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A B3 (BVMF:B3SA3) vinha conduzindo um processo de aprimoramento das regras do Novo Mercado — segmento da Bolsa de Valores de São Paulo voltado a companhias que se comprometem com elevados padrões de governança corporativa. A proposta apresentada ao mercado contemplava 25 itens distribuídos em três frentes: o Regulamento-Base, o Bloco A ("Novo Mercado Alerta") e o Bloco B ("Confiabilidade das Demonstrações Contábeis").
Surpreendentemente, a proposta foi rejeitada pelas companhias listadas no segmento, apesar de boa parte das medidas já constarem nos relatórios de sustentabilidade de muitas dessas empresas e de já serem obrigatórias em mercados mais maduros, como o da União Europeia. A adoção dessas práticas, portanto, seria não apenas coerente, mas um passo natural para quem de fato almeja a sustentabilidade corporativa.
A decisão causou frustração em entidades de referência. Em nota pública divulgada no início de julho, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) lamentou a rejeição, afirmando que "perdeu-se uma oportunidade ímpar de fortalecer o principal segmento de listagem, historicamente associado à evolução das boas práticas de governança no Brasil, ao aumento da atratividade do mercado de capitais e à consequente diversificação de fontes de financiamento das empresas.
Historicamente, o Novo Mercado conferia um selo de qualidade às companhias que o integravam — um diferencial reputacional que sinalizava boa gestão financeira, compromisso com a transparência e responsabilidade ambiental e social. Esse prestígio, no entanto, foi abalado por escândalos recentes, como o da Americanas (BVMF:AMER3), que expôs falhas estruturais graves. A proposta de um regramento mais robusto visava justamente restaurar essa credibilidade perdida.
Entre os argumentos contrários, o mais recorrente foi o do suposto aumento de custos decorrente da adoção das novas regras. Mas classificar boas práticas como despesas é, no mínimo, um contrassenso. Governança, transparência e sustentabilidade não são custos: são investimentos em reputação, longevidade e acesso a capital. Além disso, adequar-se às novas exigências alinharia essas companhias aos critérios de mercados internacionais mais exigentes, como o europeu, ampliando sua competitividade global.
Ainda assim, a resistência prevaleceu. E por quê? Talvez porque, apesar das melhorias, a proposta ainda apresentasse falhas. Mas o ESG é um processo em constante construção, e sua evolução exige ajustes contínuos. O importante é o compromisso genuíno com o aprimoramento, sobretudo quando o processo foi transparente e amplamente discutido com o mercado.
A recusa em avançar levanta questionamentos incômodos. Após o caso Americanas, parte da confiança no Novo Mercado foi corroída. Agora, com empresas rejeitando publicamente normas mais rigorosas, as dúvidas se aprofundam: quantas das ações relatadas nos relatórios de sustentabilidade são, de fato, reais? Quantas são puro greenwashing? Existem outras demonstrações contábeis com distorções ocultas? O compromisso com o ESG é autêntico ou apenas retórico?
No fim das contas, a proposta da B3 representava uma chance concreta de fortalecer o arcabouço institucional do mercado brasileiro. Sua rejeição não apenas desperdiça uma oportunidade histórica, como também acende um alerta: o Novo Mercado ainda é, de fato, novo? Ou já começou a envelhecer mal?
Só o tempo e o comportamento das empresas poderão responder.