O mercado futuro de açúcar em NY fechou a sexta-feira com o vencimento maio de 2014 cotado a 17,98 centavos de dólar por libra-peso, cravando uma alta de 112 pontos na semana, ou 25 dólares por tonelada. Olhando assim parece que os negócios no físico estiveram bem firmes, não é mesmo? Mas nada disso. Muito mais um movimento técnico especulativo do que propriamente qualquer mudança nos fundamentos do mercado. Os prêmios no mercado à vista continuam se deteriorando enquanto sobram açúcares de diversas origens.
O real se valoriza logo em seguida ao Brasil ter tido seu rating de crédito rebaixado. Vai entender essa lógica do mercado. Com isso, o real fecha a semana a 2,2590 uma queda de 7,25% desde a alta de 2,4359 no final de janeiro. Devido ao câmbio, o açúcar fechou a semana em R$ 929 por tonelada, uma queda de mais de 5% do valor que o mercado negociava duas semanas atrás: R$ 981 por tonelada. Se o dólar se valorizar não temos dúvidas que as usinas voltam a fixar suas vendas se o valor em reais estiver perto de 950/100 reais por tonelada.
É verdade, no entanto, de que o sentimento do mercado é mais construtivo. Os números de previsão de safra entre 570-590 milhões de toneladas, em sua maioria; rumores de que a gasolina deve ser reajustada brevemente para socorrer o caixa da estatal brasileira do petróleo, sinalização por parte da ANP de que a mistura de anidro na gasolina pode aumentar para 27.5% dos atuais 25% e o apetite dos fundos mantendo uma posição de 90,000 contratos comprados no açúcar em NY antes da subida de quase 100 pontos de terça-feira para cá, contribuem para um cenário mais róseo para os céus escuros que temos visto na paisagem sucroalcooleira dos últimos tempos.
A segunda estimativa da Archer para a safra 2014/2015 coloca a produção do Centro-Sul em 575.5 milhões de toneladas, divididas entre 32,8 milhões de toneladas de açúcar e 24,67 bilhões de litros de etanol. O número é inferior em quase 2,5% em relação à estimativa anterior em função do acesso à empresa de novos dados colhidos nas regiões produtoras, bem mais preocupantes que o anterior.
Sem dúvida, a notícia de impacto na semana foi a Joint Venture da Copersucar com a Cargill. As duas gigantes vão juntar suas operações de comercialização numa nova empresa, cujo nome ainda não foi divulgado. O mercado foi pego de surpresa no momento em que se reconhece que as margens mais estreitas de comercialização no setor empurram as empresas para a consolidação e para os ganhos de escala. O que ninguém poderia esperar era que a consolidação fosse dessa maneira: a criação de uma super trading com um volume de comercialização, segundo dizem os especialistas, de 10-12 milhões de toneladas.
As duas empresas são complementares e vão juntar seus talentos. Uma tem uma enorme produção de açúcar e um sofisticado sistema de escoamento de sua produção, logística, transporte e armazenagem, e a outra tem acesso ao destino final e uma estrutura de trading completa e complementar à primeira (profundo conhecimento da formação do basis, dos instrumentos derivativos nos mercados futuros de opções e balcão, de operações financeiras estruturadas, para mencionar apenas alguns pontos).
Tendo tido o privilégio, no passado, de trabalhar 12 anos somados para as duas empresas, duas grandes escolas na formação de profissionais, vejo a união como se Barcelona e Real Madrid resolvessem se juntar para formar apenas um time. O futebol (na analogia, o mercado de açúcar) perde um pouco, pois passa a contar com apenas um grande time ao invés de dois, mas o novo time passa a ser maior que a soma individual dos dois. Para a Copersucar, essa JV – que ainda depende de aprovação das autoridades – é um passo gigante em direção ao há muito iniciado processo de internacionalização da empresa, além de adicionar valor substancial na eventualidade de um IPO (abertura de capital na bolsa). Para os outros times (tradings e usinas) a fusão os deixa numa situação bem menos confortável. Vão ter que jogar muita bola.
A JV das duas empresas preocupa as pequenas usinas que temem ficar com menos alternativas na hora de negociar seus açúcares no mercado internacional, menor disponibilidade de pré-financiamento, menor poder de barganha na negociação de contratos comerciais e menor flexibilidade na utilização de hedges. Por outro lado, um evento dessa magnitude confirma que grande parte das tradings tem enfrentado ao longo dos últimos 3 anos enormes dificuldades de ganhar dinheiro operando no mercado de açúcar.
Boa semana a todos.