ALERTA: Como anda a educação financeira de nossos jovens universitários?

Publicado 27.03.2025, 06:05

Olá, pessoal! Compartilharei neste artigo os principais resultados de uma pesquisa acadêmica que liderei e que analisou a educação financeira de jovens universitários. Depois de entrevistarmos 150 universitários, validamos a amostra final com as respostas completas de 146 alunos. Os resultados da pesquisa demandam atenção e suscitam uma pergunta importantíssima:

Será que nossos universitários não precisariam ter uma base mais forte em educação financeira?

Em outras palavras, será que este tipo de conhecimento não deveria permear a grade de qualquer curso de graduação?

Em minha opinião, a resposta é inequívoca: sim!

O nível de educação financeira foi avaliado a partir de cinco questões simples, objetivas e de grau baixo de dificuldade. Por exemplo, uma das perguntas era a respeito da taxa Selic atual no mercado. Outras duas, igualmente simples, são apresentadas a seguir:

Exemplo 1 de pergunta: Você investe R$ 100,00 em um investimento com juros de 10% ao ano por um período de 3 anos e o gerente te dá duas opções: juros simples ou juros compostos. Qual é a melhor opção? ( ) Juros Simples ou ( ) Juros Compostos

Exemplo 2 de pergunta: Suponha que, em janeiro de 2024, você tinha uma renda mensal de R$ 3.000,00. Em janeiro de 2025, após uma inflação de 10% no ano anterior (hipoteticamente), você continua a ter a mesma renda mensal de R$ 3.000,00. Pode-se dizer que seu poder de compra mensal:

( ) Aumentou; ( ) Diminuiu ou ( ) Permaneceu o mesmo.

Não obstante a simplicidade das questões, apenas uma pessoa (0,7%) acertou às cinco perguntas e um total de 10 respondentes (7%) simplesmente errou todas as perguntas. A maioria absoluta (88,3%) acertou três ou menos das cinco perguntas. Em especial, aproximadamente um a cada quatro universitários não sabe que os juros compostos fazem o dinheiro crescer muito mais rapidamente que os juros simples, algo que se aprende (ou deveria ser aprendido) no Ensino Médio. Adicionalmente, apenas 14% dos entrevistados souberam responder corretamente qual era a taxa Selic à época da pesquisa. Em outras palavras, 6 em cada 7 universitários não sabem qual é a taxa Selic atual. Esse resultado é ainda mais surpreendente pelo fato de estarmos lidando com jovens universitários, ou seja, pessoas que deveriam estar antenadas ao principal indicador da economia brasileira e pertencentes a um seleto grupo que consegue chegar ao ensino de 3º grau.

A pesquisa identificou que a proximidade do curso de graduação com Finanças, assim como se já fez algum tipo de curso ou capacitação em finanças e/ou se busca aprender sobre o assunto por conta própria, se mostraram estatisticamente significativos em relação ao nível de educação financeira individual. Esses resultados demonstram que se expostos ao conhecimento, os universitários tendem a perceber a importância de desenvolver seu nível de educação financeira.

O período da faculdade do respondente também se apresentou como positivamente correlacionado ao nível de educação financeira, sugerindo a conclusão de que, ao avançar rumo à graduação, o universitário tende a desenvolver seu nível de educação financeira, o que pode ser consequência da sua maior maturidade e percepção de valor deste conhecimento.

Um resultado encontrado que não nos deu motivos para sorrir é que, em média, homens têm um nível de educação financeira superior às mulheres – infelizmente, esse resultado é corroborado por diversas pesquisas anteriores realizadas no Brasil e no mundo. Esperamos que esse tipo de diferença entre homens e mulheres suma muito em breve, tendo em vista que educação financeira é importante para todos, sem distinção. Por outro lado, um agradável resultado que deve ser ressaltado é que a pesquisa não apontou cor/raça como fator significativo no nível de educação financeira dos respondentes.

Por fim, quanto às decisões financeiras de reserva e investimentos, averiguou-se que a maioria não possui dívidas e, daqueles que possuem, grande parte tem baixa afinidade a finanças, o que reforça a importância da educação financeira no âmbito pessoal. Um ponto que saltou aos olhos é que grande parte dos alunos entrevistados possui reserva financeira, mas a maioria dos universitários que cursam graduações sem afinidade a finanças (como por exemplo, Medicina, Odontologia, Biologia etc.) não as investe, deixando, portanto, o dinheiro parado na conta corrente ou mesmo em casa, sem absolutamente nenhuma rentabilidade.

O efeito que se buscou com essa pesquisa e com a divulgação deste artigo por aqui, ao compartilhar os principais resultados com todos vocês, é levantar o debate a respeito da inserção de disciplinas de finanças pessoais e investimentos em cursos de graduação, principalmente naqueles menos afins com finanças, onde se vê raríssimas discussões a esse respeito. Um profissional com pouca ou nenhuma educação financeira tende a se desorganizar financeiramente, o que pode gerar problemas e, em um nível mais avançado, inclusive tirar sua concentração e prejudicá-lo profissionalmente. Isso sem falar de doenças às quais estamos suscetíveis quando enfrentamos sérios problemas financeiros. Por conta disso, é indiscutivelmente do interesse da sociedade que a educação financeira avance e democratize-se ao alcance de todos. Essa é a minha opinião.

Convido todos vocês a me seguirem no Instagram (@carlosheitorcampani) e no LinkedIn (Carlos Heitor Campani). Com isso, você ficará informado de todo conteúdo que compartilho e me ajuda a levar educação financeira para mais e mais pessoas de todo esse nosso país. Ah, e também tenho um canal no Youtube com muito conteúdo, especialmente feito para vocês.

Forte e respeitoso abraço a todos.

* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Certificado pelo CNPI e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Além disso, ele é Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças e Sócio-Fundador da CHC Finance e da Four Capital. Campani pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na quinta-feira.

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