As ações de semicondutores estão subestimando os riscos das tarifas?

Publicado 12.08.2025, 11:01

Os semicondutores inicialmente estavam isentos das tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump sobre importações de Taiwan e de outros países, mas esse status privilegiado pode estar prestes a terminar. Trump afirmou na terça-feira que anunciará tarifas específicas para semicondutores na próxima semana.

Na noite passada, após o fechamento dos mercados, o presidente sugeriu a possibilidade de tarifas de 100% sobre semicondutores, com isenção para empresas que já produzem nos Estados Unidos ou que tenham anunciado planos para fazê-lo. Não foram divulgados detalhes, e negociações certamente devem reduzir esse percentual.

Ainda assim, 100% representa um ponto de partida muito mais alto do que o visto em outras tarifas aplicadas a importações. O setor havia recebido um alívio em 11 de abril, por meio de um memorando presidencial que excluiu determinados produtos de semicondutores de tarifas recíprocas.

A indústria, porém, sabia que a isenção provavelmente acabaria, já que, em 1º de abril, o Departamento de Comércio iniciou uma investigação, amparada na Seção 232 do Trade and Expansion Act de 1962, sobre o impacto das importações de semicondutores e produtos relacionados na segurança nacional, conforme explica análise do escritório Torres Trade Law. (Há investigações semelhantes em andamento sobre minerais críticos e insumos farmacêuticos.)

O resultado dessa investigação deve ser entregue até 27 de dezembro, mas, diante dos comentários recentes do presidente na entrevista à CNBC de terça-feira, o relatório pode já estar concluído.

A tarifação dos semicondutores é complexa, pois os EUA importam relativamente pouco do produto em si, cerca de US$ 45 bilhões, mas trazem muitos bens que os contêm, como smartphones. Stacy Rasgon, da Sanford Bernstein, especulou em entrevista à CNBC que as tarifas poderiam incidir sobre os semicondutores incorporados a dispositivos importados.

Empresas como Advanced Micro Devices (NASDAQ:AMD), Apple (NASDAQ:AAPL), Nvidia (NASDAQ:NVDA) e outras têm seus chips fabricados pela Taiwan Semiconductor Manufacturing (NYSE:TSM) em Taiwan. Trump não detalhou a alíquota final nem se ela se somará à tarifa de 20% já aplicada às importações de Taiwan. Seu objetivo é trazer a produção de chips de volta ao território norte-americano.

O movimento para repatriar a fabricação de semicondutores já está em curso desde o primeiro mandato de Trump, quando a TSMC anunciou a construção de sua primeira fábrica no Arizona. Sob o governo Biden, o plano se expandiu para uma segunda unidade em 2022 e uma terceira em 2024. Em março, já no chamado “Trump 2.0”, a empresa dobrou a aposta, acrescentando outras três fábricas, duas plantas de encapsulamento avançado e um centro de P&D.

O investimento total da TSMC nos EUA está estimado em US$ 165 bilhões, embora os chips mais avançados ainda devam ser produzidos em Taiwan. Ironicamente, muitos dos chips fabricados nos EUA poderão ser exportados para a Ásia para integração em produtos eletrônicos.

Até agora, os investidores do setor parecem ter minimizado o impacto das tarifas no que o mercado chama de Tariff Turmoil da era Trump. O índice setorial de semicondutores do S&P 500 subiu 28,8% no acumulado do ano até o fechamento de segunda-feira (antes da entrevista de Trump à CNBC), impulsionado principalmente por Nvidia (57,9% da capitalização do setor), Broadcom (NASDAQ:AVGO) (17,1%) e AMD (3,5%). As ações da AMD avançaram 46,4% no ano, seguidas por ganhos de 34,0% da Nvidia e 28,4% da Broadcom.

A notícia das tarifas fez o índice recuar 0,95% na terça-feira, em um dia já negativo para o mercado, quando o S&P 500 caiu 0,49%. A ausência de pânico pode refletir a falta de detalhes sobre a medida, que talvez seja implementada gradualmente, dando tempo para a realocação da produção.

O anúncio foi apenas mais um capítulo de uma semana movimentada para o setor. Dados da AMD e da Associação da Indústria de Semicondutores (SIA) mostram que as vendas continuam fortes:

(1) AMD não empolga. A empresa reportou receita de US$ 7,7 bilhões no 2º trimestre, alta de 31,7% na comparação anual e ligeiramente acima dos US$ 7,4 bilhões esperados. O lucro ajustado por ação (LPA) ficou em US$ 0,48, em linha com o consenso, mas abaixo dos US$ 0,69 de um ano antes, refletindo baixa contábil de US$ 800 milhões em estoques, ligada à proibição de vendas de chips de IA para a China.

Para o 3º trimestre, a projeção é de receita entre US$ 8,4 bilhões e US$ 9,0 bilhões, com ponto médio de US$ 8,7 bilhões (alta de 28% a/a), acima da estimativa de US$ 8,3 bilhões do mercado. O guidance não inclui a possível retomada das vendas de chips de IA para a China, esperada após a reversão da proibição no mês passado. A empresa também deve se beneficiar do lançamento, em junho, dos chips MI350, concorrentes da linha Blackwell da Nvidia.

Mesmo assim, as ações da AMD caíram 6,3% no aftermarket de terça-feira, movimento que pode estar mais ligado à valorização acumulada de 44,3% no ano do que a fundamentos. A CEO Lisa Su afirmou na teleconferência: “Olhando à frente, vemos um caminho claro para escalar nosso negócio de IA a dezenas de bilhões de dólares em receita anual. … Estamos nos estágios iniciais de uma transformação ampla na indústria de IA que aumentará de forma expressiva a demanda por computação em todos os nossos mercados, posicionando-nos para crescimento relevante de receita e lucros nos próximos anos.”

(2) Demanda global resiliente. As vendas mundiais de semicondutores no 2º trimestre cresceram 7,8% na comparação trimestral e quase 20% na anual, atingindo recorde, segundo comunicado da SIA em 4 de agosto. Na variação trimestral, o maior avanço veio da Ásia-Pacífico/Outros (+18,2%), seguida por China (+12,2%), Europa (+3,9%), Américas (-0,6%) e Japão (-2,7%).

A produção industrial dos EUA em junho reforçou a força do setor, com fabricação de semicondutores e componentes relacionados avançando 15,3% a/a, também para nível recorde.

Analistas de Wall Street seguem otimistas quanto ao crescimento de receita e lucros da indústria. As estimativas apontam alta de 27,8% na receita e de 40,7% no lucro em 2025, além de crescimento de 19,4% e 32,8%, respectivamente, em 2026. A única preocupação no horizonte é a avaliação: o P/L projetado de 31,5 está próximo das máximas recentes.

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