O tamanho da nossa ignorância
Se, dois anos atrás, alguém me dissesse que dali a um ano eu encararia 36 horas de ônibus (18 de ida, 18 de volta) para ir pedir Fora Dilma em frente ao Congresso Nacional, eu daria risada. Se, um ano atrás, lá em Brasília, alguém me dissesse que hoje estaria escrevendo a newsletter de investimentos mais lida do Brasil, recomendaria uma camisa-de-força.
Eis que tudo isso aconteceu, contrariando minhas melhores expectativas. E convenhamos: meu ponto de observação para fazer previsões a respeito de minha própria vida é muito melhor do que aquele a partir do qual analiso qualquer outra coisa.
Superestimamos nossa capacidade de fazer previsões e subestimamos tanto nossa própria ignorância quanto a aleatoriedade inerente à experiência humana.
A ilusão da linha reta
Analisando retrospectivamente, constato que nada em minha trajetória de vida até aqui foi linear. Me pergunto: há alguém cuja própria é? Sinceramente duvido. O caminho em perfeita linha reta é uma ilusão à qual recorremos em busca de conforto diante de uma realidade inerentemente incerta.
Aceite o fato de que não se observa, quase nunca, uma trajetória linear do ponto A ao ponto B. O mundo simplesmente não funciona assim: os solavancos são parte do caminho e a possibilidade de revés é permanente. Se não há como fugir da incerteza, aprendamos a mitigá-la e, quando possível, usá-la a nosso favor.
Volta e meia me deparo com mensagens ansiosas de clientes porque suas apostas não se concretizam da noite para o dia, ou mesmo parecem estar caminhando para um cenário diferente do esperado.
As perguntas que realmente importam
Resta imaginar o melhor cenário, porém buscar seguros para o caso de ele não se concretizar. Resta encarar os desvios de percurso inescapavelmente impostos pela aleatoriedade. Resta desafiar constantemente as premissas e, se necessário, ajustar a direção.
O racional permanece o mesmo e para em pé mesmo quando desafiado? Os riscos são controlados e compatíveis com sua capacidade de suportá-los?
Aqui focamos na resposta à primeira pergunta. À segunda, só você pode responder.
Clima de cautela
Mercados na América do Norte praticamente estáveis, cautelosos ante a divulgação do relatório de emprego por lá na próxima sexta-feira: dados positivos seriam muito importantes para a consolidação das apostas em juros maiores a partir de dezembro.
Na Europa, todas as atenções estão voltadas aos estímulos do Banco Central Europeu: mesmo com o vice-presidente da instituição rejeitando a redução do ritmo de recompra de títulos nos próximos meses, investidores seguem em compasso de espera.
Por aqui, Ibovespa renova máxima em dois anos impulsionada pelo rali do petróleo — que opera acima de 50 dólares pela primeira vez desde junho — e por outros nomes do complexo de commodities. Destaque local para a aprovação, na Câmara, as alterações no marco regulatório do Pré-Sal (alívio para Petrobras (SA:PETR4)).
A medida mais importante em décadas
Merece destaque ainda o empenho do governo em prol da aprovação da PEC do Teto. Com as primeiras bancadas deliberando posicionamento favorável à medida e a percepção de que outros parlamentares estão sendo paulatinamente convencidos a seguir o mesmo caminho é motivo para otimismo. A aprovação da PEC tem tudo para se traduzir em queda dos juros de longo prazo.
Não tenho pretensão de atingir unanimidade nesse ponto, mas me arrisco em opinar que se trata de uma das medidas econômicas mais importantes para o país nas últimas décadas.
Diante de algo dessa dimensão, impossível permanecer como mero observador e comentarista: é fundamental o engajamento da sociedade. Caso já não o tenha feito, não deixa de conferir nossa petição .
A quem tem dúvidas da efetividade da pressão pública, recordo que, à época do episódio que conto no início do M5M de hoje, ninguém acreditava em impeachment…