Um filtro muito usado na busca por boas empresas para investir é verificar a distribuição passada de dividendos. Mas só olhar o retrospecto é insuficiente. É preciso analisar a distribuição de dividendos mais a fundo, com o objetivo identificar a capacidade de entregar proventos com qualidade.
Sem dúvidas, montar um portfólio com as melhores ações que pagam dividendos é uma excelente estratégia para aqueles que buscam na renda variável uma renda passiva.
Em geral, empresas que distribuem muitos proventos são aquelas que possuem um balanço financeiro mais sólido, e com uma baixa necessidade de novos investimentos.
No entanto, não se engane, olhar apenas para o dividend yield (indicador que mostra ao investidor o quanto de retorno em dividendos o ativo gerou nos últimos 12 meses, com base nas cotações atuais) pode se provar uma verdadeira catástrofe.
Em primeiro lugar, o indicador pode estar distorcido em razão do pagamento não recorrente de dividendos, quando acontece a venda de um ativo, ou algum desinvestimento que gera muito caixa – que poderá nunca mais voltar a acontecer.
Até porque, se uma empresa vende um ativo que estava gerando receita, a tendência é que a empresa fique menor, diminuindo o seu lucro e, por consequência, a sua capacidade de geração de caixa.
Outro ponto que precisa ser analisado é justamente a capacidade do pagamento dos dividendos serem sustentáveis no longo prazo.
A pergunta que os investidores devem fazer é: ‘Os lucros da empresa são suficientes para cobrir os proventos que estão sendo pagos?’
O pagamento frequente de dividendos normalmente está relacionado a uma vantagem competitiva da companhia frente as suas concorrentes, que acaba dando certa estabilidade nos seus lucros.
Mas isso pode mudar. Um aumento da competição pode ameaçar o fluxo de dividendos que antes parecia estável – fazendo com que a empresa precise reinvestir o seu lucro em novos negócios -, o que irá impactar materialmente a capacidade de distribuição de proventos.
Aliás, já aconteceram casos nas bolsas de valores brasileira e mundial em que empresas distribuíam mais dividendos do que podiam – às vezes com má intenção da própria diretoria, que desejava passar a imagem de que a empresa era sólida, quando ela não era -, resultando em graves prejuízos.
Vale ressaltar que o investidor que investe em empresas que distribuem todo ou uma parcela significativa dos seus lucros na forma de dividendos deve ter ciência que, quando isso acontece, a empresa normalmente não apresentará um crescimento elevado.
Em outras palavras, companhias de dividendos elevados não serão aquelas empresas que multiplicaram ao seu valor ao longo do tempo, justamente porque não irão reinvestir os lucros no seu negócio.
É claro que existem situações (exceções) que permitem que a empresa consiga se financiar com os seus fornecedores, necessitando de pouco capital para crescer, tornando viável que a companhia cresça mesmo distribuindo todo o seu lucro. Mas trata-se da exceção, e não da regra.
Desse modo, investir em dividendos é uma excelente estratégia, desde que o investidor tome cuidado com algumas situações que podem tornar os proventos insustentáveis no longo prazo.