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O Federal Reserve pretende reduzir em US$10 bilhões suas compras mensais de títulos públicos americanos em novembro, além de cortar as aquisições de títulos hipotecários em US$ 5 bilhões ao mês, com prazo previsto para remoção completa do estímulo de oito meses, ou seja, até meados de 2022.
Esse é o chamado plano “ilustrativo” detalhado na ata da reunião de 21-22 de setembro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), divulgada na semana passada. Ao usar esse adjetivo, o que o banco central dos EUA realmente quer dizer é que, a menos que haja qualquer imprevisto nos dados, essa é a forma como ele procederá daqui para frente.
Segundo consta da enigmática formulação da ata:
“Diversos participantes indicaram sua preferência por proceder com uma moderação mais rápida em relação às compras do que o descrito nos exemplos ilustrativos”.
Em outras palavras, se a inflação continuar se aquecendo, o Fomc pode decidir agir com mais rapidez na redução das compras de ativos. Contudo, a ata reiterou a crença do comitê de que eventuais elevações de juros são um assunto à parte, podendo levar alguns anos até que estejam prontos para dar esse passo.
Ou talvez não. Por enquanto, o Fomc prepara-se para finalizar as compras de ativos, enquanto a questão dos juros fica no ar.
A ata e a declaração oficial continuaram falando em “pleno emprego” como um objetivo distante, apesar das enormes evidências de que muitos americanos não têm a intenção de voltar a trabalhar em breve, de forma que podemos estar bem perto do nível máximo pós-pandemia.
Nesse ínterim, as autoridades monetárias começam a perceber que as causas da inflação podem ser mais persistentes “do que se assumia”.
E não poderia ser diferente.
O New York Times ressaltou, na semana passada, que houve um aumento alarmante nos aluguéis, diante da falta de residências e dos preços em disparada. A moradia é um grande componente do índice de preços ao consumidor, que registrou uma alta de 5,4% no ano em setembro.
O chefe do Fed de St. Louis, James Bullard, acabou com o anonimato da ata quando disse à CNBC, na semana passada, que foi ele quem desejava uma “moderação mais rápida” nas compras de títulos, recomendando que o processo de tapering se encerrasse já no fim do primeiro trimestre, para que o Fed começasse a elevar juros no ano seguinte.
O Fundo Monetário Internacional alertou, também na semana passada, que a inflação poderia ser mais persistente do que se previa, instando os bancos centrais a se preparar para elevar os juros, caso seja necessário cortar suas asas. O governador do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, sinalizou novamente que estava preparado para elevar os juros, diante da escassez de energia, que está aumentando ainda mais a pressão inflacionária.
A rápida ascensão dos preços do petróleo e do gás natural é apenas um dos vários fatores que conspiram para evitar que a inflação seja temporária, mas, por alguma razão, as autoridades monetárias nos EUA não se afastam da ideia fixa de que tudo isso é temporário.
O ex-secretário do Tesouro, Larry Summers, criticou os formuladores da política do Fed pelo que chamou de “wokeness”, ou foco demasiado em questões sociais”, em vez de agir com mais veemência para conter a inflação.
“Eles se definem por seu nível de preocupação social”, declarou em um evento no Instituto de Finanças Internacionais. Quanto mais demorarem, disse ele, maior será o choque das suas ações quando finalmente resolverem se mexer.
O economista do Fed, Jeremy Rudd, publicou um artigo, no mês passado, questionando a hipótese bastante difundida entre as autoridades do banco de que as expectativas de inflação são as responsáveis por pressionar para cima os preços e sua ausência atual significa que a inflação que está diante dos nossos olhos é transitória.
Na mesma toada, o prêmio Nobel de economia foi para três economistas que defenderam experimentos naturais, isto é, que os economistas não deveriam se aferrar tanto aos seus modelos, e sim procurassem ajustar suas hipóteses de modo a fazê-las funcionar. Deveriam, portanto, observar dados empíricos e tirar as devidas conclusões, assim como todas as outras ciências.
O presidente do Fed, Jerome Powell, que é formado em Direito, não esconde seu orgulho ao citar os “modelos” do Fed quando fala sobre economia, na medida em que acredita que sejam sempre precisos, ao insistir que a inflação é transitória nos EUA.
Talvez ele precise prestar mais atenção à vida real, onde os preços estão galopando e as pessoas normais não podem se dar ao luxo de esperar sua queda.
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