O mercado de açúcar em NY teve mais uma semana de queda. O vencimento março de 2015 encerrou na sexta-feira cotado a 15,14 centavos de dólar por libra-peso, acumulando uma queda de 42 pontos na semana, ou cerca de 9 dólares por tonelada. Todos os meses negociados até 2017 fecharam com queda entre 28 e 50 pontos na semana, mostrando que o humor do mercado não está apenas sendo influenciado pelo curto e médio prazo, mas por toda uma conjuntura mundial que envolve baixo crescimento econômico, derretimento do preço do petróleo e preocupação acentuada pelos tortuosos caminhos a serem percorridos pelo mercado de açúcar nos próximos anos.
O mercado físico de exportação voltou a enfraquecer nesta semana com os preços para embarque imediato negociando com desconto de 90 pontos, pouco pior dos 75 da semana anterior. O spread março 2015/maio 2015 alargou um pouco mais mostrando um desconto de 35 pontos com carrego embutido de 14.67%, ou seja, dá-se um desconto cada vez maior para o vencimento mais curto porque não se acha destino.
O principal fator de mudança para o setor que está corroendo os pilares de sustentação e solapando o orçamento das usinas é a brutal queda do petróleo. Desde junho passado quando o petróleo bateu a alta de 110 dólares por barril, o que se viu foi uma queda acentuada atingindo as recentes mínimas de 69.64 para o Brent, ou uma desvalorização estrondosa de 38%. Ainda assim, os preços do etanol anidro e hidratado continuam firmes no mercado interno já que estamos no final do período de moagem e a rentabilidade dos dois ainda é positiva e maior do que a do açúcar.
A questão é como será para a próxima safra se o petróleo continuar em queda? Não podemos esquecer que com o preço atual do petróleo e da gasolina nos mercados internacionais, diminuiu sobremaneira a distorção de preços que havia entre o mercado externo e o preço da gasolina na bomba. Pelo nosso cálculo o preço justo hoje seria de R$ 3,0100 o litro, o que é próximo do mercado hoje. Dessa forma, parece não haver espaço para aumento da gasolina ou mesmo a reintrodução da CIDE. Mais difícil ainda com a inflação acima da meta estabelecida pelo governo.
Não me recordo de ter vivido no setor um período em que nos vimos em tamanha encruzilhada com uma avalanche de problemas e fatores negativos endógenos e exógenos, que dificultam sobremaneira a tomada de decisão. Entre eles a queda de recursos financeiros (crédito) oriunda da desconfiança de que o cumprimento das obrigações será difícil.
2015 será um ano extremamente difícil. Será como pilotar um avião no meio de uma tempestade CB. Vai exigir dos pilotos nervos de aço e atenção redobrada e constante aos indicadores do cockpit, monitorando o hedge, buscando espaços entre as nuvens carregadas para conseguir passar incólume pela tempestade. Tarefa difícil. Vai ser um ano para se colocar a gestão de risco em primeiro lugar. Olho na tela e nas fixações para 2015/2016. O valor médio baseando-se no fechamento de sexta-feira e usando o dólar negociado via NDF chega pouco acima de R$ 1.010 por tonelada FOB, mas trazendo para valor presente pelos juros do Banco Central é de R$ 935 por tonelada.
Um grande esforço deve ser comprometido para que não haja perda de foco. Talvez haja uma luz no final do túnel. Temos dito aqui da necessidade imperiosa do setor crescer pelo menos 150 milhões de toneladas nos próximos 5 anos para atender apenas à demanda interna de combustível. Isso dificilmente vai ocorrer e deverá se refletir positivamente nos preços do etanol e do açúcar. Como o consumo de combustíveis cresce à taxas robustas de 7% ao ano nos últimos 5 anos, esse combustível terá que vir de algum lugar, seja etanol de milho ou gasolina importada. O fator chave continua nas mãos do mercado de petróleo. Muitos analistas entendem que o petróleo no nível baixo em que se encontra começa a provocar falta de investimento para novas prospecções e produção (o pré-sal é um exemplo, que precisa de mercado acima de US$ 70).
Estamos numa situação de virada, numa mesa de pôquer, num tudo-ou-nada que aumentam a dose de insegurança e podem nos levar a posições extremadas. Apertem os cintos e aguentem a turbulência. Ainda estamos longe do destino final.