O mercado de açúcar em NY fechou a semana com alta vigorosa e com os fundos voltando às compras, embora timidamente num volume próximo a 25,000 contratos. O vencimento março/2016, que expira na próxima segunda-feira, encerrou o pregão de sexta cotado a 13.93 centavos de dólar por libra-peso, numa variação positiva de 141 pontos em relação à semana anterior. Muitas usinas respiraram aliviadas por terem tido a segunda chance de fixarem bons preços para o que resta fixar da 2015/2016 e um pouco da 2016/2017. Só falta perderem essa chance também. Veja bem: o vencimento maio/2017, que fechou na sexta-feira cotado a 14.54 centavos de dólar por libra-peso, se combinado o hedge com uma estratégia de venda futura de dólar (NDF) pode representar um fixação de R$ 1.450 por tonelada. É uma excelente remuneração.
Depois daquele derretimento do mercado de açúcar que assistimos atônitos na semana passada, esta semana começou com uma recuperação de preços pujante. O mercado chegou a subir quase 140 pontos num único dia. A última vez que isso ocorreu foi em 19 de agosto de 2011, quando o mercado encerrou a 30.96 centavos de dólar por libra-peso. Percentualmente, a alta de terça feira (cujo volume de negociação ultrapassou 300.000 lotes) só encontra paralelo em 23 de janeiro de 1986 quando o mercado fechou a 6,07 centavos de dólar por libra-peso, um acréscimo de 12.6% em relação ao dia anterior que fechara a 5.39 centavos de dólar por libra-peso.
Para essa explosão de preços surgiram explicações bizarras de todo tipo: que os fundos tinham se posicionado na venda em março de 2016 e erraram a mão e tiveram que se cobrir rapidamente, ou que haveria um default na entrega de açúcar branco em Londres, ou que a previsão de chuvas para o começo do período de moagem vai ser intensa, ou seja lá o que mais. É da natureza humana querer explicar tudo que acontece, mesmo que não se encontrem as verdadeiras razões.
Temos insistido que os fundamentos do açúcar são fortes, mas os estoques mundiais, a pasmaceira da economia global, o preço do petróleo em níveis muito baixos e a perda de credibilidade da economia brasileira refletindo em real enfraquecido, tem sobremaneira compensado o vigor dos fundamentos. Acreditamos que está havendo um represamento de preços em função de todas essas variáveis exógenas que afetam e distorcem a formação de preços do açúcar.
Nos últimos doze meses, o consumo de hidratado cresceu 37.15% enquanto o de anidro e gasolina A caiu 9.16% e 1.77% respectivamente. O consumo de combustíveis em gasolina equivalente subiu apenas 0.25%, um desastre se comparado ao crescimento do ano anterior que atingiu 7.8%. Fizemos um levantamento extremamente conservador para tentar olhar adiante e entender o que pode ocorrer com a produção de cana por parte do Brasil nos próximos 5 anos.
A previsão foi feita tomando como base o quadro atual, qual seja, por exemplo, um consumo estagnado de combustível (gasolina equivalente) que vai crescer apenas vegetativamente. A venda de veículos leves, por exemplo, caiu 25% em 2015 e mantivemos a mesma quantidade de veículos vendidos para os anos seguintes. Assumimos também que o Brasil vai exportar abaixo de sua capacidade dando espaço para outros países (EU e Tailândia) e vamos chegar em 2020/2021 exportando apenas 25.5 milhões de toneladas de açúcar. Estimamos o crescimento do consumo de hidratado e mantivemos constante o de gasolina e anidro.
Em cinco anos, o mundo vai demandar uma quantidade adicional de açúcar próxima de 19 milhões de toneladas. O Brasil, na safra 2020/2021, mantidas as premissas de hoje, vai precisar 100 milhões de toneladas de cana. Mesmo que acreditássemos que isso seria possível, a indústria de base que atendia ao setor sucroalcooleiro e era líder mundial na produção de plantas completas de usinas está em situação de penúria ou falimentar. Quem vai construir novas usinas? Quem vai investir no setor?
Pergunta para o final de semana: se as usinas não estivessem bem fixadas para a 2015/2016, o mercado subiria com essa volúpia de 140 pontos e mais de 300.000 lotes negociados?
O mercado pode subir mais? Os olhos estarão voltados para a entrega de março que vai ocorrer nesta segunda-feira. Ainda é cedo para afirmar, mas o número de produção de açúcar do Centro-Sul com o qual alguns participantes do mercado está trabalhando (de 36 milhões de toneladas) não é factível. As usinas deverão priorizar a produção de etanol no inicio da safra por questões financeiras e de fluxo de caixa.
O medo do mercado é o estresse que o real pode sofrer em função do deplorável quadro político em que o Brasil se encontra. Alguns acreditam que o dólar pode atingir R$ 5.0000. O que aconteceria com o açúcar, nesse caso? Bem, se assumirmos um teto de R$ 1.250 por tonelada FOB para o açúcar, isso equivale – num ambiente de dólar a R$ 5.0000 – NY negociando a 10.90 centavos de dólar por libra-peso. No entanto, dólar a R$ 5.0000 colocaria a gasolina na bomba a R$ 4.4600 e o hidratado a R$ 3.1235 que equivaleria a um açúcar a 13.00 centavos de dólar por libra-peso. Em poucas palavras, o chão de NY, nos parece, ser alguma coisa em torno de 12 centavos de dólar por libra-peso. O risco de baixa para quem compra a 12.50 centavos de dólar por libra-peso é extremamente pequeno, ao passo que para quem vende nesse nível, é muito elevado. Pode ser que isso tenha entrado na equação daqueles que pensam o mercado.
A batata está assando e muito em breve veremos o maior crápula da história da república atrás das grades.
Tenham todos um excelente final de semana.
Arnaldo Luiz Corrêa