Desde sempre houve momentos de crises econômicas, os chamados ciclos econômicos, alturas de crescimentos e outras de contração. Em relação a isto não existe qualquer dúvida.
A diferença está como lidamos com os ciclos econômicos, com os modelos aplicados, e no caso do Brasil na fase de crescimento não soube aproveitar para efetuar as reformas necessárias criando estruturas sólidas, mas sim optando pelo despesismo desenfreado e populista, e agora num cenário de contração e de baixa popularidade do governo encontrasse perdido, sem rumo, a espera de um milagre.
Já há meses tinha feito o alerta de que o país precisava aplicar um plano de austeridade, impopular é certo, mas necessário, começando pelos cortes das despesas públicas e aumentos de impostos, focado no ajuste fiscal, o que daria ao Brasil um maior grau de credibilidade, responsabilidade e confiança interna e externa.
O Brasil não pode se alhear que está inserido num mercado global, e que o exterior penaliza os países que enveredam por políticas econômicas desajustadas, erráticas, criando desconfiança.
Até agora o governo não fez nada que reverta este quadro, não reduz significativamente a sua despesa e também não procura aumentar a sua receita, exceção da famigerada CPMF, em que o governo aposta fortemente como tabua de salvação, mas a qual a sua aprovação se afigura muito difícil.
A realidade é que o governo não tem qualquer plano A, B ou C, simplesmente não governa, e quando o faz, faz mal, a volta CPMF não é solução, ou pelo menos não é suficiente.
O Brasil neste momento só tem dois caminhos que se entrecruzam, reduzir a despesa e aumentar impostos, agora cabe alguma reflexão sobre que impostos deveriam recair o aumento, sobre o rendimento ou sobre o consumo, ou sobre ambos.
Qualquer fosse a opção teria sempre impacto negativo na economia, se incidisse no rendimento, diminuiria ainda mais o rendimento disponível e retrairia mais o consumo, e também aumentando a inadimplência, se for consumo, ou seja, sobre os bens e serviços, levaria a um aumento de preços, pressionando mais ainda a inflação e por outro lado, também retrairia o consumo.
Ou seja, não há medidas que neste momento não tenham impacto negativo no imediato na economia para a obtenção do ajuste fiscal e controle das contas públicas e da dívida do Brasil.
O governo, se é que existe, está sem margem de negociação, entre o populismo como tabua de salvação ou a aplicação de medidas de austeridade (redução da despesa e aumento de impostos).
Perante esta situação e atuação do BC encontrasse limitada, sobre pressão dos mercados e pela inflação alta, que não mostra ainda sinais de recuo e nem que tenha entrado numa fase inercial, na sua forma de agir e ainda por cima pressionado ou se preferirem “intervencionado” pelo governo.
É evidente que a taxa de juros está alta, 14,25 pp, mas ainda baixa para o atual cenário que o Brasil se encontra, não que o aumento da taxa viesse a aliviar a pressão inflacionária como já tenho referido, pois o consumo encontra-se retraído pela diminuição do rendimento disponível e a falta de confiança.
Quem em sã confiança pode levar este governo a sério?
O aumento da taxa que defendo, não é de hoje, tem somente a ver com dois factos, um facilmente aceite e outro bastante discutível.
O primeiro é por causa do risco Brasil ter aumentado e como o país precisa do capital especulativo, tem que pagar prémios maiores para tentar atrair investimentos ou pelo menos manter os existentes, isto deriva pela falta de confiança e pelos sucessivos downgrades, ao qual já incluo o da Moody’s, até porque acho que esse Downgrade que falta já pouco impacto terá, os grandes fundos de pensões e seguradoras já terão retirado a maior fatia do seus investimentos do Brasil, até porque nos seus estatutos exigem duas notações de bom pagador, dentro das três principais agencias mundiais, caso que o Brasil já não tem (perdeu como sabem a notação de bom pagador da S&P e da Fitch, restando só perder a da Moody’s).
O segundo é que a baixa da taxa Selic só teria impacto relevante no aumento do consumo se fosse uma diminuição muito acentuada, na ordem dos 5 a 6%, ou seja, se a taxa descesse para um patamar na casa dos 8%, e mesmo assim tenho muitas dúvidas sobre a sua real eficácia no atual cenário macroeconômico, até pela retração da banca em conceder empréstimos face ao aumento do risco de inadimplência, o que tem levado o Brasil a ter um dos maiores spreads cobrados do mundo.
Este governo neste atual cenário e na sua falta de vontade de corrigir a trajetória da degradação das contas públicas do país tornou-se no pior inimigo do Brasil.
A base de uma economia forte assenta essencialmente na estabilidade e sustentabilidade das suas contas públicas e pelo seu grau de confiança, coisa que neste momento não existe, onde a tendência da sua maior degradação é um facto, senão uma realidade.
Também é um fato que o saldo balança comercial tem dado algum alivio, em relação ao fluxo cambial, não vou discutir se as projeções de 35 bilhões de saldo positivo são otimistas ou não, o que é fato é que está a contribuir para fluxos cambiais positivos, em 2015, fechou acima de 9 bilhões.
Resta saber se em 2016 continuará positivo o fluxo cambial, suporte das nossas reservas cambiais, que nos dão alguma tranquilidade e confiança e asseguram alguma flexibilidade no modo de atuação do BC, pois o que pior que poderia acontecer ao Brasil era juntar-se a este cenário político e econômico, uma degradação acentuada das nossas reservas cambiais não compromissadas (retirando os SWAPs e os leilões de linha).
Relativamente a cotação do dólar, continuo a achar que o BC deve manter a sua cotação abaixo dos R$ 4,00, e mesmo assim face a necessidade do controle da inflação, esse valor está alto, a sua cotação de equilíbrio e atrevo a dize-lo deveria estar entre os R$ 3,50 a R$ 3,70.
Agora o que vai determinar a cotação do dólar vai ser o BC e o mercado, se o BC continuar a ter meios de intervenção por um período longo, deverá manter a sua atuação, caso contrário se for o mercado a determinar mais a sua cotação, seguramente a projeção dos analistas e economistas na cotação do dólar no fim 2016 de R$ 4,50 a R$ 4,70 até poderá pecar por defeito, podendo mesmo ir bastante acima dos R$ 5,00, o que pressionaria fortemente a inflação.
A projeção do boletim Focus, que aponta para a cotação do dólar no final de 2016, a R$ 4,20, até pode ser tangível, dependendo dos meios e da vontade que o BC tenha para atingir essa meta.
Relativamente a inflação para 2016, já também o tenho referido, não irá de forma alguma convergir para a meta, e pelos primeiros sinais corre o risco forte de terminar em 2016 novamente acima dos 10%, ou pelo menos perto disso.
O panorama global para 2016 está a degradar-se acentuadamente ao que estava projetado, e a recuperação em 2017 já parece uma miragem.
Isto tudo e muito mais que poder ia-se dizer-se, resume-se a esta afirmação:
O Pior Inimigo do Brasil Neste Momento e no Passado Recente É o Seu Próprio Governo, Só Não Vê quem Não Quer.
Tenho Dito.