BHIA3: Otimismo e risco no gráfico com alta de 11% das Casas Bahia
O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master em 18 de novembro de 2025, vinculando a decisão à Operação Compliance Zero, que investiga emissão de títulos de crédito falsos e fraudes no sistema financeiro.
O dono do banco, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal ao tentar embarcar para Dubai, em Guarulhos, em meio à investigação.
Ao mesmo tempo, o Master deixou um rastro de problemas: milhões de clientes, CDBs vendidos como “renda fixa segura”, rating elevado há pouco tempo, e conexões com fundos investigados por lavagem de dinheiro.
Este artigo é um alerta: não é só sobre o Banco Master. É sobre desconfiar de qualquer banco ou plataforma que empurre “rendimento alto demais” como se fosse presente de Deus.
Quem era o Banco Master?
O Banco Master é um banco brasileiro, autorizado pelo Banco Central, com origem na década de 1970 (antigo Banco Máxima), que cresceu forte nos últimos anos com foco em varejo, crédito consignado/cartão consignado e captação via CDBs de alta taxa distribuídos por plataformas digitais.
Em 2024, a Fitch elevou o rating nacional de longo prazo do Banco Master para A–(bra), citando fortalecimento de capital e perfil de risco. Em 2025, o banco entrou para rankings internacionais de bancos relevantes por Tier 1, com bilhões em ativos. Segundo dados divulgados pela imprensa, o conglomerado Master chegou a ter R$ 86,4 bilhões em ativos e R$ 62,2 bilhões em depósitos potencialmente cobertos pelo FGC. Ao mesmo tempo, seu modelo de negócios chamava atenção: crescimento agressivo financiado por CDBs com juros acima da média de mercado, vendidos através de grandes plataformas (XP, Nubank, Inter e outras).
Esse mix é explosivo: crescimento rápido + rating bom + selo de plataformas grandes + taxas “turbinadas” cria a sensação de que o risco é muito menor do que realmente é.
O roteiro do Banco Master nos últimos meses
Reportagens descrevem o Master como banco que cresceu acelerado apoiado em títulos de dívida com juros elevados, vendidos em massa nas plataformas de investimento.
O BRB (Banco de Brasília), banco estatal, anunciou a intenção de comprar 58% do Banco Master em um negócio estimado em cerca de R$ 2 bilhões, dependendo de ajustes de due diligence. Em maio de 2025, um juiz brasileiro bloqueou o BRB de assinar o contrato definitivo de compra, atendendo a pedido do Ministério Público, que exigia aprovação prévia de acionistas e legislativo.
Paralelamente, investigações federais no setor financeiro apontaram um esquema de fraude e emissão de títulos falsos, com uma operação que resultou na extrajudicial liquidação do banco pelo Banco Central.
A liquidação do Master é considerada a maior intervenção bancária da história do sistema financeiro brasileiro, superando casos clássicos como Nacional, Econômico e Bamerindus em valor de ativos envolvidos.
Com a prisão do dono e conexões perigosas. A PF prendeu Daniel Vorcaro, dono do Master, no aeroporto. Reportagem da CNN Brasil mostra que o Banco Master mantinha vínculos financeiros com gestoras investigadas por ligação com crime organizado (Trustee DTVM e Reag Investimentos), alvos da Operação Carbono Oculto, que apura fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.
Resultado: 12,4 milhões de clientes afetados direta ou indiretamente, segundo sindicato dos bancários.
Conexão com o governo?
Onde é preciso separar dado público de insinuação gratuita.
Fatos:
- O BRB é um banco estatal regional, ligado ao governo do Distrito Federal, com forte interação com o governo federal e sua base política.
- O BRB estava em negociação avançada para comprar o controle do Master, com preço em torno de R$ 2 bilhões, negócio que só não andou por causa de decisão judicial.
- A imprensa revelou que o dono do Banco Master teve diversas reuniões com o Banco Central, inclusive com diretor, em contexto de operações envolvendo o BRB.
Além disso, análises opinativas publicadas na imprensa destacam o “peso político” do caso, falando em tentáculos do banqueiro em “altos níveis de poder” e na esfera de influência de figuras como presidente e ministro da Fazenda.
Com base no que é público:
- As investigações se concentram no banco, seus controladores e fundos parceiros.
- Não existe condenação judicial que prove participação criminosa direta de autoridades do governo na estrutura de fraudes do banco.
- As conexões com o Estado aparecem: via negócios com banco estatal (BRB), via espaço político e regulatório em que essas operações eram discutidas.
O que dá pra afirmar, com segurança, é que o caso Master expõe o risco da promiscuidade entre bancos médios agressivos, fundos pouco transparentes e o uso de bancos estatais como ponte para legitimar operações gigantescas.
O que o investidor pessoa física via
CDBs de banco médio com taxas acima do padrão (ex.: mais de 120% do CDI) aparecendo em massa em apps de grandes plataformas. Rating A–(bra) de agência grande, sugerindo solidez. Campanhas educacionais explicando que CDB tem cobertura do FGC até R$ 250 mil por CPF e por instituição, o que, em tese, blindaria o pequeno investidor.
Para o investidor comum, a mensagem implícita era: “Se XP/Nubank/Banco grande oferece, se tem rating bom e se tem FGC, então tá tudo certo.”
O caso Master mostra que isso é uma meia verdade perigosa. O FGC protege valor até 250 mil, não protege contra dor de cabeça, demora, travamento de liquidez, perda de oportunidade e estresse. Rating pode ser míope a riscos de governança, fraude ou modelo de negócio exageradamente alavancado. Plataformas de investimento são intermediárias, não garantidoras totais do risco de crédito do emissor.
Sinais vermelhos para desconfiar de bancos e CDBs “apetitosos”
- Se um CDB paga muito mais que outros do mesmo risco aparente, pergunte: “Por que esse banco precisa pagar tanto pra captar dinheiro?”
Pode ser só competição? Pode. Mas pode ser sinal de risco de crédito alto ou modelo de negócio frágil.
- Quando o motor do crescimento é emitir título com juro elevado pra financiar operações arriscadas, o banco fica na corda bamba: qualquer choque de confiança vira corrida por liquidez.
- Parcerias com bancos públicos não transformam automaticamente um banco em “seguro”. Pelo contrário: às vezes indicam risco político e conflitos de interesse.
- Um upgrade de rating, como o do Master em 2024, não é selo eterno. Rating é foto num momento, não garantia de futuro.
E quem tinha CDB do Banco Master?
O FGC deve atuar para cobrir até R$ 250 mil por CPF por instituição, como em outros casos de liquidação. Há relatos de empresas e pessoas com montantes bem acima desse limite, que podem sofrer perdas relevantes. Reclamações recentes mostram dúvidas sobre prazo de pagamento, canal oficial e comunicação de XP/Inter/Nubank etc.
O recado para quem ainda está exposto a outros bancos médios é simples: Respeite o limite do FGC como se fosse linha vermelha. Evite concentrar tudo em um banco só porque “paga mais CDI”. Desconfie de narrativa de rendimento alto “sem risco”, principalmente em bancos que você nunca tinha ouvido falar até aparecer no app.
O recado do caso Master para o investidor
O colapso do Banco Master não é apenas a história de um banco que oferecia CDBs atrativos e “deu ruim”. E sim modelo de funding baseado em juros altos, com intervenção recorde do Banco Central em termos de volume, vínculos com fundos investigados por lavagem de dinheiro e crime organizado, tentativa de operação bilionária com banco estatal, criando um verniz de legitimidade política, milhões de pessoas que acharam que “CDB é tudo igual” e agora dependem de FGC, burocracia e tempo.
Importante deixar claro, Até aqui, as acusações criminais e investigações recaem sobre o banco, seus controladores e parceiros privados. alar que “o governo roubou junto” sem prova ou decisão judicial não é análise, é acusação sem lastro.
O que o investidor tira de lição
Pare de olhar só para taxa. Comece a olhar para modelo de negócio, governança, histórico, dispersão de risco e limite do FGC. E lembre-se: quando um banco médio precisa te pagar muito mais do que o Tesouro paga, ele não está sendo bonzinho, ele está comprando o seu risco de crédito com juros altos.
