E a “biruta” começa a virar contra o projeto de reeleição do governo Dilma. São variados os sinais que colaboram para isto. O rebaixamento do Brasil, pela agência de rating Standard & Poors, a queda de popularidade do governo em pesquisa da CNI/Ibope, os vários escândalos, como do sistema elétrico e da Petrobras, na compra da refinaria de Pasadena no Texas e de Abreu Sodré, além dos vários fundamentos em deterioração.
Sobre estes, o Relatório Trimestral da Inflação, elaborado pelo BACEN, continua como contraponto ao discurso da Fazenda. No da semana passada afirmou que a política fiscal se manteve expansionista nos últimos meses, pressionando a política monetária, a inflação acelerando, com o IPCA neste ano passando de 5,6% para 6,1%, e o crescimento menor, com o PIB revisado de 2,3% para 2%.
No rebaixamento do rating do país, com a nota passando de BBB para BBB-, veio sem surpresas, já que o mercado previa esta possibilidade, depois que a S&P alterou a expectativa de estável para negativa no ano passado. Todos sabiam que seríamos rebaixados em algum momento, só não sabendo quando. A maioria achava que seria depois das eleições. Acabou antecipado diante da piora dos indicadores fiscais e da péssima impressão no anúncio do pacote energético. Agora é aguardar como a Fitch e a Moody´s devem avaliar o País e como devemos evoluir na gestão fiscal e na capacidade de solvência. A primeira nos avalia como BBB e a segunda como Baa2, ainda a dois degraus do grau especulativo (tabela a seguir).
Na pesquisa de avaliação CNI/IBOPE do governo Dilma, a piora foi generalizada (das nove áreas de atuação do governo, todas pioraram, com desaprovação maior que aprovação), mas chamaram atenção as quedas no que se refere à política econômica e aos principais indicadores correlatos. A gestão do governo Dilma foi considerada boa ou ótima por 36% dos pesquisados, sete pontos abaixo do apurado na pesquisa anterior, em novembro de 2013; a avaliação regular se manteve estável em 36% e a ruim e péssimo avançou de 20% a 27%.
Nas áreas relacionadas à política econômica, a desaprovação chegou a 77%; no combate à inflação, passou de 63% para 71%. Nesta, o saldo entre os que aprovam e desaprovam foi negativo em 47 pontos percentuais (em novembro estava em 32 p.p.); na política de juros, foi de 65% para 73% e no combate ao desemprego passou de 49% para 57%.
Sobre os fundamentos, de consolo apenas o bom desempenho da taxa de desemprego, em torno de 5,1% da PEA e a perspectiva de retomada da economia, pelos indicadores prévios do primeiro bimestre, mas ameaçados pela possibilidade de racionamento de energia.
Por outro lado, o saldo em conta corrente segue negativo em 3,7% do PIB, impactado pelo déficit comercial neste ano, em torno de US$ 6,2 bilhões. A gestão fiscal também está aquém da meta do governo de 1,9% - em 12 meses, superávit de fevereiro foi a R$ 86,1 bilhões, 1,76% do PIB, sendo que no mês anterior, era de 1,67% do PIB. A inflação repica agora em março, pelo choque agrícola gerado pela seca, sem contar ainda as tarifas represadas, o impacto dos serviços e do câmbio. Este último, ao que tudo indica, depois de recuar a R$ 2,26 na semana passada, caso a contenda eleitoral fique mais equilibrada, pode minorar a inflação ao longo do ano, mesmo impactando na balança comercial. Já na política de juros, o Copom desta semana deve realizar mais um ajuste, de 0,25 ponto percentual, a 11%, mas nada garante uma parada técnica. É possível que novos ajustes sejam sancionados nas próximas reuniões.
Enfim, este ano ainda deve trazer muitas emoções para os mercados. A fatura eleitoral não está liquidada a favor da reeleição da presidente Dilma, embora o uso da máquina eleitoral e a boa capilaridade do programa Bolsa Família sejam fatores que a favorecem.
Numa análise preliminar das últimas pesquisas e dos fatores citados acima, ainda consideramos a presidente Dilma favorita, mas o mau desempenho da economia deve pesar nas eleições deste ano. Resta saber, por outro lado, se os candidatos da oposição possuem “musculatura suficiente” para tornar esta disputa acirrada. Este é o ponto importante, pois a perda de apoio do governo acontece muito mais pelos seus próprios erros e a piora dos indicadores do que pelo fortalecimento da oposição.
PS – “Atento aos sinais” foi um show do brilhante intérprete Ney Matogrosso, premiado com o “Faz a Diferença” na área musical, do Globo, na semana passada.