em CAPEX, inclusive com a montagem de uma fábrica nos EUA. Até porque as tensões entre China e Tawain aumentaram.

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A TSMC é uma história sobre globalização. É uma história sobre o milagre econômico de Taiwan. E é uma história sobre Chang, um chinês, nascido no continente, que foi o maior responsável por criar a proteção mais efetiva de Tawain contra uma invasão da China. Afinal, se alguma coisa acontecer com a empresa, metade do mundo para de funcionar e a China sabe do peso que isso tem. 

Últimos comentários

Pois é. Por que montar a fábrica nos EUA já que lá não viram o potencial dele nem tão pouco investiram? Colocar o mesmo como um gerente de RH??
Oe orientais investem a longo prazo e os americanos sao imediatistas
Excelente texto! parabéns
Muito bom! Obrigado, excelente história. Mostra como conhecimento é extremamente estratégico.
Gostei bastante da leitura, Thiago! Valeu pelo texto
muito bom! obrigado pela matéria!
840408440
caindo ferro
Top.
ótima Matéria
Grande história.
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