Focus no crescimento
A semana começa com clima mais ameno lá fora, mercados comemorando a batida em retirada de algumas tropas russas na Ucrânia. Por aqui, os investidores se dividem entre o péssimo resultado da Petrobras, as habituais apostas para as próximas pesquisas eleitorais (Datafolha e Sensus no decorrer da semana) e uma agenda de indicadores parca.
As segundas-feiras, que já não costumam ser o dia mais agradável da semana, têm convivido com o triste agravante. A edição de hoje do Relatório Focus traz o décimo primeiro corte seguido na projeção para o crescimento, agora em 0,81% em 2014. Mais de um mês após o Minerazzo, ainda difícil esquecer dos 7 x 1 (agora ajustado para 6,2 x 0,8).
Focus em dólar e pós-fixados
No mesmo relatório Focus constam apostas predominantes por um dólar a R$ 2,50 e Selic mais alta (em 12%) em 2015. O que isso lhe diz?
Para buscar exposição à moeda americana (que pode ser via fundos cambiais ou ações de empresas que se beneficiem do dólar) e dar preferência para títulos pós-fixados (como as LFT, que são indexadas à taxa de juros). Independentemente do autismo da política econômica, os fatores de pressão se multiplicam e não podemos ignorar o componente de profecia auto-realizável nos mercados. Em alguns casos, como o das ações de empresas “dolarizadas”, basta a mera expectativa.
A bazuca do Bacen (queimando cartucho)
Contra tudo e contra todos os fundamentos, o Bacen anunciou que elevará o nível de intervenção no mercado de câmbio. A oferta de rolagem para setembro passa hoje de 8 mil para 10 mil contratos de swap. Com mais essa, a posição vendida em moeda americana já gira em torno de US$ 100 bilhões, mais de um quarto das reservas internacionais (!). A prerrogativa de aumento adicional na taxa de juros brasileira e alta do dólar traz consequências ainda mais preocupantes...
Nesse caso, o retorno dos investidores estrangeiros que aplicam no Brasil ficaria ainda maior, aumentando a diferença entre o custo médio da dívida brasileira e a remuneração internacional das reservas.
As contas de Petrobras não fecham
Passando do noticiário econômico para o corporativo, todos os holofotes vão para o resultado da Petrobras (PETR4). A estatal petrolífera registrou queda de 20% em seu lucro no segundo trimestre, amargando prejuízo de R$ 3,8 bilhões em abastecimento, perda de R$ 8,7 bilhões somente na área em 2014, o que mostra o tamanho do impacto da política de importação de combustíveis.
Com isso, Petrobras queimou R$ 13,4 bilhões de caixa na primeira metade do ano, viu sua dívida líquida crescer 9% em três meses, apesar das captações de dinheiro no mercado, e sua alavancagem atingir níveis preocupantes de 3,9x dívida líquida/ebitda e 40% dívida líquida/patrimônio líquido - beeeem distante das metas de 2,5x e 35% de seu Plano de Negócios e um possível gatilho para a perda de seus ratings.
Balde de água fria: em meio a um rali baseado em apostas eleitorais e promessas de reajustes no preço dos combustíveis, o que há de referência material para a Petrobras infelizmente aponta deterioração rápida e expressiva em seus fundamentos.
Comemorando notícia ruim (versão Petro)
Em qualquer lugar do mundo um resultado desses seria motivo de grande preocupação. Mas na Bolsa brasileira, as ações da Petrobras reagem com alta próxima da 2%. Não, embora ruins os resultados não superaram as projeções - longe disso, frustraram até mesmo as estimativas mais contidas. Mas, como se ainda precisasse de evidência, o resultado ruim grita em alto e bom som que a política atual para a empresa é insustentável, aumentando a pressão sobre reajuste necessário de preços.
A expectativa vai ao encontro da retórica do governo e de executivos da empresa, e ganha alento no “alívio” do IPCA na semana passada, que algumas manchetes dizem “abrir espaço para a alta da gasolina”. Bom, se um IPCA de doze a 6,5% abre espaço para a alta da gasolina, me pergunto qual inflação é de fato perseguida...4,5%?
Mais um fechamento de capital
O Grupo GP Investments anunciou fará uma oferta para o fechamento de capital da rede hoteleira BHG. Comprometeu-se a pagar até R$ 19 por ação, o que significa um prêmio de 36% sobre o fechamento da sexta-feira, promovendo a disparada das ações hoje. Com isso, BHG une-se ao time de fechamentos de capital, que já conta com Dasa, Fleury, Odontoprev, Cremer, Providência e Brookfield, só das que lembro este ano – e sem contar programas de recompra.
Do outro lado, o time das empresas vendendo ações (IPOs ou aumentos de capital via emissão de novas ações) segue às escuras. Face às “condições adversas de mercado”, a própria Bolsa reconhece que devemos passar 2014 em branco. Poxa, mas não somos a Bolsa do bull market, aquela que sobe 25% desde a metade de março?
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.