O tripé manco
Começamos a semana curta para os mercados com uma série de referências para o querido (para a oposição) tripé macroeconômico: câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal.
Na semana passada tivemos a interrupção do ciclo de altas da Selic. No final da sexta-feira o governo anunciou a extensão do programa de intervenção no câmbio (swaps). Hoje as manchetes destacam a nova maquiagem para garantir a meta fiscal do primeiro quadrimestre deste ano: a União adiará o repasse de royalties aos estados e municípios; simples assim.
Corolário óbvio: uma hora essa conta vai chegar.
PS: enquanto isso, aproveite a janela de oportunidade que o fim do ciclo de alta da Selic abriu sobre os fundos imobiliários.
Mais infla, menos crescimento
Os responsáveis pela política econômica mexem os seus pauzinhos enquanto o mercado enxerga cada vez menos crescimento e mais inflação. O relatório Focus desta segunda-feira mostrou que as estimativas do mercado para a expansão do PIB em 2014 saíram de 1,50% na semana passada para 1,44% agora.
E a inflação?
A projeção do mercado para o IPCA foi mantida em 6,47% para 2014, e subiu de 6,01% para 6,03% em 2015.
Pior do que está fica...
As projeções acima são a mediana dos agentes de mercado, e têm sim impacto sobre os indicadores reais. Agora, se filtrarmos pelos maiores acertadores de projeções (top 5 do relatório Focus), a coisa fica ainda mais preocupante: os grandes acertadores esperam IPCA com variação de 6,30% este ano e 7,03% no ano que vem (!).
A título de comparação...
A meta do governo para a inflação é de 4,5%, e o prognóstico do Planalto para o crescimento do PIB é de 2,3%. Vejamos...
A inflação de 12 meses está rodando em 6,37%, ao passo que o PIB “subiu” 0,2% no primeiro trimestre deste ano. Tudo isso antes de um segundo trimestre difícil, com Copa e queda forte no índice de confiança dos empresários, além de um terceiro trimestre de eleições... lembrando que o próprio governo alertou que “estagnação é normal no período eleitoral”.
O que isso quer dizer?
O papel do insider
Assim como os mercados, a economia também é determinada pela ação e interação entre os elementos, com elevado componente comportamental inserido. Trocando em miúdos, há o impacto da participação e das crenças dos agentes econômicos, o que necessariamente reflete sobre o seu resultado final. Há obviamente o importante papel dos insiders (quem está dentro) na formação das expectativas, tanto do governo quanto das empresas (no caso dos famosos “guidances”).
Ainda assim, parece bastante claro que o atingimento das projeções está bastante distante, mesmo para quem em tese têm vantagem - uma vez que podem controlar as principais variáveis que levarão ao resultado final (no caso em questão: as medidas do governo relacionadas ao tripé macroeconômico).
Agora, imagina para o que está completamente fora do seu alcance...
Ganha quem perde (capítulo infinito)
Recentemente conversamos sobre a dura realidade para as concessionárias de rodovias e companhias de infraestrutura, cujas ações em primeiro momento ganham com a derrota nos leilões de novos projetos. A percepção é mais ou menos assim: você tem a certeza de um aumento da necessidade de investimentos e de um esforço de integração das operações pressionando os resultados, mas ainda não tem certeza quanto à rentabilidade do investimento.
Hoje, quem ganha é JBS (JBSS3), por perder para a Tyson Foods a disputa pela aquisição da companhia Hillshire. Além do argumento do parágrafo anterior, JBS e Tyson pareciam ter aberto um leilão pela Hillshire, o que agrava a questão do Investimento (mais elevado).... De fato, boa notícia para JBS - nós mesmos vínhamos criticando a investida. Entretanto, ainda incapaz de sobrepujar outras adversidades de JBS: excessivamente alavancada com um histórico de muitas aquisições e dificuldade de gerar caixa.
Goela abaixo
Do outro lado do Ibovespa, a principal queda é das ações da Brookfield (BISA3). A companhia está com oferta para fechamento de capital na mesa. Ela, que vendeu as ações para o mercado a R$ 12,6 (valores ajustados) em 2006, está com proposta para recomprar os papéis por R$ 1,60.
Enquanto espera o laudo de avaliação do Banco Santander para o preço do fechamento de capital, o controlador de Brookfield resolveu fazer um adiantamento de R$ 500 milhões para futuro aumento de capital. É mais ou menos assim: ou os minoritários aceitam os R$ 1,60 por ação, ou, em caso de não aceitação, terão de colocar mais dinheiro na companhia para acompanhar o aumento de capital, sob o risco de ter sua participação diluída.
Ou vai ou racha.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.