Quando o Presidente do BC, Alexandre Tombini, enfatiza que o programa de oferta de liquidez diária poderá prosseguir em 2014, nada mais é do que admitir que as perspectivas para o câmbio não são sombrias, mas que o BC continuará agindo dentro do seu possível para evitar reflexos negativos desta realidade perceptível desde agora.
Os tempos são e tendem a continuar sendo adversos para o Brasil no que diz respeito a fluxos de recursos estrangeiros liquidamente favoráveis, havendo mesmo como antever que os bancos possam encerrar o ano com expressivas posições de câmbio “vendidas” no mercado à vista, que representarão a insuficiência de fluxo cambial para o país que, a rigor, deveria ser suprida pelo Banco Central do Brasil com utilização das reservas cambiais.
Contudo, é uma estratégia fazer com que os bancos carreguem esta atribuição governamental que, em contrapartida, através do BC, fornece linhas de financiamento em moeda americana para que as posições “vendidas” sejam ancoradas.
A questão é até quanto e até quando, sem que isto seja fator motivador de pressão sobre a formação do preço da moeda americana.
A expectativa é que fluxos de recursos financeiros especulativos se intensifiquem para o Brasil focando a rentabilidade da Selic mais elevada, o que pode vir a ocorrer desde que confirmada a postergação da vigência intacta do programa de incentivo monetário do FED e que sejam superadas as divergências políticas em torno da questão fiscal do governo americano.
Contudo, não acreditamos que em ocorrendo atinja montante suficiente para a complementariedade da necessidade do país para fazer face ao déficit em transações correntes que o país registrará este ano.
Até a última disponibilização de dados por parte do BC o fluxo cambial continuava com viés negativo, acentuando desta forma a necessidade do país que tem um “gap” de quase US$ 20,0 Bi entre o montante do déficit em transações correntes e os IED´s projetados para este ano.
Os bancos já acumulavam posições “vendidas” em torno de US$ 8,7 Bi, que representa a necessidade atual, visto que o BC nem tem comprado ou vendido moeda efetiva ao mercado.
Este número se os fluxos não se tornarem positivos poderá superar o dobro até o final do ano, e o BC terá uma expressiva posição de linhas de financiamento concedidas e bastante elevada de “swaps cambiais”.
E isto não será um bom começo para o ano de 2014, onde o assunto da redução do programa de incentivo monetário do FED continuará sobre a mesa, portanto, sem permitir conforto, e quando ocorrer o início certamente teremos reflexos nas saídas de recursos do país e, ainda, muito provavelmente queda nos preços das “commodities”, com perda nas relações de preços de troca que, aliás, já aconteceu de forma suave neste ano.
Por isso, temos feito menção de que o governo deva retirar o prazo restritivo de 1 ano para os empréstimos estrangeiros, ao sujeitá-los ao IOF de 6%, reduzindo-o para 90 dias, primeiro porque precisa incentivar os fluxos de recursos para o país e segundo porque este é o tempo em que as empresas começam a fazer seus planejamentos financeiros para o próximo ano.
O preço do dólar em torno de R$ 2,17 é absolutamente assimétrico em relação à realidade das nossas contas externas e suas perspectivas, por isso temos sugerido, como o fizemos no último dia 9, que sem interromper o programa de oferta diária de liquidez, o BC deixe de rolar as posições vincendas de “swaps cambiais” vendidas antes do programa, buscando trazer o preço para um preço mais equilibrado.
Há especulação, podendo haver também interesse do governo na contribuição que esta taxa possa dar ao controle inflacionário, mas é uma irrealidade insustentável, visto que há carência de fluxo cambial.
Outrora, isto foi praticado, mas com excesso de ingressos e o BC adquiria mais do ingressava, aumentando as reservas cambiais e estimulando a prática de “posições vendidas” pelos bancos, que atuavam apreciando o real objetivando ganho cambial, além, naturalmente, dos ganhos sobre os reais que captavam a custos baixos com a estratégia.
Atualmente, a prática de “posições vendidas” está acontecendo num contexto de insuficiência de fluxo, portanto, um cenário de maior risco e inconveniência.
Entendemos também preocupante o fato de estarem presentes os questionamentos em torno de questões orçamentárias e do teto da dívida americana neste momento, que a qualquer momento, como já ocorreu em situações semelhantes no passado, podem provocar movimentos de “sell off” no mercado acionário, impactando em inúmeros segmentos do mercado financeiro global, atingindo o dólar e provocando exacerbações no nosso preço local.
Por isso afirmamos que o momento enseja muitas incertezas na questão cambial no Brasil, sendo enganosa a aparente calmaria, que acaba por encobrir cenário prospectivo de pouca tranquilidade.
A efetiva possibilidade de melhora do fluxo de recursos externos para o país está na atratividade que possam despertar aos investidores estrangeiros os processos de concessões focados na infraestrutura, por isso o foco deve ser menos recursos do BNDES e mais recursos externos.