A colheita da safra recorde de grãos no Brasil no ciclo 2022/23 destacou um problema já conhecido, a falta de capacidade de armazenamento no país. A safrinha está em início de colheita, mas, ao que tudo indica será de boa produtividade geral, se somando à safra recorde de soja já colhida.
A partir das estimativas da Conab no relatório de junho e dos dados da mesma fonte para a capacidade estática de armazenagem no Brasil, trouxemos alguns dados e análises.
Segundo a Conab, a capacidade estática de armazenagem no Brasil em 2023 está em 190,9 milhões de toneladas, aumento de 0,3% na comparação com o dado para o ano anterior. No mesmo ano, a projeção é que apenas de milho e soja, o Brasil colha 281,45 milhões de toneladas (+15,8% YoY). Apenas aqui temos uma diferença de 90,6 milhões. Considerando a safra total de grãos (315,8 milhões de toneladas), o déficit aumenta para 124,9 milhões. Aqui focaremos no milho e soja, que representam 72,5% do total de grãos em 2022/23.
Por um lado, até maio de 2023 já exportamos 10,6 milhões de toneladas de milho e 49,0 milhões de toneladas de soja, mas, por outro, o ciclo começa com estoques remanescentes de outras safras.
De toda forma, seguiremos a linha da comparação da produção com a capacidade de armazenamento, sabendo desses pontos citados e, também, ponderando que há alguns anos tem aumentado o uso de armazenamentos alternativos, como os silos bolsa, como uma ferramenta importante.
Voltando ao armazenamento convencional e comparando com a produção de soja e milho (1ª, 2ª e 3ª safras), temos o déficit apresentado na figura 1.
Figura 1. Déficit de armazenagem no Brasil, considerando apenas as produções de soja e milho.
Esse déficit de armazenagem aumenta a necessidade de venda, o que pressiona as cotações, como tem sido visto este ano. A dificuldade logística de escoamento também afeta a precificação na origem.
Analisando a evolução da capacidade de armazenagem e da produção de grãos, temos um cenário preocupante. Em um histórico de 10 anos, a taxa média de crescimento da armazenagem foi de 2,3% ao ano, ao passo que a taxa de aumento da produção de milho e soja foi de 5,6%. Veja a figura 2.
Figura 2. Taxas de crescimento anual da capacidade estática de armazenagem e produção de soja + milho, em 5 e 10 anos.
Encurtando o recorte para cinco anos, percebemos que a produção acelerou (+6,7% ao ano), enquanto a evolução da armazenagem desacelerou (1,6% ao ano). Aqui mais uma vez ponderamos que esta capacidade se refere à estática e o uso de outras formas de armazenamento ameniza um pouco a tendência. O mercado este ano, no entanto, deixou claro que essa ajuda não resolve a situação.
A figura 3 mostra a evolução da produção de soja e milho e da armazenagem, em milhões de toneladas, e a relação entre elas, demonstrando o quanto da produção desses dois grãos pode ser armazenada, em uma relação direta.
Figura 3. Produção de milho e soja, armazenagem e relação entre a armazenagem e a produção.
Considerações
Quanto menor a possibilidade de estocagem, menor é o poder de escolha do momento da venda pelo produtor. Sem poder escolher o momento da venda, um dos maiores benefícios comerciais de produtos que podem ser estocados, como os grãos, se perde.
Isso aumenta a importância de uso de ferramentas de gestão de risco de preços dos grãos, paralelamente à necessidade de aumento da capacidade estática de armazenagem.