Mais uma vez, a Opep está cortando a produção de forma impressionante, e novamente hedge funds estão respondendo, ao fazer os preços atingirem níveis mais altos nesta semana.
E, uma vez mais, as sementes para a próxima destruição do mercado de petróleo já podem estar sendo plantadas sem que muitos se deem conta, até que a implosão pegue todos de surpresa.
Os sinais mais claros de que pode ter chegado a hora de colocar o pé no freio do rali do petróleo apareceram na quinta-feira, a partir de duas reportagens da Reuters e alertas emitidos pela Agência Internacional de Energia (AIE), sediada em Paris, que sugeriram que os preços acima de US$ 70 por barril podem ser insustentáveis neste momento.
Das duas matérias da Reuters, uma afirmava que os 14 membros da Opep e outros 10 produtores de petróleo aliados, sob a liderança da Rússia, podem ter que interromper seus cortes de produção até julho se as ofertas da Venezuela e do Irã continuarem caindo e os preços seguirem em disparada.
Pode haver uma restrição excessiva no mercado se a Opep não elevar a produção
Isso porque o prolongamento dos cortes de produção nessa situação pode restringir demais o mercado, segundo a reportagem da Reuters.
Citando uma fonte da Opep, a Reuters disse:
“Se houver uma grande queda na oferta, o petróleo pode passar de US$ 85, o que não queremos ver, por isso talvez precisemos aumentar a produção."
Enquanto isso, a AIE ressaltou, em seu relatório mensal de abril, que a demanda era uma peça “muito importante” da equação para o rebalanceamento do mercado petrolífero, e a perspectiva não tão animadora para a economia global aumentava a incerteza sobre o cenário neste momento.
AIE alerta para sinais heterogêneos sobre a saúde da economia mundial
A agência explicou melhor o cenário:
“Com relação a 2019, há uma divergência muito grande de visões entre a comunidade de analistas sobre a força do crescimento.”
“Mantemos nossa previsão de 1,4 milhão de barris por dia, mas reconhecemos que há sinais heterogêneos sobre a saúde da economia mundial, bem como visões divergentes sobre o provável nível dos preços do petróleo."
O petróleo West Texas Intermediate, dos EUA, e o Brent, negociado no Reino Unido, caíram mais de 1% cada um na quinta-feira, registrando sua correção intradiária mais forte em três semanas por causa dessas preocupações.
Mas, um pouco menos de 24 horas depois, os preços do petróleo subiram novamente, com os traders recitando o mantra dos cortes pelo chamado grupo Opep+.
A maneira como os gestores de fundos estão apostando alto no petróleo agora nos faz lembrar dos eventos de 2014 antes do primeiro crash provocado pelo óleo de xisto, alertou John Kemp, colunista de petróleo da Reuters, em um artigo publicado na quinta-feira.
Ele escreveu que, tanto naquele momento como agora, a ampliação das sanções dos EUA e outras interrupções não previstas, como o conflito na Líbia, foram essenciais para “impulsionar os preços no curto prazo e preparar o palco para a derrocada seguinte”.
Muitas similaridades entre o presente e o crash pré-2014
Kemp apresentou situações assustadoramente similares entre o mercado petrolífero atual em comparação com o que aconteceu há cinco anos, a fim de mostrar o caminho potencialmente perigoso que o comércio estava tomando.
Kemp escreveu:
“Em 2013/14, as sanções dos EUA ao Irã, em conjunto com interrupções temporárias – algumas reais, outras ameaçadas – causadas pelo conflito na Líbia e o avanço dos combatentes islâmicos ao norte do Iraque ajudaram a manter os preços bem acima dos US$ 100 por barril.”
“A Arábia Saudita e outros membros da Opep com capacidade ociosa agiram com lentidão, insistindo que o mercado continuava adequadamente abastecido e os preços não estavam altos demais."
“Mas hedge funds e outros gestores financeiros aumentaram suas posições líquidas compradas em futuros e opções de petróleo de 367 milhões para 626 milhões de barris, no prazo de seis meses até o final de junho de 2014, acelerando o aumento dos preços.”
“Os problemas de produção e os preços altos alimentaram os estágios finais do primeiro boom frenético de perfuração de xisto nos EUA, causando uma disparada na produção, ao mesmo tempo que o crescimento do consumo se enfraquecia.”
O alerta de Kemp pode ser profético, já que a produção petrolífera dos EUA atingiu as máximas históricas de 12,2 milhões de barris depois da retomada da atividade perfurativa, que vinha desacelerando desde fevereiro.
Febre compradora é contraintuitiva para o petróleo
Na quinta-feira, Scott Shelton, corretor de futuros de energia da ICAP, em Durham, N. C., citou diversas razões por que era contraintuitiva a atual febre compradora por parte dos Consultores de Negociação de Commodities (CTAs, em inglês) focados em petróleo, ou hedge funds, principalmente para o petróleo norte-americano.
Shelton afirmou:
“Vejo um mercado que não está mais vendido por causa das compras dos CTAs, e a extensão do índice agora se aproxima de 100% no WTI."
“Para mim, há muitos sinais aqui de que o mercado pode estar prestes a recuar, não apenas nos spreads do WTI, mas também no valor nominal.”
Ainda segundo o analista:
“Eu não quero descontar isso, pois isso pode fazer com que o mercado fique ‘fora de valor’ como aconteceu no final do ano passado, quando os preços caíram abaixo dos US$ 50 e acabaram em US$ 42. A única exceção é que a queda no fim do ano aconteceu durante o período de festas, o que significa que a tomada de risco foi mínima.”
Hora de vender quando Wall Street diz para comprar?
Agindo como animadores de torcida da atual disparada do petróleo, os bancos de Wall Street liderados pelo Goldman Sachs (NYSE:GS) vêm elevando suas previsões de preço para o petróleo nas últimas semanas, concentrando-se na restrição de oferta em vez das condições econômicas que poderiam sustentar o mercado.
No ano passado, diversos bancos disseram que o petróleo bateria nos US$ 100 quando o Brent se aproximou dos US$ 90. De repente, o mercado reverteu por causa de isenções inesperadas concedidas ao petróleo iraniano pelo presidente dos EUA, Donald Trump. O WTI despencou 40% no quarto trimestre, atingindo a mínima de US$ 42,36 em 24 de dezembro, antes de finalizar 2018 a US$45,10.
Ignorando a perspectiva de demanda pouco otimista da AIE, a RBC Capital previu, na quinta-feira, que o Brent atingiria US$ 80 até o verão, alertando que “muitos ‘touros’ feridos continuam seguindo a derrocada do 4T18."
Mas Shelton afirmou que esse otimismo por parte dos bancos era geralmente um sinal de venda.
Ele complementou:
“Sem ofender a pesquisa dos bancos, mas a ‘restrição de mercado’ como razão para um rali é geralmente culpa de uma razão para não ficar vendido. Eu sempre acho que se trata mais de um trade de spread/diferencial do que de um trade de preço nominal."