“Bettina, gaste!” Não conseguia parar de lembrar disso ontem. Ria sozinho. Procurei os áudios para escutar de novo, mas não encontrei. Acho que tiraram do ar, sei lá.
Puxando na já desgastada memória, era algo mais ou menos assim: “A gente tava em St Barth, chegaram umas rrrrussa lá, umas ucraniana… nossa… dei logo o cartão pra Bettina; ela gosta de dar uns teco com as amigas… mandei gastar. Passamo o dia com as rrrrussa. Impagável. Tá louco”. Esse só perdia para um primeiro, que, desculpe o meu francês aqui, mas eu preciso replicar para não perder a espontaneidade, falava (as palavras são dele, não minhas — reitero: está entre aspas por isso): “Pegamo o Tchelo, da Odebrecht, tocando uma no banheiro. Ele morreu de vergonha”. Era algo assim.
Se você não está entendendo nada até aqui, tudo bem. Explico. São trechos de áudios que circulavam no WhatsApp e depois foram para o YouTube, em linguagem nada moderada e comedida como você pode ver, de uma personagem fictícia chamada Tio Ricco, mantida sob anonimato. Não sou um cara das redes sociais, mas acho que ele está no Instagram hoje em dia. Monstro sagrado. Sou fã-mor. Carregado de um humor ácido politicamente incorreto, trata do tema de finanças e investimento como ele é: vida real, vento na cara, conhecimento de rua, fazedor de negócio, ganhador de dinheiro. Mais curioso, para mim, é como ele conhece todos os personagens de mercado. Conhece até o funcionamento do prédio aqui, os bastidores, detalhando cada parte do Malzoni. Foi engraçado ouvi-lo cobrando do Esteves a construção de uma academia no prédio. O próprio Esteves achou engraçado.
Tio Ricco e seu sucesso são a constatação objetiva e pragmática de que as finanças pertencem aos praticantes, e que devem ser tratadas como um tema da prática, pelos verdadeiros ganhadores de dinheiro e com a linguagem que lhes é natural, não com contornos pasteurizados e esterilizados sem qualquer ressonância nas pessoas.
Mas eu não lembrei dele à toa. Ontem, a Empiricus foi parar nos trending topics do Twitter com a palavra “Betina”, embora o correto seja “Bettina”, homônima à esposa do Tio Ricco. Desculpe a sinceridade, mas trending topics, principalmente para um tema de finanças, não é para qualquer um.
Foi uma reação viral e orgânica à nossa nova campanha no YouTube em que ela, Bettina, a atriz e modelo do Sul do Brasil que contratamos para atuar e narrar nossas inventadas peças de marketing, conta como saiu de um patrimônio de mil reais para um milhão de reais em três anos. É um estímulo para o investimento em ações.
Sempre há os “megainteligentes”, “espertos” das redes sociais, prontos para sair na frente de todo mundo e logo opinar, com a profundidade de uma folha sulfite: “Ah, vocês não me enganaram; sempre soube que era uma atriz contratada! Bingo. Ganhei mais essa.”
Povo prascóvio, diria Riobaldo. Gente chata. Lá vamos nós ter de explicar as piadas. Passa um Engov, por favor.
Bettina não é uma modelo do Sul, nem atriz. Foi uma ironia (como é besta ter que dizer “eu estava sendo irônico”). Nosso suposto outro modelo e ator contratado seria Guilherme Ebaid, da equipe de pesquisa em ações propriamente dita — meu, o cara é bonito; that’s all.
Bettina trabalha no nosso time de copywriters, possui um talento natural para gravar vídeos e é a segunda pessoa a chegar na Empiricus todos os dias — eu sou o primeiro. Ok, o Torelli e o Adilson revezam com a gente no pódio, para ser mais sincero. Como estuda e pratica finanças desde muito nova, a Bettina também dá suas contribuições para o time de especialistas de investimento — nós a recebemos prazerosamente.
Ah, sim, ela é linda também, embora isso não devesse receber a atenção que vem lhe sendo conferida, pois o conteúdo importa muito mais. Por favor, vá até o final do texto para descobrir como essa história começou. Temos um orgulho enorme em ter a Bettina em nosso time — pessoas brilhantes, dedicadas e geniais não são fáceis de encontrar.
Sobre o anúncio em si, recorro a Alberto Dines mais uma vez: há situações verdadeiras que não verossímeis. E há situações verossímeis que não são verdadeiras. O “caso Bettina”, sob os mais variados ângulos possíveis, está no primeiro grupo.
Por mais incrível que possa parecer, ela saiu mesmo de um patrimônio de mil reais para um milhão de reais em três anos. Aconteceu. Eu mesmo duvidei e ela me mostrou o extrato. É provável? Não. É fácil? Não. Deve acontecer de novo? Nessa magnitude e nessa velocidade, muito provavelmente não. Mas aconteceu. E ponto final. Nesse intervalo de tempo, Bettina investiu fundamentalmente em ações. E, claro, teve também outras fontes de renda. A soma das coisas (a valorização das ações, dividendos, novos aportes e as outras fontes de renda) trouxe essa multiplicação toda.
Para mim, em particular, é motivo de especial satisfação ver a Bettina, espontaneamente (foi ela mesma quem escreveu o texto dos anúncios; aquilo não é falado de improviso), se dispondo a abrir, da forma mais transparente possível sua conta bancária pessoal e sua evolução patrimonial, mostrando o quanto é possível cidadãos comuns ganharem dinheiro com ações. É compromisso com a causa, alinhamento com a nossa vocação. Isso engaja as pessoas, viraliza, contamina, causa mudança de comportamento — é o que a Bettina está tentando fazer; ir parar no trending topics é um sinal inequívoco de que deu certo.
Por conta das minhas críticas ao conflito de interesses inerente ao modelo de agentes autônomos, algumas pessoas acham que eu não gosto da XP. Não poderia estar mais longe da verdade. Sou um grande admirador e um fã declarado da XP e do Guilherme Benchimol em particular — isso, claro, não significa que não haja críticas importantes, como de fato há; eu vivo de dar opiniões e valorizo modelos sem conflito de interesses.
Sabe por que admiro tanto a XP? Porque os caras são fazedores. Realizaram algo de fato. Não tem conversinha, discurso politicamente correto (quer dizer, agora até tem e essa parte está meio chata, mas vamos dar uma colher de chá para essa ideia de que os cursos de análise técnica dados lá no começo para gerar corretagem na plataforma de trading eram, na verdade, iniciativas de educação financeira). A turma da XP mudou o paradigma de investimentos no Brasil com o conceito de plataforma aberta. Ninguém fez mais pelo investidor pessoa física na história brasileira do que a XP.
Eu valorizo os fazedores, aqueles que de fato fizeram algo pelo investidor no Brasil.
“O que você acha do TradersClub?” Fazedores.
“Money Times?” Gustavo Kahil, fazedor.
“Atom?” Família Paiffer, fazedores.
Gente que está tomando vento na cara, apanhando de tudo quanto é lado para tentar empreender no mercado financeiro brasileiro, onde mandam interesses estabelecidos fortíssimos, escorados na muleta e no discurso de que “precisamos proteger o investidor dessa turma nova irresponsável”. Claro, vamos proteger nossa reserva de mercado e manter esse sistema oligopolizado, com 90 por cento do dinheiro dentro dos grandes bancos, vendendo PIC, CDB podre, fundo de previdência com taxa de 4 por cento ao ano. Linguagem moderada e serena: falamos tudo bonitinho, mas colocamos o correntista em carro importado, com mulher gostosa no banco do passageiro. Isso é adequadíssimo!
Sabe qual é o risco de deixar esses novos fazedores soltos por aí, empreendendo ao sabor da tentativa e erro e regulados apenas pelas forças do livre mercado? Olha, tem um risco bem grande: o risco de o nosso mercado se aproximar do norte-americano, que segue exatamente esse modelo. Por que a gente não simplesmente copia os EUA, em vez de querermos tutelar o outro, como se nós tivéssemos alguma autoridade capaz de ditar “o jeito certo de fazer”. O “jeito certo de fazer” permitiria a existência de um Jim Cramer no Brasil? Permitiria a publicação de um livro sobre “o segredo para ficar bilionário com ações”? Deixo as perguntas em aberto.
Sou daquela pegada Simone: “Então é Natal, e o que você fez?”. Acho que seria melhor ter falado John Lennon, né? “What have you done?”
Respeito cada crítica à Empiricus . Aprendo com cada uma delas. Todos os dias me empenho em melhorar, desprezando crescentemente os elogios, que na verdade não servem para nada, além de alimentar nosso ego. Mas respeito em especial a crítica dos fazedores, daqueles que fizeram alguma coisa, qualquer que seja, pelo investidor de varejo no Brasil.
Por isso, hoje, humildemente, faço uma convocação para você. Sendo leitor desta newsletter, você já está bem à frente da média do brasileiro em termos de contato com o ambiente de investimentos. Então, use esse seu poder e esse seu diferencial pelo bem: convença alguém, basta que seja uma pessoa, a melhorar seus investimentos.
Ligue para aquela sua tia com dinheiro na poupança e lhe apresente o fundo DI do BTG Pactual (SA:BPAC11) — explique que se trata do mesmo risco, mas rende muito mais.
Convença aquela pessoa com 100 por cento do dinheiro em renda fixa a comprar um pouquinho de ações. Só coloque o pé na água. “Ah, mas investir em renda variável é muito arriscado pra mim.” Será mesmo? Mesmo se for com 5 por cento da sua grana? Pense nisso e passe esse bordão para a frente. Sugiro pisar em BOVV11 e em um pouquinho de SMAL11. Se mesmo assim ela não topar, tudo bem. Tente falar de NTN-B 2050: mais risco, claro, mas retorno de Bolsa, com a beleza de que você vai poder dizer que é renda fixa.
Fala para seu sogro atolado em imóveis vender aquele apartamento no Campo Belo, o centésimo sétimo da coleção dele, e comprar um pouco de fundo imobiliário. BC Fund, VISC e Kinea são opções legais.
Sugere para aquela família com dinheiro aplicado na Brasilprev fazer a portabilidade para a Vitreo. Não há alternativa melhor em Previdência, mesmo. E a família preserva todos os benefícios tributários. Insista nesse último ponto.
Lembra seu amigo que se acha sofisticado da necessidade de diversificar também entre moedas. Pede um espacinho no portfólio dele para ouro e dólar. Ou vamos expor nosso investimentos integralmente à moeda deste país maluco em que se critica pra caramba sem ter feito nada pragmático e com efeito material pelo bem do outro?