Será que está mesmo?
Afinal dispomos de instrumentos triviais e contumazes de “defesa” da moeda nacional e o fato novo tem sido a retórica forte enfatizando que o país está preparado para suportar bem a decisão do FED sobre o “tapering”, ou seja, a redução do programa americano de incentivo monetário focando a recuperação de sua economia.
Espera-se que os ajustes a ocorrer no programa de oferta de liquidez diária pelo BC sejam dados a conhecer após a reunião do FOMC americano, e devem alterar a forma da autoridade intervir no mercado, abandonando a forma programática e com volumes definidos, passando a ser mais operacional ou seja, compatibilizadas com o comportamento do mercado e suas demandas pontuais no dia a dia.
Esta alteração parece ser oportuna e até sinaliza que o BC espera movimentos voláteis no comportamento da taxa cambial no curto prazo decorrente da decisão do FOMC americano ou mesmo das tensões em torno da eventual decisão, e com uma atuação operacional poderá realizar ofertas direcionadas a compatibilizar-se com as demandas presentes.
Tecnicamente, se for esta a opção da autoridade monetária, a forma de intervenção ficará mais adequada aos propósitos, porém não evitará que o real continue sendo considerada uma moeda vulnerável e que precisa estar tendo seu preço protegido (contido) para não exacerbar-se em demasia e causar repercussões na economia, ao mesmo tempo em que garante proteção aos detentores de compromissos com exposição em moeda estrangeira.
Quanto ao BC desejar que o FED inicie o mais rápido possível o “tapering” há lógica, pois será melhor conviver e ajustar-se à nova realidade que advirá do que conviver com as perspectivas que podem estar imprecisamente avaliadas.
Contudo, o problema central do Brasil é a baixa atratividade perante os investidores estrangeiros, o que decorre preponderantemente de fatores domésticos, e, não se pode descartar que o inicio do desmonte do programa do FED provocará saída de recursos voláteis investidos no país, até porque a própria economia americana passará a oferecer remuneração atrativa, com um risco considerado de melhor qualidade.
E assim sendo, a queda na liquidez internacional tende efetivamente a retirar recursos dos emergentes, núcleo em que está o Brasil, considerado pelo cenário internacional como muito vulnerável ao fato.
E será inevitável que o preço da moeda americana no nosso mercado seja pressionado com tendência de alta, visto que os instrumentos triviais que dispõe não são capazes de neutralizar a fragilidade a que foi conduzida a moeda local pela queda da atratividade do país.
Temos reservas cambiais para suprir a liquidez no mercado à vista e podemos ficar vendendo “swaps cambiais” para proteger preço para os investidores, mas até quando? Até quando este não será mais um fator para sugestionar o investidor estrangeiro a sair e a não entrar?
Isto é bastante para afirmamos que estamos bem para enfrentar a ressaca financeira do mercado internacional?
Bastou mais um índice positivo americano, agora sobre o varejo, para o preço da moeda americana retomar a linha de alta, já que o dado acentua a perspectiva de inicio do desmonte do programa americano. E, é bom destacar, os nossos mecanismos de “defesa” estão ativos, sendo praticados e disponíveis, e assim mesmo não contém a alta do preço.
E qual será o impacto no preço quando o fato se tornar concreto e provocar a saída de recursos do país? E qual será o efeito desta alta sobre a inflação? E será possível manter a projeção de que o aperto monetário será abrandado?
As causas fundamentais da baixa atratividade perante os investidores estrangeiros são puramente domésticas e conhecidíssimas. O Brasil está sem “tração” e há “falta de ventos” para alterar o ambiente de calmaria que provoca falta de motivação do empresariado ao investimento, num cenário envolvendo o país com baixo crescimento, politica fiscal deteriorada pela falta de rigor e alterada inúmeras vezes , queda no consumo demonstrando que o modelo consumo/crédito está esgotado; baixa formação de poupança interna, etc....
Não podemos perder de vista que o Brasil, embora exportador de “commodities”, tem uma grande dependência de financiamento externo do seu déficit em transações correntes, o que era obtido com facilidade até um passado recente, mas que neste ano de 2013 sinaliza que poderá não ser alcançado dado a queda dos fluxos favoráveis líquidos para o país, o que pode impor o uso parcial das reservas cambiais.
Ocorre que para o país recompor sua atratividade perante os investidores estrangeiros precisa reorganizar-se e em especial sua politica fiscal (gastar menos e poupar mais); aumentar o investimento de governo e estimular a do setor privado; implementar de forma dinâmica a privatização dos projetos de modernização da infraestrutura do país; reformas fiscal, trabalhista; etc...
É muito para o curto e médio prazo, por isso é preciso ter em mente que os problemas que afetam a atratividade do país levarão tempo para serem superados e até então teremos que conviver com fluxos menores de recursos externos.
Por isso questionamos se o país está mesmo preparado para conviver com tranquilidade com o inicio da redução do programa de incentivo americano, que poderá determinar a saída de grande volume de recursos do país, seja pela redução da liquidez no mercado internacional, seja pelo aumento da atratividade do mercado financeiro americano, sem perder de vista que outros países emergentes passaram a serem concorrentes fortes na atração de investimentos.
A perspectiva não nos parece boa, e a perspectiva é que influencia os comportamentos e a formação do preço da moeda americana no nosso mercado.