Foi muito previsível o movimento do mercado de câmbio de ontem após tensões políticas ficarem mais acirradas através das falas do presidente da República nos eventos de 7 de setembro e da variante delta do coronavírus pelo mundo. Como ambas as situações levam o investidor a um sentimento de aversão ao risco força para o dólar, que é um ativo considerado seguro em tempos de incerteza, como sempre escrevo nesse espaço. Os discursos radicais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra o STF podem azedar as negociações para a PEC dos precatórios entre o Congresso e o Judiciário. O que pode acontecer é uma paralisação das pautas e reformas e só o Brasil quem perde com isso. Risco-país sobe ainda mais.
Luiz Fux, presidente do STF, em pronunciamento na tarde de ontem disse que ameaças à autoridade da Corte e o desprezo por decisões judiciais configuram crime de responsabilidade e ressaltou que a convivência entre visões diferentes sobre o mesmo mundo é pressuposto da democracia e quem repete o discurso "nós contra eles" propaga a política do caos.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cancelou as sessões no Senado previstas para esta semana alegando falta de ambiente de segurança.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pediu a pacificação entre os poderes. Disse também que o país tem um compromisso inadiável com as urnas eletrônicas em 2 de outubro de 2022, ao se referir às eleições do ano que vem e que a Constituição jamais será rasgada.
Na verdade, por aqui nada mudou, inflação continua alta e com indícios de subir ainda mais com a crise hídrica, preços cada vez mais altos e com exemplos muito óbvios, como os combustíveis. O povo parece que decidiu viver naturalmente como se não houvesse mais pandemia aglomerando e, ainda que uma parte use máscaras, parece que a vida voltou ao normal. Para nós do mercado financeiro, resta acompanhar desdobramentos de notícias aqui e pelo mundo afora, assim como índices e discursos de autoridades para tentar acertar o rumo do câmbio (no meu caso, pois vivo neste mundo). O fato é que os ruídos políticos dificultam a atração de investidores estrangeiros pelo Brasil, alias eles já estão afastados por ora.
Por aqui, saiu IGP-DI, que fechou agosto com deflação de 0,14%, invertendo a direção tomada um mês antes, de avanço de 1,45%. Com este resultado, o índice acumula alta de 15,75% no ano e de 28,21% em 12 meses. Apesar da queda registrada na taxa do IGP-DI, a inflação continua a pressionar a estrutura produtiva das empresas e o orçamento familiar. O resultado de agosto foi influenciado pela queda de 21,39% no preço do minério de ferro.
Ontem o presidente do Federal Reserve (Fed) de St. Louis, James Bullard, em entrevista ao Financial Times, disse que o quadro geral é que a redução de estímulos vai começar este ano e acabar em algum momento do primeiro semestre do próximo ano. Quanto antes isso ocorrer pior para os emergentes. O relatório Jolts de ontem divulgou oferta de empregos recorde nos Estados Unidos. Também ontem, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, pressionou novamente o Congresso para que discuta o limite de endividamento do governo norte-americano, dizendo que não estava claro por quanto tempo durariam as medidas do Tesouro para financiar temporariamente o governo federal. O resultado mais provável é que o dinheiro e as medidas extraordinárias se esgotem durante o mês de outubro, disse ela. A reunião do Fed, no próximo dia 22, pode definir quando será iniciado o processo de redução de compra de ativos (“tapering”).
Assunto importante de hoje no exterior é a decisão da política monetária na Europa, para ver se os estímulos da economia por lá já vão começar a ser retirados ou não. Essa possibilidade se dá em meio à revisão para cima do PIB da zona do euro no segundo trimestre no início desta semana. Será decidida também a taxa de juros. No Brasil, conheceremos hoje IPCA. Nos EUA, pedidos de seguro-desemprego e mais um discurso de membro do Fomc, Mary Daly e John Williams desta vez. Hoje o discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, será um evento crítico para os mercados, pois será em meio a um avanço da variante delta e uma ligeira desaceleração da economia, conforme mostrou ontem o livro bege do Fed..
As surpresas negativas sobre a contração econômica na China e o payroll mais fraco nos EUA fizeram o mercado ficar mais preocupado com o impacto da variante delta no mundo e consolidam uma percepção mais pessimista no mercado. A grande questão é a incerteza em torno do nível de desaceleração do crescimento econômico mundial, redução do estímulo na economia americana e o potencial de aumento da inflação por lá. DXY em alta.
A volatilidade imperou ontem, mas sempre em alta. Mercado operou na mínima em R$ 5,1950 e não durou quase nada neste patamar, na máxima ficou em R$ 5,3337.
Hoje, mercado ainda vai continuar repercutindo as falas de Bolsonaro e a reação de autoridades aqui e pelo mundo. Apesar de ontem dólar te subido muito fechando em R$ 5,326, é importante monitorar hoje se haverá uma correção pelos mercados com investidores realizando posições, ou se a aversão a risco continuará forçando a taxa de câmbio. Vamos acompanhar a questão fiscal que pode trazer um certo alivio, ou descambar de vez.