As três fases do ano
A bolsa alcançou a marca de 2,7 milhões de investidores em novembro deste ano, um milhão a mais que em 2019. Em 2018, éramos apenas 813 mil, e nos anos anteriores a quantidade de investidores oscilou entre 500 e 600 mil.
Quem acabou de chegar descobriu logo cedo que a renda variável, de fato, varia.
Entre maio de 2019 e o fim de janeiro deste ano, o mercado estava bastante animado com as perspectivas sobre 2020 ser o ano da aceleração do crescimento econômico brasileiro.
Mas o que aconteceu nos 2 meses seguintes foi algo completamente inesperado.
Por conta da pandemia, os investidores se depararam com uma queda de proporção e velocidade sem precedentes. Após 6 circuit breakers, uma onda de pessimismo e aversão ao risco generalizada fez a bolsa cair -47 por cento.
Mas como (apesar da severidade da situação) os lucros das empresas não iriam cair pela metade para sempre, aos poucos o fluxo de capital foi retornando à bolsa.
Primeiro foram as pessoas físicas, depois os institucionais e agora são os estrangeiros que estão voltando a acreditar (e investir) na bolsa brasileira, que sobe +87 por cento desde a mínima e deve encerrar o ano no patamar da máxima alcançada em janeiro, com Ibovespa próximo dos 120 mil pontos.
Mas, como sempre, apesar dos movimentos generalizados de quedas e altas, existiram ações que se destacaram positiva e negativamente em cada uma das 3 fases do ano.
Veja a seguir as ações que mais subiram e caíram dentre aquelas que fazem (ou fizeram) parte do índice IBrX, composto pelas 100 ações com maior liquidez na B3.
O otimismo
O ano começou com as ações de grandes varejistas, frigoríficos, algumas empresas de commodities e incorporadoras se destacando no campo positivo.
Via Varejo (SA:VVAR3), B2W (SA:BTOW3) e Magazine Luiza (SA:MGLU3) subiam forte com a perspectiva de retomada do consumo.
As boas perspectivas na demanda global por commodities fizeram com que as ações da Braskem (SA:BRKM5) – petroquímicos, PetroRio (PRIO3) – petróleo, Marfrig (SA:MRFG3) – carnes, Klabin (SA:KLBN11) – papel e celulose e Usiminas (SA:USIM5) – siderurgia, estivessem dentre as maiores valorizações.
O mercado também estava animado com o superciclo imobiliário, as ações das incorporadoras como Eztec (SA:EZTC3) e Cyrela (SA:CYRE3) também estavam entre as maiores altas.
Já as maiores quedas estavam no setor bancário ou em empresas que estavam passando por dificuldades.
A queda nos juros, novos entrantes (mais competição, menos receitas com serviços), aumentos de impostos e um ambiente regulatório desfavorável puxaram para baixo as ações de Itaú (SA:ITUB4), Santander (SA:SANB11), Bradesco (SA:BBDC4) e Banco do Brasil (SA:BBAS3).
Hering (SA:HGTX3), Cielo (SA:CIEL3) e CVC (SA:CVCB3), que já foram as queridinhas do mercado em algum momento, estavam passando por problemas internos ou de mercado e ocupavam o topo das maiores quedas no ano.
A queda
Mas então o pânico tomou conta dos mercados.
Em apenas 2 meses, o mercado saiu da máxima para a mínima do ano, praticamente em queda livre. Nesse período, nenhuma ação com liquidez relevante teve uma performance positiva.
As ações que menos caíram foram aquelas que, na visão do mercado, poderiam sofrer menos na crise, como as grandes redes de supermercados, farmácias e as produtoras de produtos que poderiam ver sua demanda crescer na crise, como alimentos básicos, telecomunicações e medicamentos.
Dentre as menores quedas estavam as ações de Carrefour (SA:CRFB3) e Pão de Açúcar (SA:PCAR3) – supermercados, Weg (WEGE3 (SA:WEGE3)) – motores e componentes elétricos, Raia Drogasil (SA:RADL3) e Hypera (SA:HYPE3) – farmácias/produtos farmacêuticos, Vivo (VIVT4) e Tim (TIMS3) – telecomunicações.
Já dentre as maiores desvalorizações estavam as ações que foram identificadas como aquelas que poderiam ter os resultados mais impactados pelas medidas de distanciamento sociais impostas pelos governos para conter a crise sanitária.
Empresas relacionadas a viagens, como as aéreas Gol ((SA:GOLL4) e Azul (SA:AZUL4) ou CVC, de petróleo e seus derivados, como PetroRio (PRIO3) ou Braskem (BRKM5) e as locadoras de veículos, como Unidas ((SA:LCAM3)) e Movida (SA:MOVI3), foram algumas das que apresentaram as maiores desvalorizações.
As ações da IRB Brasil (SA:IRBR3), maior resseguradora do país, apresentaram a maior queda no período por conta de fraudes que foram descobertas.
A retomada
Após o susto inicial, o mercado foi se dando conta de que, por pior que seja a pandemia, ela não durará para sempre, e a bolsa subiu forte entre o fim de março e o de julho.
Nos últimos 2 meses, após os estímulos dos governos em suas economias ao redor do globo e com o rally das vacinas, o apetite ao risco está voltando a crescer e a bolsa sobe +24 por cento.
Dentre as ações mais líquidas da bolsa, 30 mais do que dobraram de valor e apenas 7 se desvalorizam no acumulado na fase de retomada.
Os principais destaques positivos foram algumas ações de commodities, as grandes varejistas e as empresas relacionadas ao turismo.
Petrorio (SA:PRIO3) – petróleo, CSN (CSNA3 (SA:CSNA3)) e Usiminas (USIM5) – siderúrgicas lideram o ranking das maiores altas.
As varejistas Via Varejo (VVAR3) e Magazine Luiza (MGLU3), assim como as companhias aéreas e de turismo, como Gol (GOLL3), Azul (AZUL3) e CVC (CVCB3) também estão entre as maiores altas.
As 7 ações que apresentaram desempenhos negativos foram as varejistas Marisa (SA:AMAR3), Lojas Americanas (SA:LAME3) e Centauro (SA:CNTO3), a adquirente Cielo (CIEL3), o supermercado Carrefour (CRFB3), a Vivo (VIVT3 (SA:VIVT3)) e a educacional Cogna (SA:COGN3).
Após tamanha turbulência, dentre as 115 ações que fazem (ou fizeram) parte do IBrX, 52 apresentam um desempenho positivo e 63 apresentam um desempenho negativo no acumulado do ano.
A bolsa não deve fechar o ano muito distante do zero a zero, mas enquanto algumas empresas sobem mais de 100 por cento, outras caem mais de 50 por cento, ressaltando a enorme diferença que escolher os melhores ativos (stock picking) faz.
Desejo a todos um excelente fim de ano e um próspero 2021.
Grande abraço