Na semana passada, as empresas petrolíferas dos EUA divulgaram lucros recordes no terceiro trimestre. Isso já era esperado, pois o preço médio do barril de petróleo no período foi de US$ 91,43. Muito embora os preços tenham recuado em relação aos registrados no primeiro semestre de 2022, essa cotação ainda é muito maior do que a média dos últimos sete anos. Para ilustrar melhor o patamar de preços do 3º tri, a última vez em que a cotação média anual do barril de petróleo ficou acima de US$ 68 foi em 2014, quando atingiu US$ 93,17.
Todas as grandes petrolíferas americanas divulgaram um magnífico aumento dos lucros. Por exemplo, a Exxon Mobil (NYSE:XOM) lucrou US$ 19,7 bilhões no período, ao lado da Chevron (NYSE:CVX), com US$ 11,2 bilhões de lucro, e da Hess (NYSE:HES), com US$ 515 milhões.
Na segunda-feira seguinte ao anúncio dos resultados, o presidente dos EUA, Joe Biden, condenou a indústria petrolífera local por esses lucros, dizendo que eram um “subproduto inesperado da guerra”, além de criticá-la por não ter reduzido o custo dos produtos petrolíferos para os consumidores. Por isso, pediu que o Congresso aprovasse um imposto extraordinário para penalizar as companhias do setor.
É muito pouco provável que tal legislação venha ser apresentada e, caso isso aconteça, menos ainda que o Congresso americano vote a favor dela. Afinal, o aumento da taxação das empresas que produzem petróleo poderia ter um efeito contrário, ao aumentar os preços para os consumidores, diante do repasse dos custos maiores. Tudo indica que essa menção de Biden a um imposto extraordinário tenha sido apenas um discurso político para mostrar aos eleitores americanos que seu governo está tentando reduzir os custos de energia às vésperas de uma eleição.
Ainda que Biden não esteja buscando uma reeleição, pode haver uma grande renovação de deputados, senadores e governadores no dia 8 de novembro, e o presidente deseja que os candidatos do partido democrata vençam. Os investidores saberão que se trata apenas de uma fumaça política, quando os rumores a respeito dessa taxação arrefeceram logo após a eleição de 8 de novembro. Tudo indica que não haverá uma reação séria por parte da indústria aos últimos comentários de Biden, a menos que as ameaças continuem após a eleição da semana que vem. Caso isso ocorra, o mais provável é que os produtores tomem medidas para se preparar.
Outra questão que os investidores devem acompanhar é o montante que as empresas petrolíferas estão destinando a despesas de capital. O governo Biden, de fato, pediu que as petroleiras aumentassem seus investimentos em novas instalações de produção de petróleo e gás nos EUA. As empresas do setor, com exceção da Aramco (TADAWUL:2222), reduziram consideravelmente seu dispêndio de capital durante a queda dos preços nos últimos anos. Com a alta dos preços, os investimentos voltaram a aumentar, mas o fato é que as empresas não estão planejando aumentar muito as despesas de capital.
Uma pesquisa recente com executivas de empresas petrolíferas nos EUA mostrou que os investimentos em ativos upstream (produção e exploração) devem crescer 29% neste ano, para US$ 108 bilhões. Esse ritmo de investimento é muito menor do que os ganhos de fluxo de caixa dessas companhias. O governo Biden pode tentar incentivar uma alocação maior dos lucros das petrolíferas em despesas de capital, o que pode promover o aumento da produção e da oferta de petróleo no futuro. Ocorre que isso iria de encontro com as políticas ambientais da Casa Branca. Novamente, os investidores precisam aguardar até o fim das eleições da semana que vem para ver se se trata apenas de retórica política e de uma política governamental concreta.