O lançamento dos primeiros indicadores de preços do biometano brasileiro inaugura uma fase de busca por maior transparência nesse mercado, com empresas mais empenhadas em substituir o gás natural de petróleo para cumprir metas de descarbonização.
Os preços calculados de paridade do biometano nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, os dois maiores centros do Brasil, variaram entre R$2,45-2,77/m³ em 8 de março, de acordo com os primeiros indicadores de preços do mercado lançados pela Argus.
Tal precificação leva em conta o valor dos créditos de descarbonização (Cbios) que remunera produtores de biometano certificados na Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio) e a média ponderada dos preços do gás natural no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Produzido a partir de restos orgânicos, tanto de aterros sanitários como de subprodutos da indústria sucroalcooleira, o biometano pode ser misturado junto ao gás natural na mesma rede de gasodutos, porém reduzindo emissões de gases causadores do efeito estufa.
Incentivos à produção e ao uso do biometano fazem parte do projeto de lei “Combustíveis do Futuro” aprovado pela Câmara dos Deputados, em 13 de março. O texto prevê a criação de um programa de descarbonização do produtor e importador de gás natural por meio do biometano, com metas anuais de redução de emissões a serem definidas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A pauta segue para análise do Senado Federal.
Geralmente, os produtores de biometano determinam seus preços caso a caso, dependendo de uma série de fatores, como a necessidade do consumidor pelo atributo verde, a rota de substituição energética – o biometano pode substituir o diesel – e os custos de logística.
Inicialmente, o setor de biometano olhou para os preços do gás liquefeito de petróleo (GLP) como referência, pois as indústrias só precisam de pequenas alterações para trocar um combustível pelo outro. Mas o mercado de GLP é muito mais consolidado e estável em seu fornecimento do que o biometano. A indústria internacional de petróleo e o câmbio também influenciam esse mercado, levando a distorções que não refletem, necessariamente, as condições reais do mercado de gás natural renovável.
Participantes de mercado ainda estão aprendendo a monitorar o setor de biometano, uma vez que suas estruturas de produção e fornecimento são novas no Brasil, avalia Hugo Nery, diretor executivo da empresa de aterros sanitários Marquise Ambiental, parte da joint venture que controla a usina de biometano GNR Fortaleza, de 110.000 m³/d.
Todas as usinas de biometano autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e certificadas no Renovabio são elegíveis para emitir Cbios a cada venda de biometano, que é um mercado regulado de carbono com metas para distribuidoras de combustíveis compensarem o impacto das vendas de combustíveis fósseis.
Mas o Renovabio ainda pode ocupar muito mais espaço no setor de biometano, de acordo com o diretor executivo da produtora de biometano Gás Verde, Marcel Jorand. Por ora, os Cbios são a alternativa mais líquida para precificar o atributo verde do biometano no Brasil, com outros modelos de certificação ainda em estágios preliminares e não negociados abertamente.
A Zeg Biogás, empresa do grupo Capitale Energia, prevê iniciar uma usina de biometano de 30.000 m³/d, no estado de Minas Gerais, no segundo semestre do ano. A companhia tem como objetivo explorar o mercado fora da rede na região e espera assinar quatro contratos adicionais neste ano e elevar a capacidade de produção, afirma o diretor executivo, Eduardo Acquaviva.
A Gás Verde, que detém a maior usina de biometano do Brasil em Seropédica, no estado do Rio de Janeiro, com 204.000 m³/d de capacidade, também pretende expandir. A empresa transformará nove usinas térmicas a biogás em geradores de biometano, nos próximos 18 a 24 meses.