Nos últimos três anos, a gigante do setor de aviação e defesa Boeing (NYSE:BA) (SA:BOEI34) vem trilhando um longo caminho de recuperação, depois que a sua credibilidade foi duramente abalada. O último balanço da companhia, divulgado na quarta-feira, mostra que ainda há obstáculos atrapalhando essa gigante industrial americana de finalmente superar todos os seus problemas.
Apesar do aumento da procura por seu 737 MAX e aviões de carga, a Boeing disse aos investidores, em sua última teleconferência, que sofreu um prejuízo trimestral, principalmente devido a problemas de produção do 787 Dreamliner. E a notícia veio apesar de a Boeing ter vendido mais aviões comerciais do que seu rival Airbus Group (PA:AIR) (OTC:EADSY) neste ano.
O prejuízo ajustado da companhia foi de US$0,60 por ação, sobre uma receita de US$15,3 bilhões, ambos os números abaixo das expectativas. Embora a fabricante de aviões sediada em Chicago tenha queimado muito menos caixa do que Wall Street esperava, o número foi alçado por um reembolso tributário de US$1,3 bilhão durante o trimestre.
O principal revés nos resultados veio de um encargo contabilístico de US$185 milhões pelo último atraso da aeronave Starliner, além de US$183 milhões em custos com os problemas de produção do 787 Dreamliner. A fabricante espera gastar cerca de US$1 bilhão no total em problemas com o emblemático avião comercial de fuselagem larga.
O CEO da Boeing, David Calhoun, disse o seguinte sobre os resultados:
“Estamos atingindo a estabilidade em todas as nossas operações. A demanda do mercado comercial continua ganhando tração, com a ampla distribuição de vacinas e início da abertura de protocolos fronteiriços. Daqui para frente, a capacidade da cadeia de fornecimento e o comércio global serão os principais vetores da nossa indústria e da recuperação maior da economia”.
Os investidores, no entanto, não estão convencidos de que a companhia superará rapidamente seus problemas, que se iniciaram após dois acidentes fatais envolvendo modelos 737 MAX no período de seis meses.
Desempenho das ações da BA ainda deixa a desejar
Apesar do forte repique desde o colapso do mercado em março de 2020, os papéis da BA registram queda de 4% neste ano, ficando bastante aquém do índice Dow Jones Industrial, que disparou cerca de 16% nesse período. As ações da empresa fecharam a US$207,79 ontem e ainda estão 50% abaixo da máxima histórica tocada no início de 2019.
A China continua sendo um dos maiores riscos para os esforços de recuperação da Boeing. O estremecimento das relações comerciais entre EUA e China limitou as vendas no maior mercado mundial de crescimento de aviões comerciais, sem qualquer novo pedido desde 2017. A China ainda não autorizou a operação do MAX 737, suscitando especulações em torno das suas intenções.
Em análise recente, a Bloomberg disse o seguinte:
“A China ainda não autorizou o retorno do 737 Max da Boeing. Mas a fabricante de aviões não recuou em sua meta de aumentar de forma agressiva sua produção a partir do início de 2022. Será que a empresa sabe de algo mais que o resto de nós desconheça ou é apenas excesso de confiança?”
A Boeing reiterou, na quarta-feira, que planeja começar a produzir 31 modelos MAX por mês no início de 2022, bem mais do que o ritmo atual de 19. A empresa possui cerca de 370 aviões MAX em estoque e disse que a “vasta maioria” já têm um dono e, se suas projeções para a China se confirmarem, fará sua entrega até o fim de 2023.
Após os resultados, o Goldman Sachs (NYSE:GS) reiterou sua recomendação de compra da Boeing. Em nota aos clientes, o banco disse:
“Acreditamos ser altamente provável que, nos próximos meses, a Boeing obtenha: (1) aprovação da FAA para retomar as entregas do 787, (2) aprovação regulatória do 737 MAX na China e (3) uma aceleração nas viagens comerciais e internacionais. Esses catalisadores podem permitir que o mercado se posicione para resultados normalizados e maior fluxo de caixa, removendo os obstáculos que os investidores querem ver fora do caminho antes de comprarem o papel”.
Conclusão
O último balanço da BA mostrou que a companhia está melhorando gradativamente sua posição financeira e encontra-se em melhor posição do que há dois anos. Dito isso, suas ações continuam sendo uma aposta de recuperação no longo prazo para investidores que têm paciência, principalmente no momento em que a China continua sendo uma grande incógnita, e a retomada das viagens internacionais ainda é tênue.