O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento julho/21 cotado a 16.72 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 24 pontos em relação à semana passada (cerca de 5.20 dólares por tonelada). Como o real se desvalorizou em relação ao dólar na semana, o fechamento convertido em reais apresentou melhora de 10 reais por tonelada na média da safra 21/22, R$ 15 na safra 22/23 e R$ 23 na safra 23/24.
Os três primeiros vencimentos de NY mostram um mercado futuro em ligeiro carrego, refutando a narrativa de possível falta de açúcar no curtíssimo prazo. Ainda assim, se ela ocorrer, o carregamento refletido nas cotações futuras pode indicar que a quantidade de açúcar no pipeline (sistema) é mais do que suficiente para se contrapor a um eventual desequilíbrio pontual na oferta.
Falamos aqui na semana passada da vulnerabilidade do mercado. Os fundos não indexados, pelos números divulgados pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, reduziram a posição comprada em 25,599 contratos e o mercado caiu 89 pontos.
Na semana passada, quando os fundos aumentaram suas posições compradas, o mercado moveu um ponto para cima a cada 172 lotes negociados (comprados) pelos fundos. Agora, nesta semana, em que liquidaram suas compras, o mercado caiu 1 ponto a cada 288 lotes vendidos. Parece-nos que o mercado está assimilando melhor a queda – já que absorve mais lotes para variar apenas um ponto. Pode ser fixação de consumidor? Apenas conjecturando.
O Brasil exportou 1.9 milhão de toneladas de açúcar em abril levando o acumulado de doze meses (maio/20-abril/21) para 32.5 milhões de toneladas, volume que é 68.7% superior ao do mesmo período do ano passado. Grosso modo, o mercado internacional assistiu a uma inundação de açúcar brasileiro de 13.3 milhões de toneladas em um ano. Analisando o período de 24 meses objetivando anular eventuais picos e vales, as exportações alcançaram 51.8 milhões de toneladas (cobrindo maio/19-abril/21), ainda 12% abaixo do maior volume no período de 24 meses alcançado em outubro/2017, que foi de 58.7 milhões de toneladas. Se exportarmos nesta safra os 25 milhões de toneladas de açúcar estimados, vamos bater o recorde no período de 24 meses. Isso mostra que o Brasil recupera sua fatia no mercado internacional. E o mundo vai precisar do Brasil. Por que dizemos isso?
Se compararmos o consumo global de 20/21 com a média dos três anos anteriores, verificamos um crescimento pífio de 0.2% que tem provocado preocupação em toda a cadeia do açúcar para os próximos anos. No entanto, notamos que a curva de consumo está mudando de inclinação. São quatro os principais motivos dessa mudança alvissareira: a) países cujo padrão de consumo per capita de açúcar tem sido crescente, refletindo a melhora da renda; b) países consolidados como grandes consumidores cuja população também aumenta; c) países cujo potencial existe, mas esbarra na renda per capita para o consumo de alimentos industrializados e bebidas; d) países que podem migrar – ainda que lentamente – do consumo de xarope de milho para o de açúcar, como ocorreu recentemente com os EUA.
Conservadoramente, a combinação desses fatores aponta para um crescimento no consumo mundial de açúcar de aproximadamente 1.0 % ao ano nos próximos 6 anos, enxotando assim a visão desestimulante que tínhamos acerca do consumo em passado recente. Nossa estimativa dá conta que o consumo mundial vai passar dos atuais 173.8 milhões de toneladas para 184.4 milhões de toneladas na safra 26/27. Interessante notar que ¾ desse incremento de consumo de quase 11 milhões de toneladas virá de 5 países.
A Índia é um dos responsáveis por esse aumento. A população indiana deve crescer 1% ao ano nos próximos seis anos, passando dos atuais 1.35 bilhão de habitantes para 1.43 bilhão (superando a China) e o consumo per capita passa – segundo nosso estudo – dos atuais 21.2 kg per capita por ano para 22. Assim, o país passará a consumir em 26/27 31.5 milhões de toneladas de açúcar, três milhões a mais do que consome hoje.
Ora, esse consumo adicional fortalece o mercado interno indiano em especial quando reconhecemos que parte da cana, ao longo dos próximos anos, deverá direcionada à produção de etanol que tem como principais objetivos diminuir a poluição nas principais metrópoles e aliviar a pesada conta de importação de petróleo da Índia, terceiro maior consumidor de energia do planeta. O país terá menor disponibilidade de açúcar para a exportação (a menos que a área plantada de cana cresça) tornando o mercado internacional mais curto e equilibrado.
Por essas razões, somos mais construtivos para o preço do açúcar em centavos de dólar por libra-peso ao longo dos próximos anos. E somos baixistas no açúcar para esta safra em reais por tonelada. O real está demasiadamente desvalorizado em relação ao dólar muito mais em função da total inatividade do governo federal em todos os aspectos da economia e do temor dos investidores estrangeiros acerca da instabilidade provocada pela constante crise política e de desconfiança dos rumos que o País vai tomar.
Fixar preços em reais por tonelada continua a ser uma estratégia acertada para o que sobrou ainda de açúcar para fixar nesta safra e, para as safras seguintes, recomenda-se a fixação de preços acompanhada pela compra concomitante de uma call (opção de compra) com preço de exercício 200/250 pontos acima no nível de fixação em NY.
Um bom final de semana a todos