Após um grande inverno vivido em 2018, a rede Bitcoin voltou a crescer a passos largos no primeiro semestre de 2019. Diversos indicadores da blockchain voltaram a se aproximar das máximas históricas, ocorridas em dezembro de 2017, no auge do maior rali já visto na história do Bitcoin. Dentre os principais indicadores que retornaram aos níveis de dezembro de 2017 podemos destacar o número de endereços ativos; número de transações na rede e o realized cap, que mede o valor em dólar injetado na rede Bitcoin, que se encontra próximo à máxima de US$ 90 bi.
Alguns indicadores chegaram mesmo a superar suas máximas históricas, como o hash rate, que quantifica o processamento da rede. O crescimento da hash rate também levou a dificuldade de mineração para novas máximas. A subida de ambos indicadores pode ser explicada pelo crescimento da receita dos mineradores, que subiu consideravelmente nos meses de maio e junho, apesar de ainda longe do seu topo histórico. Todos esses indicadores corroboram a tese de maior interesse em mineração, o que ajuda a tornar a rede cada vez mais segura a ataques.
Apesar da grande alta de junho, o valor médio por transação em dólares se encontra na faixa dos US$10.000, bem distante dos US$50.000, máxima histórica em 2017, o que significaria que a transação média encontra-se na faixa de 1 BTC, distante dos 2,5 BTC atingidos em dezembro de 2017. Essa queda poderia indicar que players que passaram por um grande período de acumulação não estão dispostos a se desfazer de grandes quantias de BTC.
O Bitcoin days destroyed (BDD), que é obtido multiplicando a quantia de bitcoins transacionada pela quantidade de dias desde sua última transação, segue caindo, demonstrando que grandes quantias de Bitcoin não estão sendo transferidas pela blockchain e que holders de longo prazo não estão despejando Bitcoin no mercado. Isso parece indicar que a grande movimentação de preços deve estar ocorrendo nas exchanges e não nos mercados de OTC (over the counter), que envolveriam a transferência pela blockchain.
De fato, analisando as hodl waves, que avalia quando as UTXOs (unspent transaction outputs, o saldo das wallets) foram movidas pela última vez, observamos que houve pouca movimentação nos holders de longa data (acima de dois anos). As maiores movimentações parecem estar acontecendo nas faixas de 18 meses e um ano, o que é natural já que se trata de novos entrantes realizando lucro de curto prazo.
Do lado dos preços e dados on-chain, temos análises conflitantes. O múltiplo de Mayer, obtido dividindo o preço atual do Bitcoin pelas médias móveis de 200 dias, vem se aproximando de 2,4, valor que historicamente indicou sobrevalorização do BTC. De fato, no dia 26 de junho ele superou os 2,4, o que explicaria a queda ocorrida no dia, quando o BTC caiu de US$13.800 para a região dos US$11.700
A NVT é um indicador que pretende funcionar como o P/L do Bitcoin, obtido dividindo o valor de mercado pelo valor em dólares transferido em transações através da blockchain. Ajustando-se a NVT por uma média móvel de 90 dias, obtém-se a NVTS, indicador que historicamente tem conseguido prever sobrevalorização do Bitcoin quando se encontra superior a 100. A NVTS tem chegado próximo desse valor, tendo atingido 99,6 no dia 26/06, dia em que o múltiplo de Mayer também rompeu seu limiar de segurança e enfrentamos uma queda de cerca de 17% do preço.
Se o múltiplo de Mayer e a NVTS indicam um cenário de risco, o MVRV (market value to realized value) pinta um outro quadro. Obtido dividindo o valor de mercado do Bitcoin pelo valor das moedas (UTXOs) da última vez que foram movidas, espera-se estimar o valor pelo qual as moedas teriam sido adquiridas, avaliando a relação da cotação atual com o valor injetado em dólares na rede Bitcoin. Historicamente o MVRV indica subvalorização do Bitcoin quando se encontra inferior a 1 e sobrevalorização quando se encontra superior a 4. Atualmente ele se encontra ainda bastante inferior a 3, o que indicaria que o Bitcoin ainda teria muito espaço para se valorizar.
Dessa forma, os indicadores parecem sugerir que mesmo apesar da alta recente, assim como a ligeira correção subsequente, a comunidade vem passando por um crescente período de acumulação, sem sinal de que players antigos estejam prontos a despejar grandes quantias de BTC no mercado. Informações como essas ajudam a consolidar uma tendência de alta generalizada, ainda sem indícios de reversão a despeito do que possa dizer os gráficos de curto prazo.