A inflação é a desvalorização da moeda, que é constatada pelo aumento generalizado de preços e medida pelos índices de inflação.
O preço do tomate subir fortemente por problemas climáticos não gera, por si só, a inflação. Ela é o resultado de algo disseminado, associado ao balanço de oferta e demanda em uma economia, com suas diversas faces.
Se você não come quiabo, não vai à academia ou não come fora de casa, estes componentes não fazem parte da inflação para a sua realidade. Por isso, embora a inflação seja algo geral, e não apenas a valorização de um produto, há diversos índices para o seu acompanhamento.
O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, calculado pelo IBGE). Ele é o foco da política de metas de inflação do Banco Central. Os itens cujos preços são acompanhados e o seu balanceamento baseiam-se na Pesquisa Orçamentária Familiar (POF, do IBGE) e o foco é o consumo das famílias.
Já o IGP-M e o IGP-DI são calculados pela FGV e diferem entre si basicamente pelo período de coleta. Possuem 60% de sua composição de preços no atacado (IPA), 30% de preços ao consumidor (IPC) e 10% pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Por ter um peso maior de preços no atacado, representa com maior proximidade os custos de produção das atividades agropecuárias, um dos motivos pelos quais normalmente deflacionamos as cotações dos produtos do setor pelo IGP-DI.
Deflacionar é trazer as cotações ao valor presente. Se a moeda desvaloriza (inflação), o dinheiro corrobora com o saudosismo e “antes” valia mais (salvo em movimentos deflacionários).
Como exemplo, um boi de R$315,13/@ em agosto de 2021, considerando o valor impresso na nota de venda ao frigorífico (nominal), equivaleria hoje a R$344,29/@, deflacionando os preços pelo IGP-DI (ainda sem considerar a inflação de agosto). Em outras palavras, o dinheiro de outrora valia mais e, quando atualizamos para a moeda de hoje, precisamos de “mais reais” para o mesmo poder de compra.
Cenário atual do boi gordo
Enquanto a cotação nominal do boi gordo cedeu 0,8% entre agosto de 2021 e agosto de 2022, em preços reais houve recuo de 9,2%.
Analisando o acumulado de 2022, até agosto, temos uma média nominal de R$329,57/@, valor 6,4% maior que a média nos primeiros oito meses de 2021. Considerando preços deflacionados pelo IGP-DI, houve queda de 5,4% e se o ajuste for feito pelo IPCA, a desvalorização foi de 4,0%. Veja a figura 1.
Figura 1. Evolução dos preços do boi gordo, considerando valores nominais (R$ e US$) e reais (IGP-DI e IPCA).
Obs: médias até agosto de cada ano
Fonte: FGV / IBGE / CEPEA / HN AGRO
Considerando preços do bezerro, houve queda de 1,3% no acumulado de 2022, mesmo em preços nominais. Em cotações reais, a queda foi de 12,2% com ajuste pelo IGP-DI e de 10,9% pelo IPCA.
Perceba como, no longo prazo, os valores deflacionados pelo IGP-DI, “sobem mais”. Em outras palavras, como a inflação de longo prazo é maior segundo o IGP-DI, a moeda perdeu mais valor no intervalo (com isso o preço deflacionado sobe mais). Desde janeiro de 2000, o IGP-DI subiu 555%, enquanto o IPCA aumentou 301%.
E daqui em diante?
Como abordamos nesta seção em outras ocasiões, estamos na fase de baixa do ciclo pecuário, o que resulta em desvalorizações reais de preços, geradas por mais oferta de gado para abate.
Na média de 2022 a tendência é de queda real do preço. Isso não descarta, no entanto, a possibilidade de que o mercado ganhe fôlego nessa reta final de 2022, com a melhoria do consumo doméstico, associada às exportações em bom ritmo.