Este começo de ano (em que o ano ainda não começou) é trágico. A Bolsa sangrou ontem e não consegue engatar um respiro convincente hoje. O dólar voltou a tocar em R$ 2,40, com dados ruins da China, dados positivos dos EUA e uma atuação menos enfática do Bacen. Economia forte tem moeda forte; economia fraca tem moeda fraca. No final das contas, Brasil é commodity, real é moeda exótica e os sinais mais recentes (de força) da economia americana são combustível para o discurso da retirada dos estímulos assumir contornos mais drásticos. A propósito, se o ano ainda não começou de fato, tem tudo para engrenar hoje: Ben Bernanke tem discurso marcado para as 17h30.
Agora adivinha...
Quais foram os principais destaques da balança comercial brasileira, que apresentou o pior resultado desde 2001? A China foi o principal destino das exportações nacionais, totalizando US$ 46 bilhões (+10,8%). Do lado das importações, a conta de petróleo novamente chamou atenção. Na ausência de capacidade de refino interna, a Petrobras comprou 13,8% mais combustíveis e lubrificantes de fora do que em 2012. E comprou mais caro lá fora do que vendeu aqui dentro.
Zé com zé
Mas como bom instrumento de influência sobre os indicadores econômicos, a conta petróleo bate e afaga. Não fosse a exportação de sete plataformas de petróleo, manobra que rendeu US$ 7,734 bilhões, o superávit de US$ 2,5 bilhões da balança comercial na verdade seria um déficit histórico, da ordem de US$ 5,2 bi. A venda foi da Petrobras daqui para subsidiárias da Petrobras no exterior. Uma manobra contábil mesmo, uma vez que as plataformas não saíram do lugar.
Pior do que tá não fica?
Quem também apontou um déficit pesado foi o mercado automotivo. Os esforços de dezembro não foram suficientes para impedir a primeira queda de vendas no setor em 10 anos, segundo dados da Fenabrave. Só para lembrar que esse resultado de 2013 foi construído sob um ambiente estimulado, com benefício fiscal de IPI e linhas de financiamento mamata do BNDES. Para 2014, a mamata do IPI caiu, os preços dos populares sobem 9% na média com a obrigação de ABS e airbag, e o governo já sinalizou em alto e bom som a necessidade de enxugar o tamanho do BNDES. Isso, sem contar o aumento de preço do aço...
Complete a frase
Todo mundo lembra da retirada dos estímulos nos EUA, mas às vezes esquece que os estímulos também estão sendo retirados por aqui. Se conseguimos um crescimento pífio da economia em um ambiente estimulado (tanto aqui quanto lá fora) em 2013, conseguiremos um crescimento ________ da economia em um ambiente sem estímulos em 2014.
Aspas para o Mantega
Falando nessa morosidade do segmento automotivo, o ministro hoje afirmou que “as empresas não podem demitir os trabalhadores”, quando perguntado sobre demissões na GM. A afirmação foi feita na apresentação do superávit primário, quando aproveitou para contrariar as estatísticas e dizer que “a desvalorização do real está em linha com a de outras moedas”. Depois disso, Mantega foi pessoalmente cobrar a Anfavea sobre as demissões no setor. Depois disso, ele para por uma semana para um merecido descanso. Nós merecemos.
Bolsa x Ibovespa
Ontem comentei que a primeira triste constatação de 2014 era, mesmo com a forte queda da Bolsa, eu achar NÃO achar que chegou a hora de comprar Ibovespa (ou BOVA11), que cresce pouco, não está barato e aguarda aumento nos prêmios de risco. Mas, mais uma vez, a Bolsa brasileira é muito maior do que o Ibovespa, e há sim opções interessantes fora do radar. Se eu compraria papéis do setor automotivo para 2014? Compraria, desde que fosse esta ação.
Dica cultural
“De maneira geral, nos últimos anos, o mercado pagou caro por empresas consideradas ‘portos-seguros’. Estas empresas estão sendo negociadas como se estivéssemos na Suíça, em múltiplos elevados ainda que no mesmo ambiente de risco Brasil. Em contrapartida, as empresas de menor capitalização de mercado assim como grandes empresas de setores que sofreram interferência do Governo nos últimos anos negociam em múltiplos baixos e como se essa situação fosse permanecer indefinidamente.” Isso é o que pensa o pessoal da GTI Administração de Recursos. Remete às nossas conversas sobre os três universos distintos dentro da mesma Bolsa: (i) o das ações boas mas caras, (ii) do ruim e barato, e (iii) das estatais e empresas reféns de ingerência política. Para este fim de semana, entre levar o rebento pra comer um Mc, liberar a serotonina na pré-estreia do Ninfomaníaca e assistir ao Manhatan Connection, vale a pena dedicar uns minutos para conhecer as Perspectivas da GTI para 2014. É grátis, e provavelmente a única forma de você ficar mais inteligente daqui até o M5M de segunda-feira.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.