O que dá para falar
Não tem como começar com outra coisa. O tão aguardado anúncio de novo CEO da Petrobras frustrou as expectativas de mercado, vide a forte retração das ações.
É obviamente precipitado comentar sobre como será o perfil de gestão de Aldemir Bendine, à frente da estatal. Isso só o futuro dirá. Qualquer coisa neste sentido não passa de mera elucubração.
Vou me ater, portanto, ao perfil de gestor que o mercado esperava para a Petrobras.
Ao embutir sobre as ações uma alta percentual maior inclusive do que quando da descoberta do pré-sal, o mercado apostava em um “dream team” para a empresa.
O pacote dos sonhos incluía ao menos 3 coisas: nomes que remetessem ao estado da arte em termos de governança corporativa, relativamente blindados de ingerência política orientados o mercado, de forma a recuperar a credibilidade (e as contas) da empresa
O mercado sonhou com Agnelli (ex-Vale), Meirelles (ex-Bacen e atual holding da JBS) ou Paulo Leme (Goldman Sachs) e acordou com Aldemir Bendine (ex-BB).
O que acho do Bendine?
Que, em primeiro momento, ele não atende às condições listadas acima.
Não é propriamente um nome ilibado em termos de boas práticas de governança corporativa. Famoso pelo escândalo dos empréstimos em benefício da apresentadora Val Marchiori (ex-Mulheres Ricas), e citado pelas matérias do dia por problemas recentes com o Fisco.
Embora sob a égide de “banqueiro”, não é um nome de mercado. BB é uma estatal, recente alvo de ingerência política sob sua sua gestão.
Foi quem colocou na rua o "Bom para todos", negócio totalmente anti-mercado (e anti-BB), em clara subserviência ao planalto.
Em uma economia em frangalhos, o banco estatal, a mando do governo, expandiu carteira de crédito a mais de 20% ao ano, algo completamente descolado da realidade, e agora lida com deterioração do ROE e risco de aumento da inadimplência, enquanto pares privados como Itaú e Bradesco nadam de braçada.
Pode fazer uma bela gestão à frente da empresa? Pode. Torçamos para isso.
Mas definitivamente não é “super-homem” que estava nas contas do mercado.
Esclarece-se: a perda dos acionistas da Petrobras especificamente hoje, que fique claro, não está na conta da Dilma. A presidente tem sistematicamente decepcionado e enganado o mercado. Quem esperou postura diferente desta vez, foi ingênuo (e perdeu dinheiro). Não faltou aviso.
Meta de inflação? Móoorreu
A inflação oficial (IPCA), que a presidente chegou a afirmar durante campanha que “está em 0%”, atingiu a maior alta para janeiro em 12 anos, acumulando 7,14% em doze meses, bastante acima do teto da meta de inflação.
E segue contando.
Janeiro ainda não captura eventos importantes, como a escalada mais recente do dólar, o impacto mais sério do aumento de combustíveis na bomba e o iminente aumento adicional nas tarifas de energia.
E houve quem nos acusasse de terrorismo ao afirmar, há um ano, que a inflação real já havia estourado o teto da meta, considerando o represamento de preços pré-eleição.
Agora, parte do mercado começa a revisar as suas contas de forma mais enfática, sugerindo inflação em torno de 8%, com juros acima de 14% e retração da ordem de 1,5% da economia brasileira em 2015 com racionamento de água e energia.
A conclusão é a mesma de um ano atrás: a situação é periclitante; e vá de títulos pós-fixados.
Um tapa na cara
Agora, um tapa na cara dos analistas e economistas de mercado.
O serviço de informações financeiras da Bloomberg compila dados de postagens de pessoas via twitter para monitorar expectativas para indicadores econômicos, e esta pesquisa tem indicado dados mais precisos do que as projeções do consenso dos economistas.
Com base nisso, divulgou hoje as expectativas para os dados do mercado de trabalho americano:
twitter: criação de 223 mil vagas de trabalho em janeiro
economistas: criação de 230 mil vagas
E quanto veio?
257 mil vagas de trabalho, atingindo o melhor resultado para o período de inverno desde 1997. E, atropelando ambas as expectativas. Sinal no sentido de recuperação mais consistente da economia americana e potencial acelerador do processo de alta dos juros por lá.
E o dólar chega a R$ 2,78...