Prelúdio
“Há sempre uma disposição na mente das pessoas a pensar que as condições existentes serão permanentes. Quando o mercado está em baixa e moroso, é difícil fazer as pessoas acreditarem que isso pode ser o prelúdio de um período de alta e de maior atividade. O único fato que pertence a todas as condições é que elas vão mudar. "
Charles Dow, 1900
O Charles Dow autor da frase é o que empresta o nome a um dos índices de ações mais importantes do mundo, o Dow Jones Industrial Average, da Bolsa americana.
O índice Dow Jones que vem renovando o seu recorde histórico dia após dia, e agora busca o respaldo (lastro) da temporada de divulgação de resultados das empresas americanas. Seria o prelúdio de que as condições estão próximas de mudar?
Fly to risk
Parte relevante do mercado ainda não aposta nisso, o que fica evidente não apenas pelo comportamento das ações, mas também pela redução da procura por segurança...
...ativos tradicionalmente associados ao “flight to quality” (voo para segurança) vêm perdendo espaço, vide a queda no preço dos títulos do Tesouro americano (menor demanda), ou a maior queda diária sofrida pelo ouro em 2014, na véspera.
Enquanto isso, o VIX, índice de volatilidade tido como o “indicador do medo”, saltou 17% na semana passada, em meio aos potenciais desdobramentos da crise do Banco Espírito Santo. Mas a crise do banco português minguou, e apesar da alta o VIX continua próximo do menor nível dos últimos sete anos, na casa de 12 pontos...
Os primeiros dissidentes
Apesar das referências acima, é uma referência de parte do mercado. Não, o voo para o risco não é mais um consenso.
Enquanto o investidor de varejo continua colocando grana, os institucionais (bancos, fundos de investimento e pensão, instituições públicas...) começam a tirar dinheiro do risco, vendo pouco espaço adicional para ganhos com as ações americanas, no maior nível de múltiplos dos últimos quatro anos.
Fosse tomar partido neste paradoxo entre Main Street (varejo) e Wall Street (institucionais), de que lado você acha que a corda vai estourar?
O ajuste inevitável
Até então falamos de referências do mercado americano, como se a nossa Bolsa estivesse alheia a tudo isso, isolada pela renovação das apostas para o rali eleitoral - em uma semana com ao menos três pesquisas eleitorais na agenda tentando capturar o saldo da Copa do Mundo.
Obviamente, não penso aqui em um impacto imediato sobre os mercados tupiniquins, mas sim no ajuste inevitável...
Reforçando o argumento: somos uma ilha de juros elevados em um mundo que toma riscos excessivos, com dinheiro farto e barato proporcionado pela política de estímulos e juros zerados dos Bancos Centrais pelo mundo nos últimos seis anos. O incentivo à tomada de risco excessivo é deliberado, ainda como mazela da crise subprime.
Esse cenário vem alimentando a migração de capital especulativo em busca da mamata brasileira - dos maiores juros reais do mundo e de uma volatilidade dos ativos de risco que desapareceu dos mercados globais (vide o índice de volatilidade VIX nas mínimas).
Quando a fonte do dinheiro farto e barato secar, os mercados como um todo sentirão um inevitável baque. E se as condições lá fora estiverem avessas à tomada de risco, com Bolsas invertendo tendência de alta e ativos de segurança a preços atrativos (lembra do ouro e dos Treasuries?), para onde você acha que os investidores irão correr?
A reclamação (Parte 1)
Tenho pintado um cenário pouco agradável para a Bolsa e os mercados brasileiros, o que tem gerado desconforto em alguns leitores.
“Poxa, estamos falando de riscos excessivos acarretando provável saída de recursos... e você vem falar de ‘Ações Para Comprar Agora?’”
Abordei a questão no PRO de ontem, mas a amplitude da dúvida faz valer a abertura da nota. De fato não mantenho perspectivas de um desempenho brilhante para a Bolsa no caso de manutenção do status quo (seja via oposição ou situação). E de fato sugiro uma exposição diminuta em ações - diria que algo em torno de 10% a 20% do seu patrimônio.
Portanto, reconheço que as ideias podem até parecer um contrassenso. Mas não são...
O esclarecimento (Parte 2)
(i) A ideia é sempre usar ações como a PEQUENA parcela de risco.
O grosso do seu patrimônio deve sempre ser alocado de forma conservadora - assim você tem fator multiplicador para o restante do portfólio nas ações, e não se machuca seriamente em períodos de eventual queda das ações.
Ou seja, mesmo que achasse que a Bolsa irá explodir para cima (o que não acho), não recomendaria a você posição de 100% em ações.
E com retorno nominal na casa de 13% ao ano em aplicações com baixíssimo perfil de risco, mesmo a ponta conservadora pode ser extremamente atrativa.
(ii) A Bolsa é muito maior do que o Ibovespa.
Uma perspectiva negativa para a Bolsa em termos gerais não é necessariamente uma perspectiva negativa para a ação X ou para a ação Y.
Especialmente quando o rali do índice é extremamente concentrado em pouquíssimos ativos até então sem alteração material de fundamentos, o que reforça a tese do ajuste inevitável.
Prelúdio?
Ninguém reparou, mas estamos em bull market.
O que mudou?
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.