Até quarta-feira, inclusive, a expectativa predominará no câmbio

Publicado 16.12.2013, 08:16

Nesta semana espera-se que o FED americano decida implementar a redução do seu programa de incentivo monetário ou, se não o fizer que, pelo menos, emita sinais claros de quando pretende iniciar esta ação que deverá ter impactos importantes sob a liquidez do mercado internacional.

A reunião do FOMC ocorrerá nos dias 17 e 18, quando, pós-reunião, haverá a divulgação da nota sobre as decisões ocorridas.

Desta forma, acreditamos que a pressão decorrente da expectativa em torno deliberação ou não do FOMC, determinará a queda dos volumes de negócios até a próxima quarta-feira e os mercados terão comportamento, como se diz no jargão do mercado, andando de lado, com discreta volatilidade decorrente da própria tensão a que estarão submetidos os inúmeros segmentos dos mercados financeiros.

Uma eventual decisão do FOMC dando inicio ao “tapering” repercutirá em todo o mercado financeiro global, evidentemente com intensidades diferentes em cada mercado devido o grau de vulnerabilidade de cada um deles , mas certo é que os países emergentes deverão ter reflexos relevantes nos fluxos de capitais estrangeiros, que tendem a saída devido a redução da liquidez no mercado internacional e em parte direcionada para o mercado americano, onde os juros deverão se tornar atrativos e altamente competitivos frente as condições proporcionadas pelos emergentes.

O Brasil se configura bastante vulnerável perante este evento e o preço da moeda americana poderá ser bastante pressionado com a intensificação das saídas de recursos externos, visto que o cenário atual do nosso mercado de câmbio já tem presente fluxos líquidos negativos, com a liquidez tanto no mercado à vista quanto no mercado futuro sendo bancada pela autoridade monetária.

Por isso, tudo leva a crer que o BC adotará ajustes no seu programa de oferta de liquidez ao mercado de câmbio dando-lhe uma forma menos programática e mais operacional, pois, certamente, atuará visando mitigar a volatilidade que poderá intensificar-se, mas, também e principalmente, atuar visando impedir a depreciação mais expressiva do real, que teria efeitos imediatos inflacionários, comprometendo a suposta e acreditada tendência dos “players” do mercado financeiro de que pretende atenuar o ritmo de elevação da taxa SELIC.

Embora o país disponha de reservas cambiais da ordem de US$ 370,0 Bi, ainda não utilizada de forma direta, é notório que a exacerbação maior do preço da moeda americana ainda não ocorreu em decorrência da efetiva atuação do BC no mercado futuro ofertando “swaps cambiais” e no mercado à vista, ofertando dólares na forma de linhas de financiamento para os bancos lastrearem a formação de “posições vendidas”, a partir das quais é gerada a liquidez.

Inquestionavelmente a nossa moeda, o real, está claramente vulnerável, e o BC já vem atuando buscando conter a volatilidade e evitando depreciação maior, ou seja, buscando administrar a formação do preço.

Contudo, para um cenário prospectivo, pelo menos de curto prazo, que sugere intensificação da volatilidade e pressão mais intensa de depreciação do preço do real, o BC precisará efetivamente alterar o “modus operandi” na oferta de liquidez ao mercado, reagindo com a mesma na razão direta da intensidade da pressão, o que a forma atual não permite e por isso se constata que a despeito da oferta estar disponibilizada não alcança o objetivo de conter a alta do preço sempre que ocorre um fato que sugira saída maior de recursos do país.

Sabidamente ao artificializar o preço da moeda americana para fins específicos, normalmente pró-contenção das pressões inflacionárias, fica em aberto a ocorrência de movimentos de ajustes muito intensos e danosos a economia.

O contexto geral desta questão câmbio/inflação é muito complexo para o Brasil.

Atualmente, o país está com um déficit expressivo em transações correntes, algo como 3,76% do PIB, e os fluxos líquidos se revelam insuficientes para e esta é uma das evidências de que estamos recorrendo à poupança externa, o que ficou bastante evidente quando analisado o PIB do 3º trimestre deste ano, que revelou poupança interna em queda.

Como salientou o Prof. Marcio Garcia, PUC-Rio, em matéria recente do jornal VALOR, a melhor forma de reduzir o déficit em conta corrente é via depreciação da taxa de câmbio real, o que exigiria deixar a taxa de câmbio nominal se depreciar acima da diferença entre a inflação brasileira e a dos nossos parceiros comerciais.

Então, na medida em que o BC procure com suas intervenções no mercado de câmbio conter a depreciação do real, estaria também dificultando o ajuste externo da economia.

Em perspectiva a continuidade desta ação da autoridade monetária pode por um lado conter uma depreciação maior do real, mas por outro lado pode determinar que não seja resolvido o desequilíbrio externo, o que sugere a não reversão do déficit em transações correntes aos níveis de captação de recursos externos suficientes para financiá-lo, fato que na contramão exerce pressão de alta no preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.

O câmbio desta forma surge como um problema que pode impactar de forma relevante para as pretensões do BC de fazer a inflação convergir um pouco mais para a meta inflacionária, que é bom que se relembre que é 4,5% e não 6,5% como parece ter se generalizado o entendimento. O câmbio poderá determinar a necessidade de elevar-se mais do que previsto a taxa SELIC no próximo ano.

Temos manifestado o nosso entendimento de que o excesso de oferta de “proteção” de preço (hedge) e liquidez no mercado à vista (via concessão de linhas aos bancos para que lastreiem posições vendidas) pode, a partir de certo volume que não conseguimos precisar neste momento, provocar desconforto aos investidores, que assim poderiam não demonstrar conforto com esta situação e assim, principalmente os capitais voláteis, passarem a sair do país ao invés de ingressarem.

É imperativo, também, que o governo reveja a gestão da politica fiscal, já que este é um ponto que pode determinar a perda de “rating” por parte do país, o que seria extremamente prejudicial num ambiente que já se configura desfavorável.

Nossa perspectiva continua sendo muito desfavorável para o Brasil na questão de fluxos externos e preço da moeda americana no nosso mercado, e, a despeito de toda possível intervenção do BC no mercado, ainda continuamos vislumbrando um 1º trimestre com grande pressão sobre o preço, que poderá atingir ao final deste período a taxa de R$ 2,50.

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