A curta semana nos Estados Unidos em função do feriado de Ação de Graças, o mais importante por aqui, pareceu interminável para quem está ou estava comprado em commodities, já que na sexta-feira os principais índices despencaram. O petróleo teve uma queda de incríveis 10,45% em uma sessão, justamente em um dia que antigamente os mercados não abriam, a “Black-Friday”, quando muitos comerciantes fazem promoções para tirar seus balanços do vermelho.
O BCOM (ex-DJAIG), o CRB e o SPGSCI fecharam a semana com baixas de 4,35%, 5,45% e 8,09%, respectivamente, sendo que dentre os componentes do CRB, por exemplo, apenas o trigo, o suco de laranja, e o algodão subiram no período.
Em um momento em que Europa, Estados Unidos e Japão tentam estimular suas economias para evitar uma deflação, a decisão da OPEP em não diminuir a produção de petróleo não ajuda muito. Na verdade tudo indica que a organização na verdade quer ver o barril cair mais para desestimular o contínuo crescimento da produção de petróleo de xisto, e de quebra prejudica a Petrobras que tem custo elevado para bombear óleo de águas profundas.
O café em Nova Iorque subiu para próximo de US$ 2,00, voltou na sequência para baixo de US$ 1,90 e rompeu as mínimas recentes encerrando tecnicamente negativo. O fechamento coloca em risco o teste de US$ 185,40 centavos, que uma vez rompido pode acelerar perdas para baixo de US$ 180,00 centavos.
Tudo indica que a indústria deve aproveitar a oportunidade para garantir alguma cobertura extra, mas não creio que possa ser suficiente para segurar uma liquidação mais significativa dos fundos, caso aconteça. As chuvas que caíram no “cinturão” produtor brasileiro foram em bom volume, ajudando o mês de novembro a ter precipitações acima da média em muitas regiões. Segundo meteorologistas o tempo abre um pouco por alguns dias, e depois volta a chover novamente, situação favorável para a lavoura.
Diversos analistas e traders estão percorrendo os cafezais para avaliarem a situação das árvores, o firmamento da florada, e o potencial da produção do ciclo de 2015/2016, respostas que ditarão a próxima direção dos preços. Conforme defendi neste espaço no comentário anterior, temos apenas algumas semanas para que os fundos de índice comecem a diminuir sua posição comprada, e se as cotações se mantiverem nos atuais patamares o volume de contratos a ser vendido pode passar de 20 mil lotes. Com os outros fundos também comprados, e uma percepção menos catastrófica da safra brasileira do que se falava anteriormente, o cenário fica vulnerável para mais quedas do terminal.
Como normalmente acontece, no decorrer de um mercado que sobe várias notícias altistas vão alimentando novas altas, e não é diferente quando se desenham baixas. A oferta e procura mundial de café não deve sofrer grandes variações com as novidades, mas interessantemente a China diz que pode produzir 2 milhões de sacas este ano, aumento significativo frente as 833 mil sacas da safra anterior. A associação de exportadores da Indonésia revisou suas estimativas de produção para 10,8 a 11,2 milhões de sacas, um pouco acima dos 10 a 10,8 mln anteriormente. Ao mesmo tempo Peru pode ter queda de 500 mil sacas, compensando potencialmente com um aumento do mesmo tamanho de Honduras, e a safra Mexicana deve ficar inalterada. A produção Vietnamita pode não se repetir neste ciclo, ou seja, ter uma queda com relação ao ano passado – muito embora parece ser cedo para dizer isto já que a produtividade no começo da colheita é normalmente mais baixa. A Colômbia pode surpreender na próxima safra dada a renovação do parque que não para de causar revisões maiores de sua safra.
O real brasileiro desvalorizou forte voltando para próximo de 2,60, reflexo da queda das commodities, e compensando parcialmente as perdas no campo. A nova equipe de Dilma tem um desafio grande pela frente, mas de cara já diminuiu a perspectiva de novos aumentos de juros, o que ajuda para planejar e principalmente executar planos para por as contas do Brasil em ordem – mas tira o gás no curto prazo para uma recuperação da moeda local.
A volatilidade implícita das opções do contrato “C” está no mais baixo nível desde o começo de fevereiro, indicando uma estranha tranquilidade dos participantes, que deve se alterar caso o arábica venha abaixo 180 centavos e a velocidade da queda aumente. O mesmo é verdade caso os altistas se animem e levem os preços para cima de 210 centavos.
Uma boa semana e bons negócios a todos.