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Açúcar: Entre brindes e baixas

Publicado 13.05.2024, 09:22
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Numa semana que começou com razoável otimismo e celebração devido ao tradicional Jantar de Gala do Açúcar em Nova Iorque e dos inúmeros eventos, reuniões e seminários na cidade cobrindo o mercado de açúcar e etanol, o mercado futuro parece ter dado de ombros e – apesar de bater heroicamente os 20 centavos de dólar por libra-peso durante a semana – fechou nesta sexta-feira melancolicamente a 19.26 centavos de dólar por libra-peso, uma queda mínima de 2 pontos. Para os vencimentos mais longos (de março/26 em diante) o mercado caiu de 11 a 37 pontos, média de seis dólares por tonelada.

Não há nada como um jantar de gala com whisky de qualidade para transformar os fundamentos do mercado de cabeça para baixo. De repente, após um brinde com um single malt, os mercados problemáticos parecem não ser mais que uma mera ilusão. Todos sabemos que a melhor análise de mercado vem não dos dados e tendências, mas sim dos efeitos de um bom escocês. E com cada gole, as preocupações com a realidade dos fundamentos vão desaparecendo, até que o otimismo — embriagado, é claro — toma conta. Realmente, quem precisa de sólidos indicadores fundamentalistas quando se tem um excelente destilado na mão?

Brincadeiras à parte, como me disse um trader do outro lado do mundo, “o mercado de açúcar em NY está simplesmente refletindo a inundação de açúcar provocada pelo Brasil nos últimos meses”. Não tem como argumentar contra. O Brasil exportou no ano safra encerrado em março último, portanto a safra 23/24, 35.2 milhões de toneladas de açúcar, ou seja, nada menos que 7.4 milhões de toneladas acima do volume embarcado na safra anterior. Enquanto não se revogar a lei da oferta e demanda, é ela – salvo alguns raros incidentes – que provoca a queda dos preços. Chega de ironia.

As reações dos participantes do mercado frequentemente se manifestam com certo atraso. É justamente por essa razão que os mercados de commodities tendem a oscilar drasticamente, tanto para cima quanto para baixo. O Homo Sapiens, estimulado por um impulso ancestral, muitas vezes se deixa levar pelo pânico: compra freneticamente quando os preços estão em alta e vende desesperadamente quando estão em baixa. E o preço de fazer exatamente o que todo mundo faz é receber exatamente o que todo mundo recebe.

Pensar de forma inovadora requer esforço e, sejamos honestos, o ritmo acelerado do mundo corporativo moderno deixa pouco espaço para a criatividade dos traders. Além disso, uma reviravolta inesperada do mercado pode devastar uma posição cuidadosamente construída, fazendo com que o trader pareça um Australopithecus perante o Conselho de Administração. Desafiar o convencional pode ser arriscado, mas é também a única forma de se destacar verdadeiramente em um mar de conformidade.

Curiosamente, no encerramento da semana do açúcar no Brasil em outubro do ano passado, um evento consagrado e tradicional oferecido pela Sucden, os participantes foram convidados através de um aplicativo a especular sobre as cotações futuras do açúcar ao fim de 2023. Embora não recorde o percentual exato, a maioria predizia que os preços em Nova York superariam os 30 centavos de dólar por libra-peso. Recentemente, em um evento da Alvean na vibrante Nova Iorque, uma consulta similar revelou que mais de 50% dos presentes (obrigado, Michael) projetam que, ao término deste ano, o açúcar flutuará entre 19.50 e 22.00 centavos. Este contraste não ilustra perfeitamente o exemplo do que falamos acima?

Considere os dois momentos distintos: outubro de 2023 e maio de 2024. O que realmente mudou? Durante a semana do Sugar Dinner no Brasil, em outubro, o preço em NY estava a 27.34 centavos de dólar por libra-peso, com o dólar cotado a R$ 5,0100 e o açúcar comercializado por aproximadamente 3,170 reais por tonelada. No encerramento de outubro, o volume total exportado no acumulado dos doze meses não ultrapassava 29.5 milhões de toneladas. A moagem de cana-de-açúcar, por sua vez, girava em torno de 550 milhões de toneladas, com uma expectativa de alcançar 615 milhões até o final do ano. O resto da história todo mundo sabe.

Os fundos especulativos basicamente mantiveram a mesma posição vendida em NY, uma pequena redução, mas pelo COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, com base na posição de terça-feira passada eles tinham 47,685 lotes vendidos.

Até o dia 30 de abril de 2024 as usinas efetuaram a fixação de preços para um volume superior a 22,78 milhões de toneladas de açúcar destinadas à exportação. O preço médio consolidado foi de 21,94 centavos de dólar por libra-peso. Ao ser convertido para a moeda local, o preço médio FOB no porto de Santos, já incluído o prêmio de polarização, situa-se em cerca de R$ 2,490 por tonelada, indicando uma redução de aproximadamente R$ 27 por tonelada em comparação à estimativa anterior de janeiro. Esse volume representa um percentual de fixação foi de 84,25% para a safra 24/25. O preço médio em reais por libra-peso registrou uma leve queda, fixando-se em 108,38 centavos de reais por libra-peso, sem incluir o prêmio de polarização.

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