Olá, pessoal! No artigo desta semana, não poderia deixar de escrever algo sobre o que aconteceu com o papel da AMER3 (BVMF:AMER3). Claro, muito já foi escrito e então pensei: como posso agregar valor na discussão escrevendo algo diferente? Como o contexto e as explicações por ora disponíveis já foram largamente discutidas em muitos veículos e por entender que há muito a saber ainda a respeito, não me proponho a seguir esta linha. Então tive uma ideia que irei compartilhar com todos vocês.
Uma das minhas “praias que mais gosto de surfar” é justamente o desenvolvimento de estratégias de investimento. Desde o meu Doutorado, iniciado em 2009, estudo tudo o que posso a respeito. Já desenvolvi muitas estratégias em diferentes mercados, tanto no âmbito acadêmico (que se encontram inclusive disponíveis em diversos artigos científicos publicados em diferentes periódicos), quanto profissionalmente sob demanda de casas gestoras e de grandes investidores. Ah! Os índices Valor-Coppead, por exemplo, foram codesenvolvidos por mim e representam os únicos índices de ações no Brasil que não são da nossa B3 (BVMF:B3SA3).
Na noite quando tudo veio à tona em relação às Lojas Americanas (BVMF:LAME4), corri para ver minha carteira long biased de ações da bolsa brasileira para ver se tinha AMER3, se comprado ou vendido e em que proporção – por motivos óbvios...rsrs. Printei uma parte da minha carteira neste mês para compartilhar com amigos mais próximos, conforme abaixo:
Note que a minha estratégia, que neste caso é totalmente quantitativa, pegou o momento ruim das Lojas Americanas, já que indicava uma posição vendida de pouco mais de 6% da carteira. Foi aí que tive a ideia de me perguntar como isso se deu e compartilhar com vocês. Percebam que meu objetivo, com isto, é contribuir com ferramentas úteis na análise de papéis e, com isso, embasar decisões de compra ou venda e montagem de carteiras de investimentos. Ressalto que acredito muito na análise fundamentalista: se negasse isso, estaria indo de encontro a tudo que estudei e ensino em minhas aulas. Entretanto, no Brasil, a imensa maioria dos gestores utiliza este tipo de análise em suas estratégias. Se nos EUA a análise quantitativa já rivaliza com a fundamentalista, aqui no Brasil ainda engatinhamos. Por esse motivo, resolvi traçar minha vida profissional com análises quantitativas, até por achar que eu seria muito mais útil nesse terreno quase virgem em terras tupiniquins.
Dito tudo isso, a pergunta é: será que análises quantitativas poderiam, de certa forma, prever que havia algo de estranho com a AMER3? Bom, primeiramente preciso esclarecer que nenhuma metodologia quantitativa no mundo terá o poder de cravar que algo ruim ou muito bom irá acontecer. A previsibilidade do mundo, de modo geral, é bem mais limitada do que imaginamos, mas isso não quer dizer que tais análises sejam sem valor e, portanto, desnecessárias. Elas podem, sim, apontar indícios que, se agrupados com outros sinais, podem te dar base para investir em ou vender a descoberto determinado papel. Em média, se suas análises forem razoáveis e bem construídas, você irá acertar mais do que errar e, em consequência, obter retornos acima da média – é sobre isso que estamos falando! Esqueça (falsas) certezas, mas não menospreze os indícios.
Desta forma, com dados gentilmente cedidos pela Quantum Finance, fiz a análise abaixo em quatro períodos de tempo que utilizo para analisar o atual momento de um papel (um, três, seis e doze meses para trás). As rentabilidades abaixo são, claro, de períodos anteriores a janeiro deste ano, quando tudo aconteceu, e serviram de base para montagem da minha carteira mensal. Coloquei também o papel da VIIA3 (BVMF:VIIA3), um varejista similar à AMER3, bem como o principal índice da bolsa (Ibovespa) e o índice ICON (índice de consumo da B3), representativo do segmento do qual a AMER3 faz parte.
Note como em TODOS os períodos recentes analisados, o papel AMER3 apresenta descolamento importante de todos os outros três benchmarks, apresentando sempre retornos inferiores. Isso é algo que, no mínimo, chama a atenção para uma análise mais aprofundada. Se você tivesse acesso a esta análise no início do mês, não pensaria em analisar AMER3 a fundo para retirar da sua carteira (se você a tivesse) e/ou vendê-la a descoberto? Cabe reflexão. Decisões de montagem de carteira não podem ser superficiais e com base em achismos.
E que outras análises poderiam ser feitas? Por exemplo, analisar o fluxo de caixa recente da companhia seria um ótimo passo. Se realmente (por conjectura) a companhia vinha pagando altos juros em uma despesa que não aparecia nas DREs, o seu fluxo já estava sendo impactado (ao contrário dos seus resultados contábeis). E, então, o mercado já estaria, de alguma forma, precificando o papel para baixo, o que justificaria os retornos abaixo dos benchmarks que mostrei acima. E, aí, você começa a construir uma tese de investimento que, em média, acertará mais do que errará. E, então, você terá uma carteira bem fundamentada, com propensão a ganhos. E, finalmente, você estará fazendo as mesmas coisas que os melhores investidores. Lembre-se sempre: investir não é como apostar no cassino. Ah! E como já disse antes: esqueça (falsas) certezas, mas não menospreze os indícios.
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* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor do Coppead/UFRJ, Pesquisador da Cátedra Brasilprev em Previdência e da ENS – Escola de Negócios e Seguros e sócio-fundador da CHC Treinamento e Consultoria. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.