Vale se prepara para salto na demanda da Índia enquanto vê queda na China nos próximos anos
Se você passou a semana olhando apenas para o placar do Ibovespa e abrindo a champanhe, parabéns. Você participou de um momento histórico. E também de um dos maiores atos de negação coletiva que o mercado financeiro brasileiro já produziu. Enquanto uma parte do país comemorava recordes, a autoridade monetária que realmente manda no jogo enviava um recado brutal, que foi solenemente ignorado pelos eufóricos.
Vamos aos fatos, sem rodeios. O grande evento da semana foi a decisão do Copom, o comitê do Banco Central que define a taxa de juros Selic. O mercado esperava a decisão, mas o que realmente importava era o comunicado, o tom, a mensagem nas entrelinhas. E a mensagem veio. Não nas entrelinhas, mas em letras garrafais e com um tom de quem perdeu a paciência.
O Banco Central manteve os juros altos e, mais importante, usou a expressão "período prolongado" para descrever por quanto tempo eles ficarão nesse patamar. Traduzindo do economês para o português claro: o crédito vai continuar caro, financiar qualquer coisa será difícil, e a vida para a economia real não vai ficar mais fácil tão cedo. Foi o diagnóstico frio e direto de que a situação fiscal do país exige um remédio amargo e de longo prazo.
Como reagiu o mercado que sabe fazer contas? O mercado de juros futuros, aquele que aposta no custo do dinheiro no futuro, ouviu, entendeu e agiu. As taxas subiram. Foi a confirmação de que os profissionais que lidam com a realidade dos juros agora sabem que o cenário difícil vai durar mais tempo. Eles receberam o memorando do chefe e ajustaram os planos.
E a Bolsa de Valores? Aparentemente, o memorando não chegou. Ou, o que é mais provável, ele foi lido, amassado e jogado na lixeira.
Em um surto de euforia que desafia qualquer lógica macroeconômica, o Ibovespa não apenas ignorou o recado duro do Banco Central; ele acelerou na direção contrária. Bateu 150 mil pontos pela primeira vez. Depois 151, 152, chegou a testar os 154 mil. Engatou a décima, a décima primeira, a décima segunda alta seguida. Foi a maior sequência de ganhos em quase 30 anos, desde 1994. Um feito histórico, ocorrendo exatamente no momento em que a autoridade monetária dizia para todos terem cautela.
"Mas isso é a força do Brasil!", dirão os otimistas. Não, não é.
Essa alta recorde não foi um voto de confiança na economia brasileira. Foi uma miragem estatística. A verdade inconveniente é que o índice foi arrastado para cima por um número minúsculo de empresas, com a Vale atuando como o principal motor. A festa não foi do Brasil; foi da Vale e de mais alguns poucos convidados VIP. A grande maioria das empresas brasileiras, aquelas que sofrem na pele os juros altos que o Copom prometeu manter, não participou desse rali.
A prova final da fragilidade desse movimento veio na sexta-feira. A sequência histórica de altas foi quebrada. E por quê? Porque os investidores finalmente leram o comunicado do Copom e entenderam o risco fiscal? Não seja ingênuo. A sequência acabou porque a Vale, o motor do foguete, teve um dia de queda.
A festa não terminou por um choque de realidade. Terminou porque a principal atração foi embora.
O que a semana nos deixa é uma fotografia perigosa. De um lado, o Banco Central e o mercado de juros, ancorados na realidade fiscal e monetária do país. Do outro, um mercado de ações que viveu um delírio de curto prazo, impulsionado por fatores que nada têm a ver com a saúde da nossa economia.
A euforia pode ser contagiante, mas a realidade sempre cobra a conta. E o recado do Banco Central foi claro: a conta será alta e o pagamento será longo. Ignorar isso não é otimismo. É um convite ao desastre.
É hora de entrar em AÇÃO!